• Carregando...
Viaturas, agentes armados – uniformizados e à paisana – e cachorros serão utilizados dia e noite, não se sabe até quando. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Viaturas, agentes armados – uniformizados e à paisana – e cachorros serão utilizados dia e noite, não se sabe até quando.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A Rua São Francisco é miúda em dimensões físicas, mas são enormes sua importância sociocultural e os debates em torno dela.

Os últimos capítulos da principal novela das ruas curitibanas envolvem o adiamento de uma ação cultural por falta de segurança – o espetáculo ReverberAções Gilda Convida iria acontecer no último dia 25 – e uma consequente ação pontual da Guarda Municipal, que anunciou uma operação constante na região na última segunda-feira (27).

O objetivo é levar “tranquilidade e ordem”. Viaturas, agentes armados – uniformizados e à paisana – e cachorros serão utilizados dia e noite, não se sabe até quando.

Grupo de trabalho discute o tema

A presença constante da Guarda Municipal na Rua São Francisco é uma das ações de um grande grupo de trabalho da prefeitura para a região

Leia a matéria completa

Os comerciantes da viela de paralelepípedos são testemunhas do que se passa ali. Parte deles entrou em contato com a prefeitura para reivindicar mais segurança. Brigas, afinal, estavam se tornando tão comuns quanto as bitucas de cigarro jogadas no chão. “Isso nos deixava agoniados”, diz Patrícia Bandeira, proprietária do Negrita Bar.

O pessoal que frequenta a rua reclama que a barra está pesada, mas também reclama da ação da polícia. Toda ação tem uma reação. Não é o momento de ‘sanitarizar’ a São Francisco porque a periferia entrou nela.

Patrícia Bandeira, proprietária do Negrita Bar.

A pedido da prefeitura, o estabelecimento decidiu fechar mais cedo. Mas os problemas continuaram. Hoje, o bar baixa as portas à meia-noite durante os dias de semana. E meia-noite e meia aos sábados e domingos.

Ocupação em prédio apimenta discussão

Um prédio comercial de cinco andares, ao lado da Praça de Bolso do Ciclista, está ocupado ilegalmente desde o início de 2015 pela Ocel – Ocupação Cultural e Residência Artística

Leia a matéria completa

“Mas a galera fica até às 3 horas e aí?”, pergunta Patrícia, que aprova a ação da Guarda, se não houver confronto. “Não vamos tolerar violência de nenhuma parte.”

Fábia Mariela, proprietária do restaurante Canto do Caita, afirma que a situação é grave na São Chico. “Há traficantes de drogas mesmo durante o dia e à noite se tornou perigoso”, diz.

Quatro

Na ação de agentes de segurança, quatro pessoas foram detidas na Rua São Francisco até a última quinta-feira (30), de acordo com a Guarda Municipal. Três por porte e uso de drogas e uma porque era procurada pela polícia.

Junior Santos, gerente do Brooklyn Coffee Shop, reitera que o momento é delicado. “A partir do momento em que traficantes começaram a frequentar a rua, mudou tudo. Presenciei diversas brigas depois disso”, conta. Santos acompanhou a ação da Guarda Municipal durante a semana passada. “Foram seis viaturas, cachorros, policiais armados. Um pouco exagerado, talvez”, diz.

É ponto pacífico entre os comerciantes, moradores e frequentadores que, desde o início do ano, há outro público na São Francisco – que, apesar da fama, é uma rua como qualquer outra, livre e pública. Mas o papo é complicado, daqueles de fazer comentaristas de internet coçarem as mãos. “A maioria do pessoal que começou a frequentar a região desde janeiro não faz questão de interagir com quem mora ou trabalha ali”, diz Patrícia Bandeira.

O perfil do “novo público”, facilmente perceptível e reforçado pela opinião dos entrevistados, é de jovens, muitos deles ligados ao movimento hip hop. “Até parece reacionário dizer isso, mas, infelizmente, existem pessoas que não sabem usar a rua sem trazer problemas”, diz Patrícia.

Se ações pontuais contra a violência podem trazer efeitos pontuais, o que parece renascer de maneira mais clara é o eterno embate entre periferia e centro pela disputa do espaço público. O que, na opinião de José Guilherme Magnani, autor do livro Da Periferia ao Centro: Trajetórias de Pesquisa em Antropologia Urbana, é saudável. “Em última instância, essa discussão é um exercício prático de cidadania”, afirma Magnani.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]