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Quatro anos depois de uma espécie de volta à cena com o surpreendente Recanto (2011), álbum experimental dirigido e composto por Caetano Veloso, Gal Costa escolheu seguir na trilha contemporânea com seu novo disco, Estratosférica, recém-chegado às lojas.

Novamente na companhia de Kassin e Moreno Veloso, que participaram do disco anterior, desta vez a musa da Tropicália foi buscar em compositores que nunca havia gravado a matéria-prima para o novo trabalho, que deveria conter a “estranheza” e o componente de ruptura de Recanto. Mas sem repeti-lo.

Seu guia na busca de repertório foi o jornalista e produtor musical Marcus Preto, que levou mais de 150 canções até Gal. “Ele foi pedindo músicas aos compositores que conhecia, que gostava. Eles foram mandando suas músicas e nós fomos ouvindo, analisando, escolhendo o repertório final”, conta Gal, em entrevista por e-mail.

O resultado é um disco novamente inquieto e contemporâneo, mas com uma pegada mais pop e palpável para um público para o qual o ótimo Recanto, talvez, tenha soado muito árido. E uma obra de uma artista que, quase 50 anos depois de protagonizar um dos capítulos mais importantes da música popular brasileira, ainda mostra força (e disposição) para continuar traçando a “linha evolutiva” proposta por Caetano décadas atrás.

Confira a entrevista da cantora à Gazeta do Povo a respeito de Estratosférica:

Como surgiu a ideia de trabalhar com tantos compositores diferentes e inéditos em sua carreira?

Queria cantar um repertório novo, de gente jovem ou de uma geração que está há muito tempo na carreira, mas que eu não tivesse gravado. Nunca tinha cantado e gravado um geração mais nova que a minha e adorei.

Você acompanhava de perto a obra destes compositores da nova geração? Qual era sua relação com eles?

Sim. Gosto muito de ouvir música pela internet, baixar no meu celular ou no meu iPad e ouvir com fones de ouvido. Com exceção do Lira, que eu não conhecia muito a fundo o trabalho, todos os outros eu conhecia.

Quais foram suas percepções sobre o trabalho desta “nova geração” durante a escolha do repertório (que segundo o Marcus Preto reuniu 150 canções)?

Eu acho importante e interessante, principalmente, devolver a essa nova geração uma música deles gravada por mim. Eles bebem na minha fonte, assim como eu me influenciei por outros artistas quando comecei ou quando estava já no início de carreira. Eu gravei aquilo que realmente bateu, que eu gostei, sem pensar nas idades dos compositores. Eu tenho que gostar da canção para gravar.

Você tinha ideias claras quanto ao que queria para este disco quanto a sonoridade, arranjos etc? O que você queria para este disco?

A ideia foi só continuar a trilhar o caminho que Recanto seguiu. Foi um momento de renovação, de mais um salto na minha carreira. O Recanto já tinha levado um público jovem para os meus shows e para ouvir minha música. E eu quis dar continuidade a isso com o Estratosférica.

Como foi fazer este disco com Kassin e Moreno? Por que escolheu trabalhar com eles?

Kassin e Moreno participaram de Recanto. Chamei os dois por isso. Não que eu quisesse fazer um “Recanto 2”, mas porque eu gostei de trabalhar com eles. Eu não queria uma continuação. Queria um disco jovial e com uma linguagem musical que causasse estranheza e eles souberam fazer isso comigo.

Kassin tem uma pegada mais rock-and-roll, o Moreno não, apesar da cabeça aberta que tem para coisas novas. Foi uma mistura muito boa.

Recanto foi considerado uma obra de ruptura na sua carreira, já que é um trabalho de vanguarda e marcou uma espécie de retorno seu. Estratosférica faz parte deste mesmo movimento em sua carreira? O que está te movendo?

Sim. Minha carreira é movida por rupturas, por mudanças de caminho, por inovações e surpresas. E Estratosférica não podia ser diferente. É basicamente um disco com uma linguagem moderna, fresca e ousada.

DISCO

Estratosférica

Gal Costa. Sony/BMG. Preço médio: R$ 25. MPB.

Estratosférica marca seus 50 anos de carreira à sua maneira, apontando para o futuro. Além dele, estão nos seus planos celebrações de tom retrospectivo?

Não. Não encaro esse disco e não penso, por enquanto, em nada voltado para celebrar a data.

Giberto Gil disse recentemente, em uma entrevista à Gazeta do Povo , que continua sendo um tropicalista. Que, assim como Caetano, de certa forma nunca abandonou aquela linha de processamento de elementos variados do Tropicalismo. Esta identificação também existe para você? De que maneira aquelas ideias ainda fazem sentido hoje, e no seu trabalho?

Sim, me sinto ainda uma tropicalista. A prova está nos últimos dois discos que fiz: Recanto, que foi produzido por Caetano e esse disco agora, produzido por Kassin e Moreno Veloso. Acho que ser tropicalista é buscar sempre o novo, não ficar na zona de conforto.

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