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As Vacas de Stalin

Sofi Oksanen. Tradução de Pasi Loman e Lilia Loman. Record, 420 págs. R$ 50.

A escritora Sofi Oksanen faz parte de uma geração de europeus que fala sobre a história do continente de um ponto de vista privilegiado. Ela é testemunha de como era a vida na Eruopa enquanto existia a União Soviética e o comunismo e do que veio depois. Mais que isso, sua geração conviveu com pais e avós que enfrentaram a Segunda Guerra Mundial, a implantação do comunismo e a anexação das repúblicas vizinhas à Rússia. Sofi faz bom uso do privilégio que a História lhe dá.

Em "As Vacas de Stalin" ela conta a história de três mulheres da mesma família com experiências de vida bem diferentes, mas igualmente marcadas pelo contexto histórico e político de seus países. Anna é a jovem finlandesa, anoréxica e bulímica, que nasceu e cresceu cercada de conforto material e de um ambiente politicamente alienado. Sua mãe, Kathariine nasceu durante o regime comunista e mudou-se após o casamento com um finlandês. A avó, Sofia, era de uma família que resistiu ao fim da independência da Estônia e ao domínio russo e por isso sofreu repressão e deportações.

"As Vacas de Stalin" não é um romance histórico. Sofi Oksanen estrutura a narrativa em capítulos dedicados a cada uma das personagens. O fio condutor é Anna, depositária dos traumas da mãe e da avó. A vida gira em torno de sexo e de comida. Marcadas pela visão que os vizinhos do mundo ocidental tinham das mulheres "russas" (forma genérica de se referir às cidadãs das repúblicas socialistas), classificadas e tratadas como prostitutas que vendiam o corpo em troca de perfumes e meias, Kathariine e a filha escondem sua origem. Anna desenvolve uma relação doentia com o próprio corpo, obcecada que é pela boa aparência física, que garante a ela somente olhares de admiração e desejo (e não de desprezo, como ela vê nos homens finlandeses em relação às estonianas e às russas).

Já passou tempo suficiente desde o fim da queda do Muro de Berlim para se fazer um balanço do que o capitalismo ofereceu aos antigos países socialistas. Assim como é possível avaliar o quão bem-sucedidos aqueles países foram na construção da sociedade justa. No balanço implícito na obra de Sofi, nenhum dos lados se sai bem. Sob o comunismo, a opressão e o desabastecimento tornavam as pessoas mesquinhas. Sob o capitalismo, na vizinha e próspera Finlândia, há prepotência e superficialidade.

Sofi Oksanen é um nome em ascensão na literatura europeia. Seu livro de estreia, Expurgo, também foi publicado pela Record.

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