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Louis Zamperini (vivido por Jack O’Connell) morreu no ano passado, aos 97 anos, mas viu e aprovou uma versão da cinebiografia | Divulgação
Louis Zamperini (vivido por Jack O’Connell) morreu no ano passado, aos 97 anos, mas viu e aprovou uma versão da cinebiografia| Foto: Divulgação

Opinião 1: Bom

Roteiro improvável narra eventos incríveis na vida de Zamperini

Helena Carnieri

Só mesmo num filme baseado em fatos que o roteirista poderia unir uma olimpíada, um bote de náufragos e um campo de prisioneiros de guerra sem parecer um desnorteado. A vida de Louis Zamperini permite isso e ela chegou aos cinemas pelas mãos de Angelina Jolie. Invencível narra os eventos incríveis ocorridos com o americano participante da Olimpíada de 1936 e sobrevivente da Segunda Guerra.

Filho de imigrantes italianos, o garoto apelidado "Louie" foi redimido da adolescência rebelde pelo irmão, que o levou ao time de atletismo da escola e o pressionou para dar o melhor de si.

Logo o atleta mirim se destacou e bateu um recorde de corrida na categoria escolar, o que lhe garantiu uma viagem à Berlim nazista durante os jogos de 1936.

Como oficial dos EUA durante a guerra, Zamperini, ou Zamp, sobreviveu a um tiroteio aéreo; depois, à queda no mar do sucatão em que cumpre sua última missão; a um mês e meio num bote no Pacífico cercado por tubarões, tempestades, metralhadoras japonesas e desnutrição; e ao cativeiro, onde sua atitude desafiadora lhe renderia maus-tratos ainda piores nas mãos de um comandante problemático.

Toda essa possibilidade de ação é muito bem aproveitada, garantindo a Angelina Jolie uma boa continuidade em sua promissora carreira de diretora.

Há cenas demoradas de tiroteio aéreo e talvez uma incursão exageradamente longa pelo campo de prisioneiros (são 137 minutos de filme). Mas aqui a arte tenta espelhar a vida: foram 25 meses de cativeiro em solo japonês.

Um ponto positivo é a proporção conferida aos 47 dias de naufrágio, experiência que pode ser encarada como uma de quase-morte, cujo martírio ganha peso com meia-hora de filme.

O espectador sai com a estranha sensação de ter visto um filme de roteiro improvável que estaria forçando a mão para salvar o herói – e ao mesmo tempo sabendo que aquilo tudo realmente aconteceu.

Os créditos finais, que contam o que aconteceu com Zamperini, valeriam uma sequência, com direito a conversão ao cristianismo e dois retornos ao Japão em missões de perdão.

By The Sea

O próximo filme com direção de Angelina Jolie será By the Sea, em que ela atua ao lado do marido Brad Pitt. A história fala de "perdas e dificuldades específicas da vida a dois em um casamento sem filhos nos anos 1970", explica a diretora e atriz. "É muito irônico e não tem nada de superficial, mas decididamente não é um filme político".

  • Tensão entre americanos e japoneses foi explorada por Jolie

Invencível, o segundo longa-metragem de Angelina Jolie, que estreia hoje nos cinemas, é um filme de estúdio, orçado em US$ 65 milhões, com roteiro dos irmãos Joel e Ethan Coen e cenas grandiosas de batalhas da Segunda Guerra Mundial. É, também, o outro lado da moeda da primeira direção assinada pela mulher de Brad Pitt, Na Terra de Amor e Ódio (2011), passado na Bósnia, com trejeitos de filme independente, e estrelado por atores locais.

Após Invencível, inspirado na biografia do atleta olímpico e herói de guerra americano Louis Zamperini (1917-2014), virão By the Sea, em que ela e Pitt vivem um casal em crise, e África, em torno da luta para preservar elefantes no Quênia.

"Atuarei em cada vez menos filmes. Quando minha mãe morreu, em 2007, comecei a perceber que a Angelina atriz era uma extensão do desejo de atuar dela. Só segui em frente por causa de minha mãe, que ficava feliz por mim. Sem ela, o prazer no mundo do cinema foi se dissipando, até que eu descobri a direção. Invencível foi a peça final desse quebra-cabeça. Sou mesmo uma diretora de cinema", diz, solene, a filha da canadense Marcheline Bertrand com o ator Jon Voight, vencedor do Oscar por Amargo Regresso (1978).

Aos 39 anos, Jolie conta que não esperava – "honestamente" – ser escalada para dirigir Invencível, uma das apostas da Universal ao Oscar (as indicações saem hoje, mas o filme, que não foi unanimidade de crítica, é, na melhor das hipóteses, um azarão). Ela acredita ter sido percebida pela indústria mais como diretora iniciante do que realeza de Hollywood, até por causa do relacionamento complicado com o pai.

Vivido no filme pelo ótimo ator britânico Jack O’Connell, Zamperini morreu em julho, aos 97 anos, pouco antes de Invencível ficar pronto.

Filho de imigrantes italianos, ele brilhou no atletismo, chegando a disputar as Olimpíadas de 1936, serviu como aviador no esforço aliado na Segunda Guerra, passou 47 dias à deriva no Oceano Pacífico, foi capturado e seviciado, durante dois anos, pelos japoneses, e se transformou, após a rendição nipônica, em militante pacifista. Angelina esteve ao lado da família nas últimas semanas de seu biografado e chegou a mostrar ao amigo uma versão prévia do filme, que ele aprovou com louvor.

Opinião 2: ruim

Diretora simplifica história para produzir herói a qualquer custo

André Miranda, Agência O Globo

Da juventude à velhice, a vida de Louis Zamperini é retratada em Invencível com a simplicidade de um conto de fadas infantil, em que o herói passa por todos os percalços possíveis, mas segue expondo suas virtudes para impressionar os colegas com suspiros pela moral inabalada. Mas isso não é um elogio.

Além do conto de fadas – é sério, em várias cenas é possível imaginar um "Era uma vez..." entrando em cena para acompanhar os eventos narrados na história –, o longa-metragem dirigido por Angelina Jolie ainda percorre o melodrama, com direito a música ambiente para preencher os sentimentos de seus personagens e servir de trilha sonora para as lágrimas da plateia.

Ninguém duvida que Zamperini (personagem real, interpretado no filme pelo bom ator Jack O’Connell) tenha sofrido nas semanas que passou à deriva no Oceano Pacífico e nos muitos meses em que foi prisioneiro dos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Também é perfeitamente possível que o ex-atleta olímpico e então militar da Força Aérea americana realmente tenha se mantido firme em suas convicções e não cedido às torturas e ameaças que sofreu.

Mas guerras já são dramáticas por si só e não carecem da mão firme da direção, como acontece em Invencível.

A cada cena, Angelina Jolie buscou criar tensões artificiais onde apenas contar a história já bastaria.

Por exemplo, ela transforma a relação – de ódio, naturalmente – entre Zamperini e o oficial japonês Watanabe (o cantor e ídolo pop japonês Takamasa Ishihara) numa espécie de obsessão, quase uma atração reprimida.

Depois de uma boa estreia com outro filme de guerra, Na Terra de Amor e Ódio (2011), este sobre a Guerra da Bósnia, feito com atores locais e em tom mais natural, em Invencível a diretora acabou cedendo à mania de Hollywood de produzir heróis a qualquer custo.

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