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Tim e o irmão mais novo em “O Poderoso Chefinho” | DreamWorks Animation/Divulgação
Tim e o irmão mais novo em “O Poderoso Chefinho”| Foto: DreamWorks Animation/Divulgação

Afinal, quem é o público-alvo para um filme sobre um bebê tirânico (ou um tirano infantil)? Bem, talvez seja uma surpresa descobrir que o público somos nós. Apesar de sua campanha de publicidade prometer pouco mais do que uma animação sobre um bebê mandão de terno, “O Poderoso Chefinho” (adaptado do livro de 2010 da autora e ilustradora Marla Frazee) é uma história fofa de aventura sobre rivalidade entre irmãos, que, no fim, se torna um tributo comovente à família e à fraternidade.

Tim, de sete anos (dublado na versão original por Miles Christopher Bakshi) é filho único e desfruta da atenção indivisa dos seus pais. Ele tem uma imaginação selvagem, sonhando com cenários de resgate elaboradíssimos que envolvem piratas e foguetes. Mas essa vida perfeita é perturbada pela chegada de um novo irmãozinho (Alec Baldwin) que aparece não da forma tradicional, mas tendo sido enviado à Terra via um procedimento de seleção celestial que divide os recém-nascidos em dois tipos, os amorosos, mais de família, e os bebês “de gerência”, criados em cubículos e que já chegam ao mundo usando terninhos e carregando maletas.

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Da perspectiva (visivelmente enviesada) de Tim, seu irmão gerente mais novo, sem nome, aproveita as sessões de brincadeira para conduzir reuniões, fazendo ligações de negócios num telefone de brinquedo da Fisher Price (o filme se passa numa época indeterminada – talvez no começo dos anos 90 – quando havia computadores já, mas não celulares).

O Chefinho exige a completa atenção dos seus pais, o que faz com que Tim se sinta deixado de lado e é o que transforma “O Poderoso Chefinho”, que então deixa de ser um filme de uma piada só para se tornar uma história mais profunda, com maior ressonância universal. Afinal, quem entre nós – mesmo quem é filho único – não sentiu já essa pontada de abandono e rivalidade fraterna em algum ponto?

Tim e seu irmãozinho se veem envolvidos numa rivalidade amarga até que o Chefinho revela a missão secreta importante na qual ele está trabalhando, que visa combater o que o filme postula como sendo a maior ameaça ao monopólio que as crianças têm sobre o amor dos pais: cachorrinhos.

Cultura pop

Apesar de o traçado dos personagens do filme ser, em sua maior parte, indistinto, os vívidos cenários de fundo são inspirados por livros pop-up e pela decoração excêntrica da metade do século passado. O roteiro (de autoria de Michael McCullers, de ambas as sequências de “Austin Powers”) conta com referências de cultura pop que vão desde “Teletubbies” até “Apocalypse Now”, e o conceito futurista de animação das companhias rivais do filme – a Baby Corp. e a Puppy Co. – impressiona.

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Porém, o que acaba sendo o motor do filme no fim é a sua relação central, uma dinâmica fraterna que, por mais que tenha como base um faz de conta de imaginação infantil, consegue ser mais convincente do que muitas comédias familiares em live-action. Apesar de as aventuras corporativas de “O Poderoso Chefinho” serem claramente produto de uma imaginação infantil hiperestimulada, as lições do filme – sobre como Tim e o Chefinho devem aprender a lidar um com o outro – são muito válidas.

O diretor Tom McGrath (de “Madagascar”) atinge um equilíbrio delicado entre humor e sentimento, nunca perdendo de vista a realidade emocional que alimenta a fantasia infantil. Inventivo e tocante, “O Poderoso Chefinho” é um filme muito mais adulto do que parece.

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