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Emma Stone: “vazia no filme” | /Divulgação
Emma Stone: “vazia no filme”| Foto: /Divulgação

Quando ‘La La Land’, filme com Ryan Gosling e Emma Stone, ganhou elogios quase universais da crítica no final do ano passado, sendo chamado de um delicioso resquício dos musicais clássicos de Hollywood, já dava para ouvir a contagem regressiva - quando começaria a reação contrária ao filme?

É difícil apontar quando o “Nossa, você precisa ver ‘La La Land’” se tornou “Pois é, ‘La La Land’ não foi tão incrível assim”. Mas parece que quanto mais gente vê o filme, mais a opinião pública se volta para a segunda opção. Não que isso realmente importe: o musical já recebeu sete Globos de Ouro e foi indicado para 14 categorias no Oscar, empatando com ‘Titanic’ e ‘A Malvada’ com o maior número de indicações na história do prêmio.

As reações opostas à La La Land devem ter atingido seu pico no penúltimo fim de semana, quando o programa televisivo Saturday Night Live exibiu uma sátira: um homem (interpretado por Aziz Ansari) que é levado para a delegacia por ter achado que o filme era decente, mas um pouco chato. “‘La La Land’ é um filme perfeito!”, grita uma policial interpretada por Cecily Strong. “Ryan Gosling não aprendeu a tocar piano só para um idiota como você ficar reclamando!”

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Similar ao quadro “Beygency” do mesmo programa, em que um cara é perseguido por achar que a Beyoncé é muito boa ao invés de extraordinária, as manifestações calorosas a ‘La La Land’ — e se são merecidas — se tornaram uma piada. Aqui está um guia para entender essas reações, incluindo os maiores problemas que as pessoas veem no filme:

1 - O filme é um pouco bobo.

“Eu achei que tinham muitas montagens no meio”, diz o personagem de Ansari na sátira, também admitindo que ele quase dormiu. A policial de Strong não fica feliz: “É assim que se mostra a passagem do tempo, seu burro”, grita. Mas ele não está totalmente errado. O filme, que narra a história de amor entre Sebastian, um músico que ama jazz, e Mia, uma aspirante a atriz, fica mais lento quando os dois se dedicam mais às suas respectivas carreiras. Como o jornal The Observer colocou, “o filme tem um pouco sobrando no meio, como um lençol muito usado que precisa de elásticos novos. Meses de separação têm um efeito desgastante na trajetória do filme, enquanto o espectador espera pacientemente que algo leve a trama adiante”.

2 - Gosling e Stone não são dançarinos excepcionais

Claro que os dois são atores talentosos, mas quando falamos de cantar e dançar eles não se comparam com as estrelas dos musicais de Hollywood com os quais o filme está sendo comparado. “O diretor Damien Chazelle citou ‘Cantando na Chuva’ como uma inspiração para o queridinho de 2016”, escreveu o site Refinery29. “Mas a Emma Stone não é a Debbie Reynolds”.

Mas alguns críticos parecem não se importar: “nenhum dos dois é um cantor ou dançarino muito talentoso”, disse Ann Hornaday em sua crítica no Washington Post. “Mas isso quase não importa em um filme que os levanta como se eles fossem levados como redemoinhos: eles têm a graça não forçada de intérpretes naturais, o que acrescenta uma ligeira despreocupação aos passos deles”.

3 - A questão do Jazz

O personagem de Gosling, Sebastian, sonha em salvar seu gênero favorito, que ele sente que está desmoronando. Compositores têm, porém, sérios problemas com a maneira com a qual o jazz é apresentado no filme. O site Vulture diz: “‘La La Land’ não tem a mínima ideia sobre o que de fato está acontecendo com o jazz”. Já a Slate afirma que “‘La La Land’ pode ser um ótimo filme sobre sonhos, mas é uma pilha de clichês sobre jazz”.

4 - A questão do ‘salvador branco’

Sebastian foi criticado pela sua visão como branco do jazz, um gênero que começou na comunidade negra. “Se você quer fazer um filme sobre um artista se mantendo fiel às raízes do jazz e sendo contra as esquisitas e modernas reinvenções do gênero (de artistas brancos como Mayer Hawthorne), você deveria achar que o artista seria negro”, postou o MTV News.

A sátira do Saturday Night Life também traz essa questão, e a policial responde que John Legend (que é o amigo músico de Sebastian) e outros personagens secundários são negros, então caso encerrado.

5 - A narrativa do filme para entrar na temporada de premiações

O site Spin compara ‘La La Land’ com Taylor Swift — os dois se apresentam como coitados quando na realidade são mais poderosas que a maioria. A narrativa de ‘La La Land’ se desenvolveu ao redor do fato de que ninguém queria fazer o filme por ser um musical — um negócio arriscado em Hollywood.

Muitos apontaram, porém, que os musicais são bem populares nos últimos tempos, tanto no cinema como na TV. “O jeito que teceu a narrativa para o Oscar pelo menos nos mostra os privilégios de se promover um filme como ‘La La Land’, particularmente a ingenuidade fingida e desastrada de — ops — tentar a glória do Oscar”, acrescenta o Spin.

6 - A personagem de Stone

O filme examina profundamente a carreira e as aspirações de Sebastian e faz um retrato com mais nuances da jornada dele do que de Mia. O New Yorker disse que o diretor Chazelle “transforma a Mia em uma cifra, dando a ela nada sobre o qual falar. Chazelle está interessado na Mia não como uma pessoa ou personagem, mas como um ornamento, um símbolo de um tipo de sonho e um tipo de sucesso, colocando-a de forma vazia no filme, para ser preenchida somente pela personalidade e talento de Stone”.

7 - A personagem de Gosling

Alguns acham ele e sua obsessão com jazz insuportáveis; o jornal The Guardian o considera “os piores encontros que você já teve”, adicionando que ele é “um esnobe do jazz, que responde para uma mulher que diz odiar jazz que ela está errada e a levando para um clube de jazz em todos os encontros depois disso. Ele também é um idiota”.

8 - As pessoas amam (ou odeiam) o filme pelos motivos errados

Então, as pessoas de fato odeiam ‘La La Land’ ou o filme apenas cometeu o pecado mortal de se tornar popular demais, principalmente depois da rodada do Globo de Ouro? “É muito menos um esnobismo do que é a lógica da internet: qualquer filme, livro ou álbum que receba elogios quase universais se torna um ímã para uma pegada diferente de comentadores online ou reinterpretações afiadas de acadêmicos e críticos sérios”, teorizou a revista eletrônica Salon.

Ou a resposta positiva foi um reflexo de 2016, um ano que pareceu um pesadelo, e as pessoas estão tentando escapar da realidade? “O apoio que ‘La La Land’ recebeu de críticos e premiações fala mais sobre a vontade de se ter um filme como ‘La La Land’ que a própria eficiência do filme”, afirma o site Spin. E acrescentam: “visto em tempos menos apocalípticos, eu suspeito que suas qualidades escapistas desapareceriam”.

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