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Tom + Amor olha para o céu de Curitiba: arte na rua é surpresa urbana | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
Tom + Amor olha para o céu de Curitiba: arte na rua é surpresa urbana| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Sangue frio do surfista de onda grande. Ginga de capoeira. Tom + Amor se equilibra em uma corda bamba imaginária, no alto do telhado do bar La Boca, no bairro Mercês. No fim de uma tarde de sábado, ataca a parede com o corpo todo. Como um toureiro. Uma dúzia de cores na paleta de latas de spray.

"A arte na rua é a surpresa. Ela é mais bonita quando surge de onde menos se espera, espontânea. Cria este sentimento comum, de saber curtir. De celebrar a vida", diz.

"O cara que chega dali [aponta a esquina da Padre Agostinho com a Visconde do Rio Branco] tem um susto bom, descansa de tanto individualismo, tanta sacanagem", filosofa, com sotaque catalão.

Eu só consigo concordar. Herdeira da manifestação artística primordial, a arte de rua é uma das coisas de que realmente gosto neste nosso tempo confuso. Uma das poucas formas ainda possíveis para reconquistar o espaço comum das pessoas com bom gosto. Conheço muita gente boa, que estuda o tema a fundo e que sempre termina me convencendo da legitimidade da pichação como manifestação social (que muita gente abomina, também com razões sólidas).

Eu até entendo, mas confesso que não me pega. A pichação pra mim é feia, triste, predatória e autorreferente. Sou muito mais a arte esperta, de mensagem bem-humorada do grafite urbano. "A vida das pessoas é colorida. A política é que é cinza", resume Tom + Amor.

Tomas é o irmão mais novo da família Presas. Único nascido no Brasil do clã portenho radicado em Curitiba. Impossível não mencionar os Presas quando se fala de publicidade e da comunicação na cidade – na academia ou no mercado – nos últimos 30 anos, pelo menos.

Ainda é o "Magrão" para os velhos parceiros de rolês na pista do Ambiental; cimento sagrado onde deixou seus primeiros grafites – e o couro das primeiras escoriações.

Tom desde sempre trabalhou com um lápis (ou um pincel, uma lata de spray, um rolinho, um pedaço de carvão ou giz...) na mão. Desenhando. Ilustrando sentimentos bons e seres alados. "É que eu sempre sonho que estou voando", explica.

Na virada do século, foi para Barcelona passar três meses. Ficou 11 anos. Era a colorida e empolgante "Barça do ano 2000". O porto-esperança, espécie de Ítaca para artistas e malucos do mundo todo. No primeiro dia por lá, começou a pintar na rua mandando sua mensagem de "+ amor".

Paredes, murais e performances. Teve galeria de arte, colaborou em coletivos, como o famoso Ovejas Negras, fez amigos e um nome. Era o cara que todo artista curitibano procurava quando ia também tentar a sorte na Catalunha.

Pintou a cidade inteira. Primeiro como Tom 14. Depois com a assinatura que virou seu nome de guerra na única batalha que para ele vale a pena lutar: "Menos ego e mais amor, porra!"

A Catalunha porém, já não é mais o que era. Lei de tolerância zero. Caretices e não podes. Velhos bairros industriais, galpões, muros indo para o chão. Os ventos mudaram. Depois de uma passagem pelo México, Tom + Amor voltou para o Brasil. Vive entre Floripa e Curitiba.

Lá, ele trabalha e cria "no meio do mato" os dois filhos pequenos. Uma daquelas famílias que sabem viver com pouco. Surfe, bike, peixes, ostras e mariscos. Uma horta completa no quintal.

Aqui, ele aparece, geralmente, para pintar com os velhos camaradas. "Sempre uma alegria enorme pintar em casa com a família por perto, com toda história de cada esquina, de tantas lembranças."

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