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Cecília Castro, madrinha de bateria da Acadêmicos da Realeza | Eduardo Belz / Divulgação
Cecília Castro, madrinha de bateria da Acadêmicos da Realeza| Foto: Eduardo Belz / Divulgação

O meu artigo da semana passada sobre duas formas diferentes de carnaval em Curitiba, o Psycho Carnival e o Garibaldis e Sacis, causou certa confusão. Algumas pessoas leram apenas o título ("O carnaval de Curitiba é um horror"), que se referia tão somente ao desfile de zumbis do Psycho Carnival, e acharam que eu estava menosprezando o carnaval de rua da cidade. Então, faço esta nova coluna para tentar me redimir.

A mídia, da qual faço parte, é composta, em sua maioria, por pessoas da classe média – "as elite", como diria o ex-presidente Lula –, que tem lá seu preconceito para com o samba e o carnaval de rua de Curitiba. Sempre o mostramos pelo lado negativo, depreciativo em uma comparação descabida com os grandiosos desfiles de Rio e São Paulo. Essa comparação impede que sejam retratados os verdadeiros sentimentos que movem as pessoas ligadas às escolas. O amor pelo samba, pela representação cultural do carnaval, pela festa carnavalesca, pela composição, pela dança. A comparação e o preconceito obnubilam (jamais pensei que escreveria esta palavra aqui) a alegria do carnaval de rua de Curitiba.

Sabe quanto a Fundação Cultural de Curitiba repassa de verbas para as escolas de samba e blocos carnavalescos da cidade? Menos de R$ 150 mil. Não, não é que cada uma das escolas e blocos vá receber R$ 150 mil. Esta é a quantia total distribuída para as associações carnavalescas que vão à Avenida Cândido de Abreu.

As quatro escolas de samba do grupo A, o principal, recebem R$ 26.500,00 cada uma. As escolas têm aproximadamente 200 componentes cada, o que, na divisão, dá uma média de R$ 132,50 por componente. Outras duas do grupo B – por sinal, as duas de Pinhais – recebem R$ 19 mil cada uma. Por fim, um bloco que desfila na abertura do sábado de carnaval recebe R$ 2,5 mil.

Isso significa que juntando tudo o que a Prefeitura de Curitiba repassa, não pagaria nem a fantasia de um destaque de escola de samba do Rio ou de São Paulo. Portanto, nada de comparações. Não há como querer comparar o nosso desfile com os deles, milionários. O carnaval de Curitiba tem de achar o seu próprio caminho e sem depender tanto das verbas da prefeitura.

O povo que faz as escolas e os desfiles de rua é criativo, batalhador e persistente. Não fosse assim, esse tipo de carnaval da cidade já teria acabado. Os que gostam de samba e carnaval resistem e, com muito trabalho, oferecem um espetáculo digno a cada ano. Pobre, é certo, mas digno. E apreciado por dezenas de milhares de pessoas.

Apoio oficial não precisa ser apenas dinheiro. Oficinas criativas, concursos de sambas, apresentações em praças públicas, shows com ritmistas e compositores. Intercâmbio com o Conservatório de MPB de Curitiba e com outras escolas de samba do Paraná e do Brasil também são formas de incentivo. Isso não é novidade e vem sendo feito em diversas ocasiões, com mais ou menos sucesso. Deve ser retomado como um projeto contínuo.

Não é preciso falar mal dos outros estilos para valorizar aquele do qual se gosta mais. Na semana passada mostrei dois eventos com estilos diferentes que acontecem durante o carnaval curitibano, o Psycho Carnival, com o psychobilly e o rockabilly, e o Garibaldis e Sacis, que toca samba, maracatu, jongo, umbigada, marchinhas e outras formas de cultura popular. Vamos somar forças no carnaval curitibano. Meu sonho é ver os zumbis desfilando junto com as escolas de samba, os rocabillys e as pin-ups batucando samba na mesa do bar com os passistas e as rainhas de bateria. Mas também quero ver as rainhas, ritmistas e passistas desfilarem no Garibaldis e Sacis. Eu quero é misturar tudo. Quanto mais, melhor.

Esta coluna é dedicada à Cecília Castro, madrinha de bateria da Acadêmicos da Realeza, esta moça aí da foto, que primeiro chamou minha atenção para o preconceito contra o carnaval curitibano.

Viva o carnaval de Curitiba em todas as suas vertentes!

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