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 | Ricardo Humberto/ Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/ Especial para a Gazeta do Povo

A partir desta semana este espaço vai tratar mais de literatura, tradução, livros, em geral. Bom… eu estou neste momento (com duas blusas, calça de plush, meia de lã, pantufas e gorrinho vermelho!) escrevendo no nosso “escritório” aqui em casa, em meio a coisa de 3000 livros… Como é que ia escapar desse assunto?

Nessa semana sai “Cidade em Chamas”, turbulento romance de estreia de Garth Risk Hallberg. Em mais de mil páginas, o livro toca a vida de dezenas de personagens, girando especialmente em torno da Nova York dos anos de 1976 e 1977. A cena pré-punk da época, o caos de uma cidade que estava quase falindo (de verdade), a ascensão dos conglomerados imobiliários que enriqueciam em meio à miséria, o famoso blecaute de 77, tudo isso gera um belo de um romanção de panorama, com uma intriga policial no meio, um pouco de teoria da conspiração à la Thomas Pynchon, histórias de amor, adultério, traumas, violência. Tudo isso e mais um pouco.

E esse pacote todo embrulhado numa prosa de primeiríssima, de um autor que simplesmente sabe tudo do funcionamento do romance. (Se a prosa não te parecer de primeiríssima há de ser culpa do tradutor).

O livro recebeu o adiantamento mais polpudo da história do mercado editorial americano, pra um estreante. Dois milhões de dólares (sim: isso antes de o livro estar “pronto”).

Mas a recepção nos Esteites foi ambígua. Michiko Kakutani, a papisa da crítica de imprensa americana (sempre quis chamar alguém de papisa), adorou com estrelinhas. Mas as vendagens parece que decepcionaram um pouco, e alguns resenhistas viram problemas no livro.

Noves fora, o pobre do Hallberg parece que está pagando o preço de terem levantado demais as expectativas pra um primeiro romance. Que, afinal, é um belo livro.

— Ah, é, Caetano? É mesmo?

— Opa.

— Mas quem foi que te garantiu?

— O tradutor: eu.

— Mas e as tais críticas?

— Olha, eu até entendo de onde elas vêm. Quiseram fazer parecer que ele era a maior coisa desde o pão fatiado. Que era Pynchon, DeLillo e Wallace, reunidos e superados. E não é esse o caso.

Mas, pô, entre esse lugar meio inatingível e o campo onde pastam os “maus romances”, tem muito território. E “Cidade em Chamas” está bem acomodado nas pradarias por onde saltitam os romances de se ler empolgado, de virar página vidrado.

Hallberg vai mudar a literatura americana?

Com esse livro, não.

Mas eu não deixaria de ficar de olho nele. Afinal, num mundo que endeusou “O Pintassilgo”, de Donna Tartt (traduzido por uma aluna minha!), este “Cidade em Chamas” devia estar no topo de qualquer panteão.

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