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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

Dia desses a Sandra (sempre ela) descobriu um documentário legalzão chamado “Hypernormalisation” que, se eu tivesse cacife, comentava melhor aqui. É toda uma leitura das últimas quatro décadas da geopolítica mundial.

Recomendo pacas.

Tem um momento, no entanto, em que o filme fala de ELIZA, um programa desenvolvido no laboratório de inteligência artificial do MIT, na segunda metade da década de 60. Naquilo que hoje nos parece tipo o paleolítico superior dos computadores, ELIZA era uma interface de texto que se anunciava como um psicanalista informático. (Doido pensar nisso, mas o primeiro registro do adjetivo “informático” em português é de 1962.)

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O programa era uma “piadinha”, concebida por Joseph Weizenbaum. A piada consistia no fato de que ELIZA fundamentalmente repetia, em forma de pergunta, o que a pessoa tinha afirmado.

Uma das primeiras pessoas a testar a psicanálise de ELIZA foi a secretária de Weizenbaum. Ela, depois de poucos minutos sentada com a máquina, virou-se pra trás e perguntou se o professor teria a bondade de sair da sala. Estava tocada.

Ela, note-se, SABIA que se tratava de uma farsa, de uma brincadeira para demonstrar, naquele momento a “fragilidade” da noção de comunicação entre homem e máquina. E mesmo assim passou por uma conversa significativa com a farsa.

O que isso quer dizer?

ELIZA estava muito, mas muuuuito longe de passar no que veio a se chamar de Teste de Turing, onde computadores tentam se passar por um interlocutor humano. Era um programa tosco. Singelo. ELIZA era uma piada.

Adam Curtis, o diretor do documentário, comenta rapidamente que o sucesso de ELIZA (não foi apenas a secretária de Weizenbaum que gostou da brincadeira) se devia ao fato de que as pessoas querem no fundo conversar com versões de si mesmas.

Não sei não…

Uma versão de mim mesmo não repete como perguntas as minhas falas. Ela diz “É: eu sei.” Ela não questiona; ela concorda. Ela não repete; espelha.

Um colega meu é filho de analista. Ele uma vez me disse que sua mãe acha que as pessoas hoje fazem tanta análise simplesmente porque não conversam entre si.

ELIZA era essa conversa.

Mais ainda, ELIZA era a versão destilada do que as pessoas chamam de um “bom ouvinte”. Não “apesar”, mas precisamente porque não tinha o que dizer. Ela só queria te fazer falar mais.

ELIZA era poderosa porque era vazia: desinteressante.

P.S.: deu curiosidade? Procure “elizabot” no Google. Ela ainda está atendendo.

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