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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

Eu sempre ouvi muitos tipos de música. Fiz conservatório e tive banda de rock. Toquei blues e toquei jazzinho com amigos… Só que depois, sei lá, tipo dos 35, eu tenho tido uma imensa dificuldade de ouvir qualquer coisa que não seja música clássica. Mais recentemente, depois dos 40, o jazz está ameaçando voltar pro meu setlist. Mas mesmo assim aos poucos.

Eu praticamente só ouço música pop, e mesmo rock, no carro. No rádio. E quase só quando estou acompanhado. Não preciso ficar impondo o meu estreitamento musical a todo mundo.

Com a minha filha tende a ser roquenrol. E dia desses a gente estava ouvindo Rage Against the Machine.

E eis que o texto de hoje será uma ode aos meninos.

Por que, pera lá, eles podem parecer uma banda tosca e barulheira. Eles podem ficar perdidos por trás de rótulo de banda “de protesto”. Mas eles são finos, musicalmente!

Me deu uma felicidade bater cabeça no carro aquele dia!

Pense bem.

Pega lá uma “faixa” (ê, veiêra!) tipo “Snakecharmer” do álbum (rsrsrs) “Evil Empire”. Ouve bem.

E repara que, acima (ou por baixo) da gritaria, os caras são uma cozinha funqueira-jazzística fina! (Aliás, a gurizada que tem banda ainda fala “cozinha”?). E é sutil. Acredite em mim.

Primeiro veja lá que a bateria (que já dá a cara da abertura) é tocada (e GRAVADA!) como uma bateria de jazz! Microfones próximos, som de pele, quase som de madeira, e uma pegada em geral leve. E uma suingueira danada. E a bateria é mixada em geral mais alto que o resto todo. A grande manha do Led Zeppelin, aliás.

O jeito de eles usarem o baixo merecia um capítulo à parte. Nunca é simples. Nunca é só cozinha. Da sonoridade (distorcida, alterada por efeitos, limpa…) à costura com a guitarra, tudo varia. Ele pode ser uma segunda guitarra, uma segunda bateria, carregar a condução da música nas costas ou ser um ornamento…

E o guitarrista, bom… o cara virou mito, já, né? E vejam que nessa música nem tem grandes invenções sonoras. Ele funciona mais como mais uma peça da engrenagem funqueira. Parece The Meters, aquele tipo de groove em que cada peça é fundamental. Tire a guitarra e o ritmo cai.

Tudo bem que eu falei que não tinha invenções (ele é o cara que tira os barulhos mais estranhos de uma guitarra) justo na música em que o solo parece ser tocado pelo espírito de uma guitarra assassinada num experimento de um cientista maluco… Ou o grito de uma alma penada que prendeu os dedos na porta, como diria o David Foster Wallace.

E, pô, mesmo a gritaria deles pelo menos não é aquela coisa meio triste do metal de verdade, tipo voz de urso retardado. É só um cara puto (por elevados motivos políticos!).

Aiaiaiai..

Me deu uma satisfação.

Porém. Ai, porém, dirá você, leitor atento.

“Evil Empire” é de 1996. É mais VELHO que a minha filha…

Será que mesmo essas epifanias de roquenrol eu só vou conseguir com a música “do meu tempo”…?

Pior que às vezes dá saudade…

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