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 | Ilustração: Ricardo Humberto
| Foto: Ilustração: Ricardo Humberto

Seja por um desejo autêntico de recuperar a possibilidade da fraternidade linguística absoluta, seja por motivos mais singelos ou até, digamos, grotescos, a gente vem inventando idiomas artificiais há bastante tempo.

De um lado tem as línguas “filosóficas”, que lá no século XVIII pretendiam acabar com o elemento de “caos” da estrutura das línguas humanas. De outro fica a empreitada utópica das “línguas universais”, cujo exemplo mais famoso é o Esperanto, criado em 1887 e falado hoje talvez por dois milhões de pessoas (o que leva um amigo meu a dizer que se trata sem sombra de dúvida da língua universal menos falada do universo…).

Mas não fica por aí, existem até projetos antiliguísticos, como o Solresol, de 1827, todo baseado apenas em notas musicais. E o que dizer das versões simplificadas de idiomas pré-existentes? Talvez a mais bem sucedida seja o Basic English, de C.K. Ogden, elaborado em 1936 e hoje um dos idiomas da Wikipédia.

Em tempos mais recentes, esse universo da criação linguística passou a contar com coisas como as línguas criadas apenas para projetos de ficção, seja no caso do universo de O senhor dos anéis, de Tolkien, seja no do Klingon, de Jornada nas Estrelas, criado para ser a língua mais feia e mais difícil do universo, e que segundo algumas estimativas teria hoje cerca de 30 falantes fluentes…. ou até no caso do Dothraki, de Game of Thrones, desenvolvido por um linguista a partir de frases isoladas presentes nos livros originais…

Mas o que me interessa hoje é um outro projeto, mais atípico.

O Toki Pona, divulgado em 2014 por Sonja Lang.

Porque todas as outras línguas que eu mencionei foram criadas pra dar conta de fazer tudo que os idiomas naturais já fazem. Ou, em alguns casos, até pra fazer MELHOR.

O Toki Pona é diferente.

Ele foi criado pra ser a língua mais simples do mundo. São nove sons consonantais e cinco vocálicos. Pra você ter uma ideia, isso, no total, é menor que o número só de vogais numa língua como o dinamarquês.

Toda a estrutura da língua foi enxugada ao máximo. As palavras podem ser verbo, substantivo e adjetivo, sem mudar de forma.

Mas o mais diretamente chocante é que o Toki Pona usa apenas 120 palavras.

Mas como é que eu vou dizer tudo com 120 palavras! Um idioma “normal”, de uma sociedade desenvolvida, usa milhares de palavras!!

E é bem essa a ideia. Algo inspirada na filosofia zen, Lang quis não apenas criar um novo idioma, mas propor uma espécie de exercício de desapego.

Será que a gente consegue viver, falar, pensar, com “menos”?

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