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 | Osvalter Urbinati
| Foto: Osvalter Urbinati

Três novos discos de bandas curitibanas estão ou estarão aí, prontos para o consumo ou apreciação. A Gentileza saiu do limbo com “Nem Vamos Tocar Nesse Assunto”, álbum lançado seis anos depois do primeiro registro. A Esperanza, semana passada, divulgou “Z”, terceiro trabalho da carreira. E a Lemoskine prepara, para o próximo dia 20, “Pangea I, Palace II”, sucessor de “Toda a Casa Crua”.

É um revival não planejado de uma minicena então alternativa, já que as bandas têm várias intersecções entre si. São quase contemporâneas, têm ou tiveram projetos paralelos, dividiram o palco e cachês mirrados um punhado de vezes e tal. Aí o tempo vem para esclarecer as coisas.

A Banda Gentileza lidou com a saída de alguns integrantes e com a troca de outros. Isso é parte da explicação para a retidão do novo disco, que deixou de lado pirotecnias rítmicas para focar, seja na mensagem geral de cafajestismo controlado ou no arroz e feijão musical – que não é demérito por esses dias de autotunes.

No disco, Heitor Humberto canta como se estivesse no palco. Quer dizer: à vontade, sem muitas preocupações a não ser acertar a métrica, a rima e a ironia. Duas músicas (a primeira e a última) surpreendem porque são inesperadas na carreira de uma banda cujo cartão de visitas era o ecletismo musical deliberado, a forma sobre o conteúdo. A primeira fala sobre a “cena” e seus quetais (sinal de que se importam [ou não]) e a outra reproduz o encontro de dois velhinhos no paraíso, Um deles, a avó do vocalista. Oferece inquietude e é sincero.

Dei algumas orelhadas no disco da banda de Rodrigo Lemos. Há uma linha narrativa contemporânea facilmente identificável, a começar pela capa – uma espécie de galáxia fluída lisergicamente colorida. Deve ter relação com o momento de vida de Lemos, sobre, como canta, o nosso lugar no mundo e a capacidade que temos em mudá-lo. Para além de debates estéticos, é uma criação original, que em sua essência não pode ser ignorada porque é única. Nada existia dessa forma antes. Ou ao menos não assim, cheio de grooves.

Este é exatamente o oposto do caminho tomado pela banda Esperanza, ex-Sabonetes. Formada por músicos de primeira, gente que têm referência e sabe o que faz quando canta ou toca, a banda apelou para, como a matéria deste Caderno G disse na última quarta-feira, um pop “alienado”.

Que me desculpem os flausinianos, mas é como se tivessem saído de uma ilha que só ouve cover de Jota Quest. São músicas em banho-maria, sem causa e efeito – nem os haters apareceram para detratar a crítica. É uma escolha arquitetada tentar arrebanhar um público jovem que quer ouvir música (bem executada, diga-se) como acessório. Mas que custo?

Para alcançar a meta da estratégia, vale a pena ser quem não é? É melhor ouvir a voz própria, sempre original, ou os ruídos do mercado? Se Gentileza e Lemoskine vivem da independência, a Esperanza é um grupo da gigante Sony Music. “Enfim uma banda de Curitiba que deu certo!”, ralhariam por aí. Isso é mesmo dar certo?

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