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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Comer é um ato político, já nos ensinou Michael Pollan. Em sua última obra, ele colocou o ato de cozinhar entre os seus mantras sobre como comer bem, de forma saudável, e sem esquecer o lado cultural.

No recente Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado no ano passado, ir para a frente do fogão também é uma das orientações do governo. O Guia nos ensina, ainda, a optar por alimentos frescos e valorizar produtos regionais, o que é o suficiente para manter o peso, e a saúde.

Mas cozinhar não é tão simples.

Dia desses, enquanto esquentava minha marmita, um amigo, que é da turma que prepara a própria comida para trazer ao trabalho, disse a frase mais sensata que exemplifica o que é cozinhar diariamente: “Parece que eu vivo nos metros quadrados da minha cozinha. E estou sempre lavando louça”.

Parei para pensar e me transportei para a minha pequena cozinha. Não consigo me recordar da última vez que o escorredor de louça ficou vazio. Ou que eu não tive que, desesperada, pensar em algo para usar todos os vegetais que estão quase passados na geladeira. Ou correr para congelar as bananas que estão estragando. Ou lembrar de deixar o feijão de molho antes de ir dormir.

Sim. Todas essas atitudes são corriqueiras na vida de quem decide cozinhar. É um ato que te liberta , mas ao mesmo tempo, aprisiona.

Aprisiona porque, se você não for lavando a louça junto, esqueça. A pia vai ficar um caos.

Quando está chovendo, e não dá para ir na feira, tem que arranjar um tempinho para ir ao sacolão, ou ao Mercado Municipal.

Supermercado para comprar fruta e verdura? Esqueça. Além de ser mais caro, a qualidade não é a mesma. A sorte que ir à feira é o passeio mais divertido da semana. Dica: só não se empolgue demais. Mas não adianta. A gente se empolga. E aí na quinta-feira bate o desespero: tem coisa que vai estragar. Dá-lhe sopa!

Tem dias que, simplesmente, estamos sem vontade. Ou que todas as receitas da Rita Lobo, do Jamie Oliver (sei lá como ele prepara tanta coisa em meia hora), ou da Bela Gil parecem complicadas demais.

Também é preciso de alguns instrumentos para conseguir cozinhar de forma decente.

Os dois básicos: uma boa faca, afiada e de cabo firme e único (não compre aquele encaixado, com o tempo, vai soltar), e uma tábua de madeira. Tem que ser pesada, para não sambar na bancada. Adoro a minha faca, mas a tábua, assim que termino de usar, odeio. Tem que lavar aquele trambolho imediatamente. Parece que ela ocupa o espaço inteiro da cuba.

Felizmente, o ônus da pia cheia, da programação prévia e dos pensamentos que martelam (“O que vou levar na marmita amanhã?”, “O que vou fazer de janta hoje?”) é bem menor do que o bônus de cozinhar.

Quando você cozinha, desenvolve certas obsessões e fica cada vez mais craque na receita.

A minha atual é conseguir fazer um hommus (aquela pasta árabe, feita com grão-de-bico), igual ao do Sahara, um restaurante de comida árabe maravilhoso, no centro de Curitiba. Eu não sei o que eles colocam. Se é mais tahine. Se é mais cominho. Já tentei de tudo.

O bom é que está cada vez mais parecido (segundo meu marido – não sei se é verdade ou bondade, talvez ele esteja enjoado de hommus).

Sei que ainda não tenho coragem de pedir a receita para os donos do Sahara. Passar receita não é algo assim tão fácil. Dependendo de qual for, é como emprestar aquele nosso livro favorito.

Cozinhar faz a gente comer mais saudável. Não tem aquela desculpa do buffet, “ah, só hoje não vou comer salada”, e também economiza. Sai infinitamente mais barato.

Picar vegetais também tem um forte efeito terapêutico. Experimente. Ligue uma música e comece. Você vai esquecer todo o estresse e as chateações. Dá um orgulho ver aquele bando de quadradinhos coloridos, ou a batata toda salpicada de ervas frescas e temperos, pronta para ir para o forno. Também adoro furar a beringela que vai ao forno para preparar um babaganush. Enquanto espeta, você pode pensar que está dando umas belas garfadas em algum desafeto.

E, para não me alongar demais, o lado que é bom e também, ruim: ficamos mais exigentes. É comum ir a um restaurante e pensar: “Mas, se colocasse um açafrão e um pouco mais de pimenta, ficaria muito melhor!”.

Me escrevam sobre suas experiências. E leiam o excelente Guia Alimentar.

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