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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

“Ih, manteiga derretida”!

Está aí um apelido bem comum para pessoas que não têm vergonha de abrir o berreiro.

O fato é que os motivos que nos levam a chorar são muito distintos, ainda mais quando se fala em se emocionar com filmes, livros, peças, shows, etc.

O mundo parece se dividir em duas partes bem precisas nesse assunto: os durões não emotivos, que admitem terem “quase chorado” em “Dançando no Escuro”, obra-prima de Lars von Trier de cortar o coração (como assim “quase”, me pergunto), e outras, as “moles”, que derrubam lágrimas com uma propaganda, ou com qualquer filme de cachorro.

Não posso assistir a nenhum sem chorar. Seja os mais tristes mesmo, como “Marley e Eu”, ou “Sempre ao seu Lado”, até aqueles da Sessão da Tarde, do estilo “Meu Cachorro Muito Louco”. Várias pessoas a minha volta compartilham do mesmo problema.

O choro, principalmente no cinema, precisa de uma certa cumplicidade ou companhia. É horrível ser o único na sala secando as lágrimas meio de canto, ou com o nariz fungando. Dia desses, uma moça nessa situação olhava para mim na sessão de um documentário, chamado “O Tempo Nublado”. A história é comovente, mas, dessa vez, não chorei. Seus olhares eram quase questionadores: “Mas como assim você não chora com uma coisa dessas?”.

Há quem nunca tenha chorado em filmes, mas se derreteram em concertos da Orquestra Sinfônica (um choro cult). Outros se sentem mais tocados pelos livros, pois conseguem se conectar melhor com a história.

E é justamente essa empatia que nos faz chorar. Quem me explicou isso foi a neuropsicóloga Samanta Blattes da Rocha, do Instituto de Neurologia de Curitiba. “Psicologicamente, faz com que nos coloquemos e nos imaginemos naquela situação, você volta aquilo para sua própria história. E aí o choro acontece”.

Mas o choro é ainda mais fascinante, me mostrou a dra. Samanta. Primeiro, porque ele tem também uma função física (de expulsar um corpo estranho dos nossos olhos, ou lubrificá-los), além da emocional. E as lágrimas têm composições químicas diferentes: a emocional tem mais proteína e potássio, por exemplo. Vários estudos foram feitos para tentar explicar essas diferenças, mas elas continuam sendo, segundo a especialista, um mistério.

Também existe o “momento decisivo” do choro: ele vem exatamente em seguida do ápice de emoção – na hora da tensão máxima, nosso organismo secreta hormônios, como do estresse. Quando esses hormônios começam a cair, as lágrimas surgem. “É um reflexo do organismo voltando para o estado de homeostase”, explica Samanta.

E por qual motivo uns choram mais e outros menos? São diversos fatores que nos condicionam a isso. Desde a infância – como se lida com o choro no ambiente familiar, por exemplo – até fatores culturais mais amplos. “E isso varia. Na época vitoriana, não se chorava em público. No século 20, chorar passou a ser visto como ‘coisa de mulher’. E, na cultura latina, há uma disseminação de que homem não chora”, diz Samanta.

Mas tudo pode mudar: um colega disse que nunca foi de chorar . O cenário mudou recentemente, quando se tornou pai e se mudou para o time dos manteigas derretidas. Um “privilégio”, me garantiu Samanta. “Ele é um homem felizardo. Saiu da posição de filho eterno para progenitor, e isso ativa emoções. É sinal de que está se conectando melhor com elas”.

O resumo da ópera é: chorar é bom. “Quanto mais fluida for nossa relação com as emoções, mais seremos suscetíveis a liberá-las”, me esclareceu a médica. Então, sem essa de se esconder ou de se fazer de durona/durão.

Choremos!

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