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Existe algo de muito errado com a minha geração, a da faixa etária dos vinte-e-muitos e trinta-e-poucos. São aquelas pessoas que saíram da casa dos pais para, em tese, tocar as suas próprias vidas. Mas, na prática, não deixaram os seus lares por completo.

Explico o que quero dizer: obviamente, não devemos nunca deixar nossas casas. Mas precisamos aprender a poupar os nossos pais, que já se sacrificaram bastante ao longo da vida para nos dar do bom e do melhor. Que, muito provavelmente, nos ajudaram a montar um lar próprio (às vezes, o dinheiro vem inteiramente do bolso deles), e que falam: “estou aqui para o que precisar.”

Será que é necessário aproveitar sempre a boa vontade deles? Ou podemos encarar, sozinhos, as dificuldades de frente?

Quando saí de casa, há quase três anos, muita coisa mudou. E eu estava preparada para essas mudanças, que são naturais, da vida, e foram excelentes. O problema é que eu ainda não tinha me tocado que comentários que para mim eram ingênuos, chegavam como uma bomba na cabeça dos meus pais. Um exemplo: se a conversa é sobre finanças e você comenta algo bobo, exagerando (do tipo: “não tenho dinheiro nem pra comprar bala”), os seus pais vão ficar realmente aflitos. Depois que percebi isso, passei medir as palavras. É o melhor a se fazer. Já adianto: não é sempre que consigo, e às vezes acaba escapando alguma coisa.

Não desejo que esse texto seja um julgamento, e sim uma reflexão. Também não prego o orgulho – quando precisamos de uma ajuda que nos é oferecida, não há nada de mal aceitar. Porém, às vezes, é preciso dizer um “tá tudo bem”, mesmo que não esteja mil maravilhas.

Fico um pouco surpresa quando os filhos, inclusive, delegam aos pais determinadas tarefas: “minha mãe tem que cuidar dos preparativos do meu casamento!”, ou “meu pai tem que me ajudar a comprar um apartamento.” Pais, na minha opinião, não “tem que” coisa nenhuma. Nós é que, adultos, devemos zelar por eles um pouco melhor.

E isso não implica em “esconder” os sentimentos, mas falar de assuntos ruins quando realmente é necessário. Nossas mães, provavelmente, não precisam saber os detalhes tin tin por tin tin de todas as discussões que temos com o nosso chefe.

Há algum tempo, o jornalista e escritor Ruy Castro fez uma coluna no jornal Folha de S. Paulo chamando os jovens de medrosos. Ele nos comparava com a sua época, quando saiu de casa muito cedo (antes dos 20 anos), e foi se virar e aproveitar as vantagens em viver sozinho. Muita gente ficou revoltada. O argumento foi que, hoje em dia, principalmente por questões econômicas, é mais difícil para os jovens pagarem sozinhos os seus aluguéis.

De fato, é verdade. O desemprego para essa faixa etária é alto. Muitos são qualificados, mas não conseguem colocações que lhe permitam ter uma vida financeira razoável e se sustentar com dignidade. Até aí, tudo bem. Mas concordo que existe, sim, receio em uma geração acostumada a não fazer concessões, de deixar certos luxos de lado para pagar as contas. E que, então, recorrem aos pais de forma constante, sem pensar que agora é a vez deles.

O mundo é assim: às vezes, o dinheiro é mesmo contado, e não conseguimos fazer todas as viagens e cursos fantásticos que queríamos. Nem temos alguém nos confortando o tempo inteiro. É a vida real, pedindo passagem.

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