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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Há exatamente uma semana, a cantora Preta Gil casou. A celebração teve direito a tudo o que, geralmente, muitos noivos desejam: cerimônia religiosa seguida de um festão, que já causou alvoroço: começaram a questionar como a cantora pagaria os R$ 2 milhões que a badalação teria custado. Surgiram várias teorias da conspiração sobre o montante. Além de críticas sobre o porquê de tantos convidados (cerca de 800) e padrinhos (50 pessoas). E que o local, a mansão da socialite Lilibeth Monteiro de Carvalho, teria sido escolhido por motivações políticas.

Apesar de nada desses palpites nos dizerem respeito – como ela pagou a festa é um problema apenas dela – o mais chocante no casamento de Preta Gil, uma cantora negra, de 40 anos e fora dos magérrimos padrões de beleza, foi que ele fez pipocar nas redes sociais uma assustadora gordofobia e o preconceito racial.

Na internet, uma série de memes: que “até ela” se casou, e que só “conseguiu” se unir ao educador físico Rodrigo Godoy – um homem branco, mais jovem do que ela e dentro dos padrões de beleza considerado “ideais” – porque ela gastou milhões. Também já jogaram no rapaz a fama de interesseiro: o casamento seria “de fachada”, e ele só quer usar a mulher para se promover.

Depois da proliferação de montagens “engraçadinhas” disfarçando preconceito, resolvi encarar a experiência de acessar a conta do Instagram de Preta. Não foi fácil. O ódio que foi destilado via teclado por causa do casamento é algo assustador.

O mais comum nos comentários era sempre o “gordaaaa!”. Afinal, parece que mulher gorda não tem o direito de casar. Que não há nada atraente além do corpo em um casamento. O companheirismo, a personalidade, e o amor, oras, não contam.

Que o marido conseguiria “alguém muito melhor” do que ela, sendo um homem que se encaixa na estética desejável. Porque uma mulher acima do peso, dizem os internautas, não pode/consegue/deve despertar o desejo de alguém.

Também bradaram que ela é “muito velha” para se casar na igreja de véu, grinalda e tudo o mais. Talvez tenham instituído uma nova regra, que desconheço, que pessoas na faixa dos 40 anos são “ridículas” se resolverem celebrar uma união do jeito que elas acham mais conveniente.

Preta também foi ultrajada por ser negra: “com essa cor, parece uma escrava! Ridícula!”, foi o comentário chocante de uma internauta que, provavelmente, não sabe que discriminação, injúria ou preconceito de raça ou cor é crime no Brasil.

O resumo da ópera dos comentaristas de rede sociais foi que: é uma afronta uma mulher de 40 anos, negra e acima do peso, se casar.

Preta Gil segue, ao que parece, feliz da vida em uma lua de mel. Espero que a deixem em paz.

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