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O cinema nacional tem conseguido, de uma forma mais rápida e bem resolvida do que a literatura e a música, dar conta de debater conflitos e transformações pela qual a sociedade brasileira tem passado da virada do século para cá.

O longa Que Horas Ela Volta? Da cineasta Anna Muylaert (Durval Discos) é mais um exemplo bem sucedido de um instantâneo social e cultural capturado pelo cinema nacional nesta década (outros são O Som Ao Redor, de Kleber Mendonça e Casa Grande de Felipe Barboza).

O filme de Anna que estreou em mais de 280 cinemas ao redor do mundo – incluindo países como Espanha e Bósnia – tem sido aclamado pela crítica e pelo público em festivais de cinema internacionais.

Foi eleito o melhor filme pelo público do Festival de Berlim, na mostra Panorama. Em Sundance, o prêmio de melhor atriz foi dividido entre as protagonistas Regina Casé e Camila Márdila. Também foi o melhor filme segundo os espectadores do Festival de Amsterdam.

Regina, aliás, chega ao ponto máximo de sua carreira de atriz (esquece por hora a apresentadora ativista) em atuação soberba como Val, a pernambucana que chegou a São Paulo no final dos anos 1980 para fugir da fome, de um casamento fracassado e para dar melhores condições para a filha que ficou no sertão.

Val trabalha como empregada doméstica de uma família “descolada” de classe alta e virá baba de Fabinho, filho único e pequeno rei do palácio modernista no Morumbi.

Val “mora no serviço” e é “quase da familia”, como os patrões não cansam de repetir. O conflito surge quando sua filha Jéssica anuncia que virá a São Paulo para prestar vestibular.

Em pouco tempo, a presença da menina articulada e contestadora que, ao contrário da mãe não “aceita seu lugar” na estrutura da casa implode as contradições e os mascaramentos da vida social brasileira.

O roteiro faz a filha da empregada disputar o mesmo vestibular que o filho dos patrões (Arquitetura na FAU-USP) para evidenciar um quadro de transformação social e confronto.

Com bom uso de humor (e um pouco de melodrama além da conta), a dramaturgia de Muylaert consegue aprofundar com grande qualidade a discussão sobre as fronteiras da discriminação de classe e gênero e da invisibilidade social ao s relações de classe do Brasil contemporâneo em que as expectativas não se confirmam mais.

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