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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Ellen, Fernanda, Betty, Andressa, Renée, Uma... essas são apenas seis mulheres que representam uma realidade dura e cruel que nos permeia: a patrulha pelo corpo alheio, numa cobrança insana, que parece só crescer.

As mulheres acabam sendo as maiores vítimas. Mas os homens também não estão imunes: me cortou o coração a foto de Sean, que vive em Londres, e circulou nas redes sociais essa semana. Acima do peso, foi ridicularizado por tentar dançar. Compartilharam sua foto, feliz –e na sequência triste, por ver pessoas rindo dele. Por sorte, uma campanha #findDancingMan foi lançada nas redes sociais: um grupo de mulheres de Los Angeles vai fazer uma festa, onde Sean será a estrela principal. E dançará livremente.

Falando em dançar: no Carnaval brasileiro, a “premiada” foi a atriz Ellen Roche. Rainha de bateria da escola Rosas de Ouro, mal apareceu na passarela do samba para começarem a apontar que ela estava “gorda”, alguns, ousaram usar “obesa”. Questionada sobre o bafafá, Ellen foi categórica: “prefiro ser feliz do que ser magra.” Dias depois, quando voltou para o desfile das campeãs, trocou a fantasia oficial mais comportada por um look ousado (o que, aliás, mostra que ela não é gorda coisíssima nenhuma).

Mas, e se fosse? Seria “proibida” de ser rainha de bateria? Na percepção atual, pelo visto, sim. Todos nós precisamos ser perfeitos. As pessoas públicas então, tem quase uma obrigação. Não pode ter nada fora do previsto.

A apresentadora Fernanda Gentil foi outra que teve a paciência testada: fotos suas de biquíni, em um dia de folga na praia, viraram uma “matéria” (com muitas aspas), em um portal nacional, colocada como alguém que “não atendia às expectativas” do vídeo. Grávida de dois meses, Fernanda respondeu com muita inteligência a irrelevância da notícia. A vergonha alheia do site foi tanta que eles retiraram a matéria do ar, e pediram desculpas.

A mulher também parece proibida de envelhecer: Betty Faria, então com 72 anos, foi à praia do Leblon com a neta em julho de 2013. As “imperfeições” de uma senhora com mais de sete décadas de vida parecem ter soado como afronta. Logo a chamaram de inadequada, “velha baranga” “sem espelho”, entre outros xingamentos de baixo nível. Está decretado em algum lugar, que depois da idade x, a mulher é proibida de usar trajes de banho e se divertir na praia, em um dia de sol?

Já quando alguém quebra um padrão, é vista como “corajosa”. Foi o caso da gaúcha Vanessa Braga, que se inscreveu no concurso Garota Verão, promovido no Rio Grande do Sul pela RBS TV. A morena de cabelos compridos cumpria todos os requisitos: é solteira, sem filhos e tem entre 14 e 20 anos. Foi a mãe quem a convenceu a participar, dizendo: “tu é gorda, mas tu é linda.” Vanessa desfilou orgulhosa em volta da piscina. “Fui lá e arrasei”, disse a moça em entrevistas. A postura se transformou em viral na internet. Muitos a apoiaram, mas a turma do “não se enxerga” não tardou a aparecer.

“Loucura”

Nesse contexto da aparência em primeiro lugar, quem recorre a cirurgias plásticas também é criticado – como as atrizes Uma Thurman e Renée Zellweger. A primeira surgiu com o rosto diferente no mês passado, na première da série The Slap. Renée causou furor em 2014 quando apareceu com a face totalmente modificada. Pronto, não demorou para descerem o sarrafo em ambas. Uma disse que a diferença era pela maquiagem, e Renée falou que a mudança ocorreu por mudança de hábitos. Verdade ou não, o que importa é: e se elas quiseram mudar, o que temos com isso? Renée, por exemplo, estrela das duas edições do filme O Diário de Bridget Jones, sempre teve a aparência altamente criticada. Será que nós, no lugar dela, não tomaríamos a mesma atitude?

Quando a modelo Andressa Ulrach foi parar na UTI no final do ano passado, por complicações pela aplicação de hidrogel nas coxas – substância usada para aumentar o volume nessa região do corpo – logo um coro bradou. Houve até quem tivesse a maldade de torcer nas redes sociais contra a recuperação da moça (que, infelizmente, voltou ao hospital no início de março para uma nova cirurgia, e sem previsão de alta). Novamente: se fôssemos ela, com as cobranças que sofria/sofre, não faríamos o mesmo?

Pode ser idealismo (e é, e sou), mas sonho com um mundo ideal em que se tenha compaixão. Onde uma pessoa, com qualquer peso, possa dançar sem freios. Que senhoras usem biquínis faceiras na praia, que meninas desfilem sem medo, e que exista respeito pela escolha das pessoas. Sejam elas quais forem.

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