• Carregando...
Trabalho mais recente do artista plástico Tom Lisboa, “#helpyourselfie” reflete sobre a onda atual (e quase onipresente) de se fazer autorretratos pelo celular – e a intervenção chegou até a Nova York. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Trabalho mais recente do artista plástico Tom Lisboa, “#helpyourselfie” reflete sobre a onda atual (e quase onipresente) de se fazer autorretratos pelo celular – e a intervenção chegou até a Nova York.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Quis retroceder um pouco [a partir da ideia da selfie] e ver como você pode repensar a maneira de se expor e de se expressar. Ter esse olhar para dentro.

Tom Lisboa, artista plástico.

Tom

Goiano criado no Rio de Janeiro, Tom Lisboa virou curitibano por “adoção”. Ele mora na capital paranaense há 14 anos e, há 12, é fiel ao compromisso de realizar, sempre em maio, um trabalho de intervenção em Curitiba.

Dizem que a organização da nossa mesa, ou das nossas casas, costumam refletir quem somos.

No caso do artista visual Tom Lisboa, o arranjo do seu apartamento, com bela vista para o Parque Barigui, onde mora há 14 anos, reflete sua disciplina.

Os livros de arte que descansam sobre a mesa do centro, os sapatos enfileirados perto da porta e os quadros nas paredes parecem milimetricamente calculados.

O goiano, criado no Rio de Janeiro e curitibano por “adoção” não falha no compromisso firmado consigo mesmo há 12 anos: realizar, sempre no mês de maio, um trabalho de intervenção urbana em Curitiba, cidade que escolheu para morar.

Filho de militar educado em colégio militar, Tom, cuja formação universitária é bacharelado em informática, não imaginava uma outra dinâmica para sua vida que não fosse um concurso público.

Com 20 e poucos anos ingressou na Copel para trabalhar no ramo de tecnologia.

Sem conhecer muita gente na cidade, se enfiou num curso de teatro no Sesc da Esquina. “Sou artista porque nunca tive vocação para ser militar”, diz – o erre do “militarrr” é a única letra que denuncia um pouco de sua carioquice. Quem conversa com ele, dificilmente sabe de onde ele é.

Depois de experimentar o palco, fez curso de pintura e se encantou. Para registrar seus trabalhos, foi estudar fotografia – e acabou se tornando fotógrafo (ele recebeu, aliás, prêmios como o Funarte Marc Ferrez e o Porto Seguro). “Vi que existiam outras possibilidades”, diz.

Fez mestrado em Comunicação e Linguagens e desenvolveu o trabalho que desencadeou sua vontade de interagir sempre com Curitiba, chamado Ficções Urbanas.

Feito com edital da Lei Municipal de Incentivo a Cultura, ele espalhou em outdoors pela cidade a percepção que desenvolvemos ao participar do espaço urbano – e o consumismo, individualismo e homogeneização que acaba acontecendo quando vivemos em uma grande cidade.

“Depois disso, pensei como produziria sem edital. E as pessoas me cobravam que fosse no espaço público”, afirma.

Em 2005, criou, com R$15, as Polaroides (In)Visíveis: mensagens em papel amarelo espalhadas por orelhões e pontos de ônibus que diziam coisas como “Veja se no prédio atrás de você, à esquerda, o apartamento do quarto andar ainda está à venda”.

A recepção foi tão surpreendente que Tom estabeleceu o desafio: sempre em maio, apresentaria, começando por Curitiba, um trabalho inédito que tenha relação com a fotografia e interaja com o morador e a cidade. No valor máximo de R$ 300. “Apesar da limitação orçamentária, é um projeto que me permite muita liberdade criativa.”

  • Última obra do artista, #helpyourselfie reflete sobre o fenômeno contemporâneo de realizar autorretratos pelo celular.
  • Tom e a intervenção “Brinquedografia”
  • As “Polaroides (In)Visíveis”: recados pela cidade para aguçar a percepção sobre o espaço urbano.
  • Em 2010, “Intervenções de Outono” espalhou mensagens em folhas, usando balões.

Fique atento quando passar por banheiros de shoppings, pontos turísticos ou elevadores: você pode se deparar com uma pequena caixa com a hashtag #helpyourlselfie, recheada com uma espécie de cartão, onde se vê o desenho de pontilhados e uma tesoura.

Quem interagir com a obra pode recortar o papel (ou não), e fazer uma selfie mostrando as partes do rosto que deseja. “O espectador é o coautor da obra”, explica Tom. As imagens compartilhadas nas redes sociais estão em um blog (o helpyourselfie.blogspot.com).

“Uma característica das intervenções é que elas pensam questões fotográficas. E não podemos negar o fenômeno da selfie. Então quis criar uma obra no sentido contrário. Retroceder um pouco e ver como você pode repensar a maneira de se expor e de se expressar. Ter esse olhar para dentro”, fala.

Até a semana que vem, fim do mês, ele terá espalhado 500 obras da série por Curitiba. Quem não estiver na cidade e quiser participar do resultado, pode fazer download da imagem. “Chegou até em Nova York”, diz o artista.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]