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Elizabeth Moss e Vincent Kartheiser: masculino em crise na série Mad Men | Divulgação
Elizabeth Moss e Vincent Kartheiser: masculino em crise na série Mad Men| Foto: Divulgação

O que ver

Confira alguns filmes e séries que falam sobre a crise da masculinidade e o surgimento de um novo homem nos anos 50 e 60:

Cinema

> Palavras ao Vento, de Douglas Sirk

> Gata em Teto de Zinco Quente, de Richard Brooks

> Vidas Amargas, de Elia Kazan

> Sindicato de Ladrões, de Elia Kazan

> O Clamor do Sexo, de Elia Kazan

> Juventude Transviada, de Nicholas Ray

> Bigger than Life, de Nicholas Ray

Televisão

> Mad Men

  • Paul Newman é Brick Pollitt: pijama e muletas em Gata em Teto de Zinco Quente

Em meados da década de 1950, surge em Hollywood um distinto subgênero dentro da tradição melodramática. Graças ao talento de cineastas como Douglas Sirk, Vincente Minnelli, Nicholas Ray e Elia Kazan, o chamado melodrama doméstico, cuja narrativa tem como foco a família nuclear, se utilizou das estruturas dramáticas peculiares a essa modalidade cinematográfica para discutir questões de gênero, classe e raça na sociedade norte-americana. É nesse universo sociocultural que estão inseridos o publicitário Donald Draper (John Hamm) e os demais personagens masculinos da série Mad Men, produção atual no ar há quatro temporadas.

À medida que a família assume o papel de foco central de dezenas de longas-metragens produzidos nos anos 50 e início dos 60, um grande número de enredos foi desenvolvido em torno de um mesmo tema: há uma crise da autoridade patriarcal e de masculinidade, materializada em tumultuados relacionamentos entre pais e filhos. A popularização da psicanálise, o favorável clima socioeconômico pós-Segunda Guerra Mundial e a paranoia cultural resultante da Guerra Fria podem ser citados como possíveis razões por trás do crescente interesse em questionar a vitalidade do sistema patriarcal e diferentes manifestações de masculinidade.

Tomemos como exemplo Gata em Teto de Zinco Quente (1958), adaptação para o cinema da peça homônima de Tennessee Williams. O personagem de Paul Newman, Brick Pollitt, passa todo o filme, dirigido por Richard Brooks, de pijama, com a perna quebrada e na dependência de muletas. Vive às turras como a esposa, Maggie (Elizabeth Taylor), uma mulher sensual e ambiciosa que compete com a cunhada e com a sogra pelo posto de "a rainha da casa" – e pela atenção do sogro, Big Daddy (Burl Ives).

Onipotente e onipresente, a figura do patriarca, que confessa desejar ser eterno, é fonte de intensa angústia para Brick, cuja ambiguidade sexual é mais sutil no filme do que na peça que o originou. Embora seja belo e atlético, motivos de orgulho para o pai, o jovem não consegue encontrar em si o homem que dele esperam. Por isso, entrega-se ao ácool, traço comum em vários dos filhos nos melodramas do período. Tanto que está bêbado quando quebra a perna.

Além do protagonista Donald Draper, a premiada série Mad Men, releitura contemporânea dessa época, traz outro personagem exemplar dessa crise masculina do pós-Guerra: o ambicioso, por vezes inescrupuloso e, por fim, muito frágil Pete Campbell (Vincent Kartheiser). Como Brick, ele vive à sombra do pai, um empresário rico que morre no início da segunda temporada da série.

Campbell sonha com poder, corteja as mulheres – ele chega a engravidar, às vésperas do casamento, a secretária e depois redatora Peggy (Elizabeth Moss) –, e tenta costurar quase sempre de­­sastrosos esquemas para ascender em sua carreira publicitária. É um menino querendo se tornar um homem, mas em constante crise com a obrigação de se encaixar num modelo exaurido de masculinidade.

Superação

Um dos títulos fundamentais do cinema desse período é Juventude Transviada, de Nicholas Ray, cujo tema central é a busca pela figura paterna. O personagem central, Jim Stark (James Dean), é um adolescente em crise porque seu pai, Frank (Jim Backus), é um conformista acomodado e hesitante, que se permite, ou não consegue evitar, ser dominado pela esposa, Ca­­rol (Anna Doren), uma mulher autoritária e manipuladora.

A mulher o emascula diante do filho único, que não enxerga no pai um modelo de masculinidade a seguir ou admirar, tampouco alguém a quem possa recorrer em momentos de dificuldades ou dúvida.

Jim não é, entretanto, o único na trama à procura de um pai. Judy (Natalie Wood) e Plato (Sal Mineo) também são incapazes de encontrar na figura paterna diálogo, orientação e afeto nessa fase de transição para a vida adulta. Por isso, juntam-se a Jim, recriando, ao longo de uma breve, intensa e, por fim, trágica noite, a família ideal que nunca tiveram.

O longa de Ray, entretanto, tem um desfecho algo otimista: Jim encontra nele mesmo, por fim, um modelo próprio de masculinidade, frágil, porém corajoso e terno, que acaba por inspirar o pai a reagir. É um novo modelo de homem que surge no horizonte.

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