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Neil Patrick Harris encarna o Conde Olaf em cena com Louis Hynes | Joe Lederer/Netflix/
Neil Patrick Harris encarna o Conde Olaf em cena com Louis Hynes| Foto: Joe Lederer/Netflix/

Sem Jim Carrey, mas com Neil Patrick Harris no papel do vilão Conde Olaf, “Desventuras em Série” chega nesta sexta-feira (13) à Netflix sem chances de escapar das comparações com o filme de 2004. Porém, a julgar pelos dois episódios que o serviço de streaming disponibilizou para a imprensa antes da estreia, os seis restantes não ficarão devendo em nada ao cinema.

Acompanhamos aqui a adaptação dos romances homônimos escritos por Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler, narrador da série). É literatura meio adolescente, mas com o parafuso do humor negro bem apertado e com ares de teatro de Grand Guignol. Seguimos as desgraças dos três irmãos Baudelaire. Eles ficam órfãos e caem nas garras de um tio distante que só se interessa pela herança milionária que receberam. Os garotos são Malina Weissman (Violet), Louis Hynes (Klaus, um garotinho nerd, devorador de livros) e a caçula, um bebê. A escalação é toda exata, o que está em sintonia com uma produção em que os mínimos detalhes importam.

A cenografia e os figurinos, além das caracterizações, são verdadeiros personagens desse enredo farsesco, uma fábula ambientada num universo próprio. A realização encherá os olhos do público. Entre todos esses encaixes perfeitos, destaca-se Harris, cuja interpretação impressiona. É grandiosa a sua construção do malvado Conde. O ator não desvia totalmente da caricatura - o roteiro exige isso -, mas leva a sério a sua tarefa. O peso que ele atribui ao personagem salta para além da maquiagem e dos figurinos. Seu Olaf é velho, carregado, maligno - e, por tudo isso, impressionante.

Há citações à vontade. “Desventuras em Série” lembra grandes obras da literatura universal - como “Candido, ou o otimismo” -, com uma estrutura de aventura em que a ação, ao mesmo tempo que se repete, faz com que os fatos se agravem. É um programa para não perder.

Comparações com Jim Carrey

Neil Patrick Harris, o mulherengo Barney da série “How I Met Your Mother”, gosta de fazer piadas o tempo todo. Ao falar sobre o Conde Olaf, seu personagem em “Desventuras em Série”, ele não escapa da “sina’‘. Contou que ao aceitar o papel prometeu a si mesmo - aqui sem piada, ainda - que não reclamaria das longas sessões de maquiagem a que seria submetido na caracterização. Na história, Olaf, um ator frustrado que não consegue convencer ninguém com seus disfarces, é nomeado tutor dos três irmãos Baudelaire, que perderam os pais em um acidente. De olho na herança dos órfãos, ele não mede esforços para conseguir seu objetivo.

“Eu seria um idiota se ficasse reclamando de ter que passar muito tempo colocando as próteses de borracha. Levava muito tempo, mas era uma das coisas mais divertidas desse trabalho. E não sei se terei outra oportunidade na minha vida de fazer algo parecido. A não ser que me convidem para o elenco de algum “Star Wars”. É claro que eu gostaria de participar. Quem não gostaria? Soube que estão fazendo testes para o elenco de ‘Rogue 2’. (Risos). Eu inventei isso, tá?”, brincou o ator.

Harris se define como um ator técnico, que gosta de ler críticas, acompanha as redes sociais e assiste às interpretações de outros colegas. Tudo isso para explicar por que não deu a menor bola quando o diretor Barry Sonnenfeld lhe pediu para não assistir à performance de Jim Carrey como o mesmo personagem no filme de 2004 inspirado na série de livros infantis homônima assinada pelo autor britânico Lemony Snicket - pseudônimo do escritor Daniel Handler.

“Bem, Jim Carrey, naquela época, escolhia filmes que o permitiam ser ‘Jim Carrey’ em um disfarce diferente. Olaf e suas várias personas certamente se encaixavam nessa ideia, e o reconheci fazendo sua atuação de Jim Carrey como Olaf. Eu estava interessado em fazer uma interpretação de Olaf que não fosse nada parecida, ou o menos parecida possível, comigo. Achei o que ele fez mais bobo e engraçado do que aquilo que eu pretendia fazer, e achei legal saber que poderíamos ir além. E também que os produtores queriam um tom diferente para a série, mais sombria. E que esse tom estava em sintonia com o que eu pretendia”, ressaltou o ator.

Dos livros à TV

“Desventuras em Série” faz mesmo uma nova leitura dos livros de Snicket no formato para a TV. A primeira temporada corresponde aos quatro primeiros dos 13 volumes que compõem a série literária. Na pesquisa para o personagem, Harris diz ter mergulhado nos títulos - já está no 11º.

“O que tem de mais legal nessa série de livros é o modo como as crianças olham para os adultos e veem como eles se comportam. E como esses adultos, em grande parte, não têm consciência de suas necessidades e só se preocupam com os seus próprios mundos. Eu gosto disso”, comentou.

Harris é casado com o ator americano David Burtka e tem dois filhos gêmeos, Harper e Gideon, de 6 anos de idade. Embora seja um defensor da ideia de família, sob qualquer configuração, ele reconhece que a série não fala sobre esse assunto:

“No início dos livros, Lemony Sniket fala claramente: ‘Se você procura por algum conto moral, se você procura por crianças em busca de seus pais, se você procura por encontros redentores, esse livro não é para você’. Nós nos sentimos da mesma maneira na série. Por meio dela, as crianças aprendem a ter firmeza de caráter, a confiar uns nos outros, a abandonar o controle em benefício de um bem maior...”

Experiência com streaming

“Desventuras em Série” é o primeiro trabalho de Harris para uma plataforma de streaming. Para o ator, esse novo modelo de difusão dá mais liberdade criativa aos roteiristas e não fica sujeito aos padrões das grades de programação.

“Mudou muito. Quando eu fazia ‘How I Met Your Mother’, os roteiristas sabiam que tinham de escrever respeitando os intervalos comerciais, porque era estruturado dessa maneira. Agora, quando você assiste a ‘Orange is the New Black’, ‘Sense8’ ou ‘Desventuras em Série’, pode fazê-lo de uma vez. E isso permite que os roteiristas escrevam sem ter de pensar em ganchos e outros recursos. Nas redes de TV aberta, e não estou dizendo que as redes são ruins, fazíamos um episódio, o piloto, e somente um mês depois fazíamos o segundo. Antes de o terceiro estar pronto, o pessoal da rede vinha querendo mudanças por causa da resposta do público”, disse ele.

Embora diga que não é um ser político, Harris comentou a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, sem mencionar o nome do substituto de Barack Obama, assim como fez a atriz Meryl Streep em seu discurso no Globo de Ouro: “Para alguém que é líder do nosso país e nunca governou nada antes, vai ser um belo desafio. Não sou político, mas sei que para realizar alguma coisa é preciso alguma experiência. E acho que ele não sabe como fazer isso.”

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