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Diferente de seu jeito animado, a artista plástica e diretora do MON, Estela Sandrini, gosta mesmo é de “música de fossa”. De preferência, cantada por mulheres | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Diferente de seu jeito animado, a artista plástica e diretora do MON, Estela Sandrini, gosta mesmo é de “música de fossa”. De preferência, cantada por mulheres| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

"Credo, que tristeza!", disse categórico o motorista da artista plástica e diretora do Museu Oscar Niemeyer (MON), Estela Sandrini – a Teca —, quando ela colocou no carro um de seus CDs.

Ela nunca havia desconfiado que gosta de música de fossa, ou de "música de cortar os pulsos", como gosta de dizer. Um gosto que contrasta com a personalidade alegre e de sorriso fácil. Sua seleção dos cinco melhores discos pode ser resumida em poucas palavras: majoritariamente feminina, dramática, e com o tango como protagonista.

O ritmo sempre fez parte de sua vida: os pais cantavam e dançavam tango, mas não só ele. "Era uma casa muito musical. Dormíamos e acordávamos com música, que é a recordação mais perto da nossa memória plena", diz ela, que tinha deixado o hábito um pouco de lado – o convite para participar da série foi um resgate de memória. "Fiquei muito feliz, cheguei em casa e fui ouvir tudo."

Teca aprendeu a gostar mesmo de tango em Buenos Aires, onde morou com o marido (o médico Rômulo Sandrini), no começo da década de 1970. "Eu fui para lá porque o Rômulo foi estudar no Hospital de Niños. Não tínhamos tevê em casa, e a nossa grande comunicação era o cinema e a música." Shows vespertinos de Astor Piazzolla (1921-1992) faziam parte da rotina do casal.

"A primeira vez que o vi foi no Teatro San Martín", lembra, que foi cicerone do artista anos depois, quando ele esteve em Curitiba.

Mas são as cantoras, como a argentina Susana Rinaldi, que fazem sua cabeça. "O tango cantado por mulheres se torna mais dramático. E ela [Susana] tem aquele vozeirão de quem bebe, fuma, faz tudo", ri. "É impressionante, quase só compro CD de cantoras. Acho a voz feminina maravilhosa."

No período portenho, entretanto, acabava ouvindo mais música brasileira, para matar as saudades. Um amigo de Teca, Luciano Lacerda, fazia uma seleção de música brasileira e mandava ao casal pelo correio, em uma fita. "Um dia, a gente recebeu ‘Gente Humilde’, do Chico Buarque. Nunca esqueço essa cena: eu e o Rômulo deitamos no sofá e choraaamos, pois falava daquilo tudo que a gente sentia falta do Brasil", rememora.

Quando retornou ao país, fez questão de trazer as lembranças da Argentina, que a acompanham até hoje – entre as formas de ouvir música, prefere o CD. "Gosto de escolher o número da música". Além disso, as canções são um conforto para Teca. "É a maior companhia do artista plástico. Sempre gostei de pintar com música, e bem alta."

Eleitos

Veja quais são os discos mais marcantes para Teca Sandrini.

Susana Rinaldi, Uno

Teca aprecia o disco da cantora argentina principalmente pela canção "La Cumparsita". "Me lembra as memórias mais remotas que tenho das minhas primeiras memórias", relata ela. Seu pai, que trabalhava como jornalista, não tinha horário certo para chegar em casa, o que deixava a mãe bastante aborrecida – ela nunca conseguia tirar a comida na hora certa. "Quando ela ficava brava, sentava no piano e tocava essa música. Ela com raiva, e nós com fome. É um disco que sempre está comigo, que preenche todas as minhas lembranças de infância."

Chabuca Granda, Lo Nuevo de Chabuca Granda

No período argentino Teca viajou por vários lugares da América do Sul. E uma das canções da cantora peruana, "Alfonsina y el mar", era um hit na época. "Onde a gente chegava, a música estava tocando. E é uma poesia que me marcou muito, porque descreve uma mulher que, por amor, se suicidou no mar." Sempre que a escuta, a diretora do MON forma uma imagem na cabeça. "É para ser algo trágico, falar de suicídio, mas para mim ficou uma imagem bonita, de alguém entrando no mar para se encontrar com não sei quem."

Dinah Washington, Unforgettable

A cantora e pianista de jazz norte-americana é uma das favoritas de Estela Sandrini. "Tenho a coleção inteira", fala. Ela a descobriu quando assistiu ao filme Tempestade, de Vittorio Gassman, cuja trilha sonora é formada por canções de Dinah. "Esse filme conta a história de um arquiteto que vai para a Grécia em busca de uma mudança na vida, e fala muito sobre essa passagem de quando a gente deixa de ser jovem e se sente um pouco mais envelhecida. Fiquei louca pela voz dela, uma cantora de jazz maravilhosa."

Dave Brubeck, Time Out

Esse entrou na seleção como homenagem ao marido, Rômulo Sandrini. "Sempre lembro dele com esse disco", conta Teca. A faixa preferida do CD é "Take Five".

Astor Piazzolla, todo Piazzolla

Estela Sandrini conheceu o cantor quando morou em Buenos Aires, na década de 1970. "Ele era jovem, ainda pouco reconhecido na Argentina. Diziam que ele tinha vindo para estragar o tango, e nós gostávamos dele, muito da forma do tango. Fico emocionada em escutar e contar essa história", diz ela, que foi cicerone do cantor quando ele veio a Curitiba, anos depois.

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