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Para Carlos Lopes, o Brasil tem uma elite “que sonha em rasgar a Constituição e tem orgasmos com uma ditadura militar”. | Divulgação
Para Carlos Lopes, o Brasil tem uma elite “que sonha em rasgar a Constituição e tem orgasmos com uma ditadura militar”.| Foto: Divulgação

A banda carioca de metal Dorsal Atlântica é um dos pilares do gênero no Brasil. O trio formado em 1981 é até hoje uma das bandas mais populares e influentes do país. Muito deste êxito pode ser posto na conta de seu líder, Carlos Lopes, figura venerada e contestada em igual medida, por suas composições e posturas que fogem do estereótipo ligado a cena do metal.

Depois de ter encerrado as atividades no ano 2000, a Dorsal Atlântica voltou a gravar em 2012 numa campanha de financiamento coletivo. No final do ano passado, a banda lançou pela gravadora Heavy o álbum Imperium, uma “ópera thrash” entre a história e a alegoria que é quase um tratado pauleira sobre a formação social do Brasil.

Disco

Imperium

Dorsal Atlântica. R$ 25,90 no site www.heavyrecords.com.br.

Somado à finalização de um documentário dirigido por uma dupla de cineastas formada em Curitiba, o trabalho representa um renascimento definitivo da Dorsal Atlântica.

Não faz sentido algum estar em um palco para divertir o público se, dessa sessão de descarrego que é o show ou o disco, não sair ninguém ferido ou com a cabeça mudada.

Carlos Lopes, compositor e vocalista da Dorsal Atlântica.

Lopes avalia este momento com racionalidade objetiva. “Fui honesto comigo e com todos, ao dar fim à Dorsal quando não me satisfazia artisticamente e fui democrático ao deixar que o público decidisse se a Dorsal deveria voltar à ativa para gravar discos e assim foi. Simples assim”, diz.

O álbum gravado no estúdio Superfuzz no Rio de Janeiro, com a formação original, além de Carlos nos vocais e guitarras, tem Cláudio Lopes (baixo) e Hardcore (bateria).

O disco Imperium contém 12 faixas cujos temas são a história política do “Brasil de hoje e de sempre”. “Foco tanto na história do Brasil para lembrar a todos que somos brasileiros e que não somos iguais a outros povos”, diz Lopes. “Sempre escrevi música para conscientizar. Em vez de usar uma arma, tenho empunhado uma guitarra há décadas. E, se for preciso, as palavras ferem, não trazem conforto ou acomodação. Esse é meu grande motivador.”

E continua: “Não faz sentido algum estar em um palco para divertir o público se, dessa sessão de descarrego que é o show ou o disco, não sair ninguém ferido ou com a cabeça mudada”.

Para Lopes, o álbum tem todos os elementos de uma ópera rock, a exemplo do que a própria banda já tinha feito com o álbum Searching the Light, de 1990 que tinha estrutura parecida e foi chamada de “ópera thrash”, pela imprensa. “Gostei do nome e venho usando desde então. E ópera também pode ser brasileira com acentos regionais, sem tratar a música brasileira como algo exótico”, diz Lopes.

Nas canções, Lopes retrata, com som pesado e inspirado, facetas da tragédia nacional que consiste em “prosseguir sendo o mesmo Brasil do período colonial, com a mesma cabecinha, mas com o verniz de uma República que atende a interesses dos que detém o capital”.

O músico avalia que a corrupção não é exclusividade de uma classe ou dos governantes. “Ela é disseminada em todos os segmentos da sociedade, que não assume seus próprios deslizes e se apraz em apontar o dedo. Nossa elite racista e analfabeta funcional não se esgotou com a queda do Império”, diz. “Ela se mimetizou nesta elite atual que sonha em rasgar a Constituição e tem orgasmos com uma ditadura militar. Pelo visto, já não bastam os capitães do mato que torturam negros escravos nas delegacias”, diz.

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