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 | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Conclamamos esta aldeia urbana para ver se a gente consegue fazer a diferença na vida de uma ou duas crianças, que passam com seus pais carrinheiros para recolher o lixo .

Presidente do Centro Cultural Humaitá, o ativista social e mestre de capoeira Adegmar José da Silva, o Candiero, afirma que a instalação do centro cultural no Capanema vai ajudar a dar visibilidade à presença do negro na formação da identidade curitibana.

A ocupação ajuda a revitalização do espaço?

Claro. E todo o nosso esforço será feito neste sentido. Não será um espaço do Centro Humaitá. Isto aqui é nosso, é um espaço da cidade de Curitiba que sempre foi problemático. Muitas pessoas foram mortas aqui. Virou um problema social que os governos municipais e estaduais não conseguiram resolver. Acreditamos que, unidos ao poder público e com a sociedade civil, podemos contribuir. Não posso garantir que vamos resolver. Isso o tempo é que vai dizer. Mas nós podemos contribuir tentando.

A localização do futuro centro é simbólica, pois fica no local onde surgiu o samba na cidade. Como a cidade vê hoje a participação da população negra em sua história?

Curitiba é a cidade com a maior população negra do sul do país, mas tem um histórico grave de apagamento da presença do negro na formação de sua identidade e de racismo velado e estruturado. A instalação do centro ajudará a resolver este problema de invisibilidade. O fato do poder público ter aceito nosso pedido é um bom começo.

Há muitos anos este espaço está abandonado e ocupado por moradores de rua e usuários de drogas. Como lidar com esta questão?

A ideia é trabalhar com eles. O espaço é deles também. Aqui é um espaço histórico de convergência da cidade. Não queremos afastar ninguém. A galera que está aqui precisa é de ajuda e nós queremos estender a mão. A Vila das Torres está a três quadras. A comunidade precisa vir para cá, assim como queremos trazer a academia, que precisa vir para cá. Lembrando que somos um centro de cultura negra. Ao negro sempre foi reservada a rua.

Como a cultura pode transformar uma área urbana degradada?

Há um pensamento africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Conclamamos esta aldeia urbana para ver se conseguimos fazer a diferença na vida de uma ou duas crianças, que passam com seus pais carrinheiros para recolher o lixo da cidade. Queremos que estes pais deixem seus filhos aqui, estudando. Estou muito esperançoso. No dia em que a gente conseguir fazer um menino que mora em um destes prédios vizinhos conviver e criar com um outro que mora na Vila das Torres, aqui do lado, dará para dizer que o trabalho valeu a pena.

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