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 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Exposição

Meu Bem

Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999, Centro Cívico), (41) 3350-4400. Panorâmica da trajetória de Beatriz Milhazes. Visitação de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. R$ 6 e R$ 3 (meia-entrada). Até 23 de fevereiro de 2014.

Enquanto buscava o casaco fino para se proteger do ar condicionado do Museu Oscar Niemeyer, a pintora carioca Beatriz Milhazes parava a cada pouco para observar, atentamente, as pinturas da exposição Meu Bem. No conjunto da mostra, em cartaz desde 21 de novembro em Curitiba, estão telas como Meu Limão, arrematada por US$ 2,1 milhões no ano passado, o que a tornou uma das artistas brasileiras vivas mais valiosas do mercado mundial de arte.

As cifras não a impressionam. "Eu não esperava nada do que aconteceu comigo", contou Beatriz em entrevista para a Gazeta do Povo, quando esteve na cidade para a inauguração da exposição – é a primeira vez que ela mostra suas obras em Curitiba. A artista de riso fácil não se considera um "fenômeno", mesmo com o reconhecimento de público e financeiro, e de projetos grandiosos programados para o ano que vem.

Além do MON, Beatriz está em cartaz com uma mostra na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo (que a representa no Brasil), e inaugura uma panorâmica itinerante nos Estados Unidos em setembro de 2014, partindo do Museu de Arte de Miami. No segundo semestre, a editora Taschen, especializada em livros de arte, lançará uma obra monográfica sobre a sua carreira.

Leia os principais trechos da entrevista:

Você iniciou sua carreira na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. O que a levou seguir esse caminho?

Na verdade, sou formada em jornalismo. Iniciei a graduação, mas no segundo ano me desestimulei um pouco com a profissão, com a ideia, o conceito... E aí minha mãe [Glauce], que é professora de história da arte na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), me sugeriu ir para a escola de artes. Fui fazer um curso de verão em janeiro de 1980 e, imediatamente, quando eu cheguei lá, há 33 anos, me senti completamente em casa. Não tive mais dúvida de que ali tinha um caminho que eu realmente queria percorrer. Mas acabei me formando em jornalismo também, para ter uma graduação.

E como foi viver este período no Parque Lage e integrar a chamada Geração 80, considerada uma época de revelação de novos artistas brasileiros?

Esse ano participei de uma mesa no museu Victoria and Albert, em Londres, e essa questão foi colocada. Acredito que a Geração 80 não foi um movimento organizado como outros que houveram na história da arte. Mas sim, um momento perfeito. Ainda estávamos na ditadura militar oficialmente, e a inauguração da exposição Como Vai Você, Geração 80? [organizada no Parque Lage por um salão nacional da Funarte, e aberta em julho de 1984] foi um momento de mostrar que tinha uma geração nova investindo em pintura. Era uma multidão no Parque Lage, as pessoas estavam esperando por uma coisa como aquela. Eu tinha 23 anos, ainda não me sentia uma artista, e recuei bem. Porque, de repente, eu estava dando entrevistas para jornais, recebendo propostas de galerias. E aquilo era um mundo muito desconhecido meu, que tinha acabado de abrir meu ateliê e sair da escola. Então eu fui devagar (risos).

E por que decidiu recuar?

Esse é um traço da minha personalidade, mas na época eu não me encantei por aquele lado. Eu era muito jovem. Achei tudo ótimo, mas sabia que mal tinha iniciado uma linguagem, e lidei de forma muito devagar. Comecei a trabalhar de forma calma, não investi no sucesso imediato. Eu gosto de entender o que está acontecendo, e na verdade eu não entendia muito bem (risos). Então preferi ir devagar e sempre.

Depois de quantos anos sua carreira deslanchou de fato?

A Geração 80 foi um empurrão, mas comecei a minha carreira internacional em 1990, primeiro na América Latina, depois nos EUA, Europa e Ásia, mais recentemente. No início do novo século, a sala que eu tive no pavilhão brasileiro da Bienal de Veneza, em 2003, me ajudou. Mas foi uma união de forças que fez uma decolagem.

Hoje, você é considerada uma das artistas brasileiras vivas mais valiosas no mercado de arte mundial, conquistou vários recordes em leilões internacionais. É algo que você imaginava?

Eu não esperava nada do que aconteceu comigo (risos). Porém, a questão do preço foi paulatina. Porque quando virou notícia, parece que eu dormi de um jeito e acordei de outro, virei "fenômeno". Foi um processo, e alguns fatores se juntaram. Desde o fato de eu ser pintora, porque o mercado, de uma forma geral, ainda é conservador, e a pintura é considerada alta arte, ainda não perdeu esse pedestal. Tem a questão também de uma nova situação do Brasil e do chamado terceiro mundo. Estávamos de fora, não participávamos dessas instituições do primeiro mundo, mas, finalmente, entramos neste mercado. Mas, ainda é um grupo pequeno.

E você, é colecionadora de arte?

Não, eu coleciono papel de bala! (risos) [na exposição, há vários trabalhos de colagens feitos com embalagens de produtos]. Tenho algumas coisas dos meus colegas, que eventualmente troco, mas não sou colecionadora. Eu gosto de arte, óbvio! Adoro pintura, mas o problema é que eu não tenho essa veia colecionadora. Se um dia eu resolver, provavelmente, vou comprar para doar para museus e instituições. Não tenho essa coisa da acumulação, gosto de conviver com as coisas, e o que eu tenho está exposto na minha casa ou no ateliê. Não gosto de ter coisas guardadas, já tenho que guardar a minha própria obra. Comprar para guardar não é uma coisa que me agrade muito não. Prefiro conviver com a arte através dos livros, das viagens e, quem sabe no futuro, eu resolva fazer doações. Eu gosto da ideia. Aliás, eu acho um papel muito interessante. O governo poderia trabalhar muito bem nisso, criar subsídios para que colecionadores tivessem algum benefício ao fazer doações.

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