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Snoopy: o cachorro beagle foi de coadjuvante a personagem central na década de 1960, revitalizando a série | Reprodução
Snoopy: o cachorro beagle foi de coadjuvante a personagem central na década de 1960, revitalizando a série| Foto: Reprodução

Com Snoopy Extraordinário, uma seleção das páginas dominicais da turma do Charlie Brown, a Cosac Na­­­­­­­i­­fy passa a publicar no Brasil edições temáticas dos personagens criados por Charles M. Schulz (1922-2000). A L&PM continua a editar as tiras em formato de bolso e também a coleção completa de Peanuts, da qual o terceiro volume acaba de sair.

Pela Cosac Naify, este semestre terá ainda Primeiro de Abril (coletânea de páginas dominicais e tiras) e O Natal do Snoopy (uma compilação dos trabalhos relacionados à data). As edições têm formato grande, de 22 cm x 29 cm, capa dura e são totalmente coloridas.

Vanessa Gonçalves, coordenadora editorial da série inaugurada com Snoopy Extraordinário, conta que, depois dos três primeiros livros, a ideia é organizar compilações originais e não traduzir as que existem no exterior – parte dos títulos elaborados pela Cosac Naify vem da francesa Dargaud. Por ter adquirido o direito de publicar as páginas de Snoopy, a editora brasileira é livre para organizá-las usando os critérios que quiser.

Charlie Brown e sua turma es­­­tre­­­­­aram nos jornais no fim dos anos 1940 e fizeram com os quadrinhos o que ninguém havia tentado até então. A proeza de Schulz passa pelos temas abordados nas tiras – ele foi o primeiro a falar de questões adultas como ansiedade e depressão – e também pela arte. Ele desenhava de um modo inédito, explorando os espaços em branco e usando poucos traços para dar vida aos personagens (enquanto os outros faziam trabalhos sobrecarregados de informações).

À revelia de Schulz, a tira foi batizada de Peanuts e por ela passaram Charlie Brown, sua irmã Sally, os irmãos Lucy, Linus (do cobertor) e Rerun van Pelt (o menino que saía de bicicleta com a mãe, sentado numa cadeirinha), o pianista Schroeder, Pigpen (o garoto sujinho), Patty Pimentinha e Marcie. Além do pássaro Wood­­stock e do cachorro Snoopy, que deu novo fôlego à série ao deixar de ser um coadjuvante no fim dos anos 1960.

Quase todas as figuras aparecem em Snoopy Extraordinário e são retratos mais ou menos fiéis de pessoas que fizeram parte da vida do cartunista ou dele próprio – ao menos de acordo com David Michaelis, autor da biografia Schulz and Peanuts (HarperCollins, 2007, inédita no Brasil).

A mandona Lucy, que atormenta Charlie e é apaixonada por Schroeder (duas facetas da personalidade de Schulz: o inseguro ambicioso e o artista criativo), teria sido inspirada na primeira mulher do desenhista, assim como ele teria sustentado uma paixão não correspondida por uma garotinha ruiva – enredo que inspira um dos episódios da série.

O volume ora lançado pela Co­­sac Naify traz alguns momentos antológicos: Snoopy encarnando o "ás voador da Primeira Guerra Mundial" sentado no telhado de sua casinha, Lucy oferecendo "ajuda psiquiátrica" a R$ 0,10 a consulta e Charlie Brown exercitando sua insegurança como técnico e arremessador do time de beisebol.

As preocupações, neuras e atitudes das crianças cabeçudas criadas por Schulz podem parecer estranhas num primeiro olhar. Talvez por isso o escritor Jonathan Franzen, do romance As Correções, tenha se identificado com o cão Snoopy.

"Como a maioria dos meninos de 10 anos nos Estados Unidos, eu tinha uma relação intensa e íntima com o beagle Snoopy. Ele era um animal solitário e humanizado que vivia entre criaturas maiores de uma espécie diferente. Essa era mais ou menos a sensação que eu tinha na minha casa", escreveu Franzen no texto "The Comfort Zone", de 2004, sobre sua relação com os cartuns de Schulz. "Numa tira de quadrinhos cheia de crianças, o cachorro era o personagem que eu identificava como sendo de fato uma criança."

No melhor de sua forma, o trabalho de Schulz chegou a ser publicado diariamente em 2,6 mil jornais de 75 países diferentes. Eram 300 milhões de leitores que falavam 21 línguas distintas. O último dia 12 de fevereiro marcou os dez anos de sua morte. Schulz tinha uma personalidade complicada. Era introspectivo e obcecado pelo trabalho. Desenhou a tira de Snoopy e Charlie Brown por quase 50 anos, até pouco antes de sua morte. A tira derradeira, na qual anunciava a aposentadoria e se despedia dos leitores dizendo que Peanuts era a "realização de uma ambição de infância", foi publicada um dia depois de morrer.

Serviço

Snoopy Extraordinário, de Charles M. Schulz. Tradução da Intercontinental Press. Cosac Naify, 56 págs., R$ 45.

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