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Catherine Deneuve veio ao Brasil para divulgar seu último filme, Potiche | Divulgação
Catherine Deneuve veio ao Brasil para divulgar seu último filme, Potiche| Foto: Divulgação

Mademoiselle Deneuve não gosta de ser conhecida como "a bela da tarde", personagem que dá título ao filme de Luis Buñuel, produzido nos anos 60, que a tornou conhecida como musa gélida, juntamente com seu papel em Repulsa ao Sexo, de Roman Polanski. "O papel não me incomoda, muito pelo contrário. Eu o escolhi, mas a mídia tem essa mania de querer vincular o ator ao personagem", disse a ainda bela, mas nada fria atriz, em entrevista coletiva na última quinta-feira, no Rio de Janeiro, para divulgar o filme Potiche, de François Ozon, que abriu o Festival Varilux de Cinema Francês.

Deneuve se mostrou muito sensível às questões dos jornalistas – e, por vezes, intempestiva, no que a palavra tem de melhor. Ao responder sobre o que ainda a emocionava após tudo o que viveu, a atriz de 67 anos mencionou ter se comovido, poucas horas atrás, ao visitar o ateliê dos (designers Fernando e Humberto) irmãos Campana, em São Paulo, onde também esteve divulgando o filme. "Não sou blasé, vivi muitas coisas, mas o novo continua me transportando. Creio que até o fim da minha vida será assim, é do meu temperamento, não sou nostálgica, não olho muito para o que ficou para trás."

A atriz não se satisfez em ter sido diva no passado de alguns dos maiores diretores do cinema como Buñuel, Truffaut, Polanski e Jacques Demy – diva, aliás, é palavra operística que não aprecia por parecer um tanto pejorativa quando utilizada para falar de atrizes. Está sempre, ao longo das décadas, se renovando em produções de nomes contemporâneos, como o do polêmico di­­namarquês Lars Von Trier, a quem admira muito e solicitou um papel por carta, que viria a interpretar em Dançando no Escuro; Ozon, com quem quis refazer em Potiche a "doida" parceria de 8 Mulheres; e, mais recentemente, com Christophe Honoré, em Les Bien-Aimés (de As Canções de Amor), em que atua e canta ao lado de um elenco que inclui sua filha com Marcelo Mastroianni, Chiara. "Sou uma atriz que canta, não uma cantora. Em Guarda-Chuvas de Amor (de Demy), como a música era complexa, foi dublada. Já Honoré pensou nas canções do filme de modo que elas pudessem ser cantadas pelo elenco, o que todo o ator gosta de fazer", diz.

Sobre sua parceria com Chiara na vida profissional, foi taxativa: "Não vou falar da minha filha". Brincou apenas que o ditado ‘tal mãe, tal filha’ não se aplica entre elas. "Somos muito diferentes. Chiara é muito italiana, eu nem um pouco. Por isso, nos damos bem." A atriz também não gosta de comparar Ozon e Honoré a Demy. "São jovens diretores que se inspiram em nomes que admiram. Mas o olhar que eles têm sobre mim ou sobre seus filmes de modo geral é próprio", esclarecendo que a fábrica de guarda-chuvas da família Pujol, em Potiche, já existia na peça que deu origem ao filme.

Catherine não se furta em defender sua personagem "potiche", Suzanne Pujol, uma dona de casa tratada como mero bibelô pelo marido, um rico empresário que dirige a tal fábrica de guarda-chuvas. "Ela parece uma mulherzinha gentil, apagada, que não quer ver sua família destruída, mas que consegue tomar o poder", rejubila-se, admitindo que há um pouco dela mesma, ainda que não saiba localizar bem de que modo, nesta esposa-troféu que se torna diretora de empresa e política.

Mulheres no cinema

A julgar pelas atrizes e diretoras trazidas ao Brasil pela Mostra Varilux, as mulheres se multiplicam no cinema francês atual, seja à frente ou atrás das câmeras. E Catherine celebra essa maior participação feminina não só na sétima arte. "Vocês tem uma presidente da República mulher, nós quase tivemos uma. Nos últimos 20 anos, a mulher se tornou mais política", diz, lembrando que ainda há muito a ser conquistado. "O salário do homem e da mulher ainda não é igual."

Isso não significa, é claro, que Catherine concorde com o modelo rígido imposto às atrizes na cultura norte-americana, que precisam ser sempre jovens, bonitas e magras. "Há um culto à beleza, à juventude, mas cada cultura tem suas fantasias e excessos. Se envelhece melhor na Europa", diz, relativizando a queixa de Meryl Streep de que é muito difícil conseguir bons papéis aos 60. "Ela é uma mulher muito admirada, que faz muitos filmes, mas é preciso aceitar que, como na vida, não se pode desempenhar sempre os mesmos papeis. Eu não posso representar um corpo de 20 em um de 50", exemplifica. "Mas o de 50 também oferece muitas possibilidades", diz.

Para ela, o que dá menos brilho ao cinema é o excesso de visibilidade dos atores e atrizes. "Falta mistério, e a culpa é da mídia. Não quero saber se um ator vai buscar os filhos na escola, se come isso ou aquilo. Sou amante do cinema, me interessa ver os atores fazendo cinema", diz a atriz. E aproveitou para repreender parte da imprensa que a criticou por fumar na sala onde ocorreu um encontro com jornalistas em São Paulo. "Na França, podemos fumar em locais privados. Se soubesse que aqui não podia, teria evitado fumar. Estou aqui para divulgar Potiche, e não para ficar conhecida como fumante compulsiva."

A jornalista viajou a convite da organização do Festival Varilux de Cinema Francês.

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