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 | Miguel Nicolau Abib Neto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau Abib Neto/Especial para a Gazeta do Povo

Roteiro adaptado gerou polêmica entre diretor e lutador

Algumas das adaptações do roteiro de Foxcatcher à história real em que o filme foi baseado revoltaram o único personagem vivo do triângulo de protagonistas da trama.

Quando o filme foi lançado, em maio do ano passado durante o Festival de Cinema de Cannes, o lutador Mark Schultz usou sua conta na rede social Twitter para vociferar contra as soluções dramáticas encontradas pelo roteiro e pela direção de Bennett Miller.

"O filme não mostra direito nenhuma de minhas vitórias. Só focaliza minhas derrotas", afirmou Schultz. "Deixar o cinema com a sensação de que houve uma relação sexual entre mim e Du Pont é uma mentira ofensiva e doentia", escreveu o lutador.

Na semana passada, quando foram divulgadas as indicações do longa ao Oscar, o lutador mudou de tom e chegou a pedir desculpas ao diretor, dizendo que o filme "acerta ao prestar homenagem à sua memória e à do irmão, Dave Schultz", mas que vai lançar seu próprio livro de memórias para contar a história real.

Segundo Schultz afirmou em entrevista ao jornal inglês The Guardian, ele teria inclusive procurado o diretor pedindo que algumas cenas fossem cortadas. Miller teria respondido que as cenas existiam "para dar ao público a sensação de que Du Pont invadia a privacidade".

Indicado ao Oscar, o roteiro original de Foxcatcher foi escrito por E. Max Frye e Dan Futterman. A dupla já tinha colaborado com Miller no elogiado texto de Capote, em 2005.

Ainda que a crítica internacional tenha recebido muito bem o filme, parte da imprensa especializada tem contestado este e outros roteiros de filmes desta safra do Oscar que também são baseados em eventos reais. Longas como Selma e Jogo de Imitação têm sido confrontados à luz das versões históricas mais aceitas de seus respectivos fatos inspiradores.

No caso de Foxcatcher, as reclamações têm a ver com datas, com o nível de envolvimento entre os personagens reais e com o desfecho da trama que teve grande repercussão na imprensa norte-americana em 1996.

Cinco

é o número de indicações ao Oscar que Foxcatcher – A História que Chocou o Mundo recebeu: Melhores Diretor, Ator, Ator Coadjuvante, Roteiro Original e Maquiagem.

A atuação do protagonista Steve Carrel, um dos favoritos ao Oscar de melhor ator, é a nota mais alta do filme Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo, que estreia hoje nos cinemas de Curitiba.

Irreconhecível, não apenas pela prótese nasal usada para ficar incrivelmente parecido com o bilionário John E. Du Pont, o ator de comédias como O Virgem de 40 Anos hipnotiza o público ao criar um personagem envolvente e detestável no seu primeiro papel dramático importante.

A voz que Carrel dá a seu personagem é um capitulo à parte. Irritante, aguda e entrecortada por momentos de silêncio e hesitação, ela conduz o ritmo da narrativa: tensa, lenta, exasperante.

Carrel responde muito bem ao tipo de caracterização hiper-realista que a direção de Bennett Miller expõe em sua filmografia recente.

Tanto em Capote (2005) quanto em Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo (2011), Miller construiu seus protagonistas a partir de uma minuciosa recriação física e psicológica de personagens reais.

Luta

A trama do filme é baseada na história dos irmãos Schultz, Dave (Channing Tatum) e Mark (Mark Ruffalo), ambos vencedores da medalha de ouro em luta greco-romana nas Olimpíadas de Los Angeles (1984).

Dois anos depois, o sisudo Mark leva uma vida modesta entre os treinos e seu apartamento ordinário. A única relação pessoal que mantém é com o irmão e mentor Dave. Simpático e talentoso, o irmão mais velho parece, no entanto, mais preocupado em cuidar de sua família perfeita.

As coisas mudam quando Mark recebe a visita de um emissário do herdeiro bilionário da família Du Pont, tradicional clã norte-americano da indústria química e de guerra.

Entusiasta de esportes, Du Pont convida Mark a treinar no centro de treinamento que constrói em sua fazenda Foxcatcher, na Pensilvânia. O lutador se muda para lá e então surge uma relação íntima e estranha, baseada em dominação (essência da luta greco-romana) e num insano fascínio recíproco. Mark se torna um títere do dinheiro de Du Pont, que por sua vez não consegue comprar o brilho, o talento, nem a juventude do lutador.

A chegada de Dave e sua família à propriedade acirra as emoções (e a loucura) que levam ao desfecho trágico e bizarro da história que causou comoção nos Estados Unidos, mas não repercutiu muito no Brasil.

Além das grandes atuações do trio, e das participações preciosas de Siena Miller e Vanessa Redgrave, o filme tem o mérito de mostrar a dualidade entre a surreal vida dos bilionários de "dinheiro antigo" da costa leste americana e a rotina dura e sem glamour dos esportistas que não estão na pequena minoria de estrelas dos esportes midiáticos.

Miller se firma como um bom contador de histórias de sua geração de cineastas, ainda que precise sacrificar fatos reais em nome de sua dramaturgia psicológica.

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