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Jhon Jairo Velásquez Vásquez, o Popeye: mais de 250 assassinatos a mando de Pablo Escobar | /Divulgação
Jhon Jairo Velásquez Vásquez, o Popeye: mais de 250 assassinatos a mando de Pablo Escobar| Foto: /Divulgação

No auge da época das guerras de cartel da Colômbia, um dos “sicarios” – como eram chamados seus assassinos – mais temidos atendia pelo nome de Popeye. Ele tinha o queixo proeminente, assim como o do personagem do desenho, e era a mão direita de Pablo Escobar, ajudando-o a manter o domínio do seu cartel de Medellín sobre a Colômbia no final da década de 1980.

Ele gozou de muitos anos de impunidade, durante os quais alega ter matado pessoalmente pelo menos 250 pessoas, incluindo sua própria namorada, e dado ordens para matar mais milhares de outras vítimas. Enfim foi preso em 1992 e condenado por apenas um único atentado, apesar de ter sido um dos mais hediondos, que lhe rendeu 22 anos na cadeia. “Eu estimaria ter matado pelo umas 250 pessoas com as próprias mãos”, ele disse uma vez, “mas só psicopatas ligam para os números”.

Popeye, que agora tem 54 anos, foi libertado da prisão por “bom comportamento” e imediatamente tratou de se reinventar. Hoje atende pela alcunha de “Popeye Arrepentido”, que é o nome do seu canal no YouTube, onde desfruta de uma popularidade fenomenal, com quase 100 vídeos e mais de 100.000 inscritos.

Nos vídeos, Popeye, cujo nome real é Jhon Jairo Velásquez Vásquez, conta histórias envolventes de seus anos no cartel. Ele capturou a imaginação de um público que ainda tem um fascínio mórbido por Escobar e seu aparato violento. Todos os vídeos do canal começam com um bala em câmera lenta cruzando a tela ao som de rock’n’roll. Ele disse ao jornal inglês The Guardian numa entrevista que “pode parecer uma glorificação da vida do crime, mas serve para atrair os jovens”.

Memória histórica do cartel de Medellín

Popeye usa os vídeos para confessar crimes, incluindo um atentado a bomba cometido num avião que matou mais de 100 pessoas Divulgação

Há quem ainda venere Escobar na Colômbia. Comemoram-se seus aniversários de morte e nascimento, e seu túmulo foi convertido num tipo de santuário. Sua vida foi recentemente transformada na minissérie da Netflix de sucesso chamada “Narcos”. Escobar foi morto em 1993 num confronto com a polícia.

Num dos vídeos, Popeye se refere a si próprio como “a memória histórica do cartel de Medellín” e diz que está pronto para “contar tudo”. Ele usou os vídeos para confessar incontáveis crimes, incluindo um atentado a bomba cometido num avião que matou mais de 100 pessoas, mas que visava matar um único passageiro, um possível candidato à presidência (o candidato acabou nunca pisando nesse avião e se tornou o presidente da Colômbia).

Ele também usa os vídeos para responder a dúvidas que muitas vezes partem dos próprios colombianos, ainda assombrados pela violência do período. Num desses diálogos, o irmão de um policial assassinado pergunta a Popeye se ele estará à altura do seu novo nome e se irá demonstrar seu arrependimento se encontrando com as famílias das vítimas.

“Essa é uma pergunta dolorosa para mim”, ele responde. “É importante que eu possa me encontrar com elas para pedir o seu perdão cara a cara e aceitar a minha responsabilidade”.

“Luta pela democracia”

O remorso é um sentimento que aparece em muitos dos seus vídeos. Parte disso pode ter origem em suas experiências com terapia enquanto ainda estava preso. Durante oito anos ele trabalhou com um terapeuta para chegar a algum tipo de reabilitação. “Todos os dias eu fazia uma lista de todas as coisas horríveis que eu havia dito aos guardas”, ele disse. “De pouquinho em pouquinho, fui mudando meu modo de pensar e agir”.

Mas Popeye usa também os vídeos para comentar questões atuais da América Latina. Em seu segundo vídeo mais recente, que também é o seu mais visto, ele responde ao que sentiu ter sido uma ofensa vinda de Diosdado Cabello, um político venezuelano do partido que está no governo do país. O vídeo é intitulado “¡¡ De BANDIDO a BANDIDO !!” e nele Popeye se refere a si mesmo como alguém “que luta pela democracia”. Ele tem toda a aparência de um historiador pop, no que aponta, animadamente e até perder o fôlego, os muitos fracassos da revolução bolivariana. Ele se defende afirmando que os políticos venezuelanos, através de suas políticas, mataram talvez mais gente do que ele mesmo havia matado.

Em outro, ele faz comentários sobre Joaquín “El Chapo” Guzman, um dos chefes do crime do México, que muitas vezes é comparado com Escobar. El Chapo foi preso no começo do ano, após escapar da prisão pela segunda vez, e está em vias de ser extraditado aos Estados Unidos. “Sua principal fraqueza é sua falta de disciplina e o seu ego”, diz Popeye. “Foi por isso que ele foi parar na cadeia. Ele teve o azar de ter sido pego com vida. Agora vai morrer na prisão” – diferentemente do Popeye Arrepentido.

*Max Bearak era o repórter das notícias do sul da Ásia para o New York Times e hoje escreve sobre assuntos estrangeiros para o Washington Post.

Tradução: Adriano Scandolara
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