
O auditório escuro e a música de filme de terror ao fundo no evento secreto promovido pela Vigor Mortis na noite da última quarta-feira, no auditório do campus Juvevê da Universidade Federal do Paraná (UFPR), deu o tom do que o público convidado, que não sabia do que se tratava, veria. Logo depois de uma breve espera, o mistério foi quebrado: o diretor Paulo Biscaia Filho exibiu, pela primeira vez, o novo longa-metragem da companhia, Nervo Craniano Zero, que abriu, dois dias depois, o 6.º Festival Internacional de Cinema Fantástico Porto Alegre (Fantaspoa).
Rodado em Curitiba e viabilizado pelo Fundo Municipal de Cultura, com patrocinadores locais e distribuição da Moro Filmes, Nervo Craniano Zero é uma adaptação da peça homônima (de 2009), e o segundo longa da companhia (o anterior foi Morgue Story Sangue, Baiacu e Quadrinhos). Rodado apenas e intensamente durante duas semanas, a produção de Biscaia faz referências a filmes de horror de John Carpenter e David Cronenberg, e tem uma forte vertente cômica, principalmente por conta da excelente atuação da atriz e cantora (vocalista do fenômeno musical A Banda Mais Bonita da Cidade), Uyara Torrente, que rouba a cena no filme.
Interpretando Cristi, uma menina que vem do interior sonhando com fama e sucesso, a personagem de Uyara acaba sendo cobaia de um plano inescrupuloso da escritora de sucesso Bruna Bloch (Guenia Lemos). Para evitar sair da lista dos mais vendidos, Bruna usa Cristi para a implantação de um chip indutor de descargas de dopamina que, quando colocado no cérebro humano, gera surtos de inspiração. A invenção é do Dr. Bartholomeu Bava (Leandro Daniel Colombo, fiel parceiro da companhia e também em ótima interpretação), que perdeu sua licença médica após um acidente nas pesquisas para a criação do aparelho. Cristi então acaba virando uma "escrava" de Bruna, e escreve livros compulsivamente.
Tecnicamente bem resolvido, o maior mérito de Nervo Craniano Zero é ser, de fato, imprevisível. Diferentemente da grande maioria das produções atuais, é difícil saber qual será o desfecho da história que, merecidamente, beneficia a pobre Cristi. O filme também acertou na maioria das cenas de flashback dos personagens e colocou ainda mais humor ao trazer, por exemplo, o estereótipo do crítico literário irritante, que analisa uma das obras de Bruna. Nas interpretações, o tom teatral ainda é muito presente na tela e o roteiro, apesar de original, é menos acertado do que o do longa anterior.
Distribuição
Antes da exibição, Paulo Biscaia Filho contou que Nervo Craniano Zero terá um sistema de distribuição diferente do convencional. "Não quero ficar refém de um circuito exibidor que só liga para os grandes filmes", disse. Biscaia destacou que a estratégia será realizar ocupações de espaço com o filme ao longo do ano, a exemplo do que foi feito na UFPR. A produção também será exibida em um festival no estado do Kentucky (EUA).
GGG



