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Carnaval de 2009 em Curitiba, no Centro Cívico: Oito escolas desfilaram (uma desistiu). Os organizadores esperavam 35 mil espectadores, mas somente três mil compareceram. | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Carnaval de 2009 em Curitiba, no Centro Cívico: Oito escolas desfilaram (uma desistiu). Os organizadores esperavam 35 mil espectadores, mas somente três mil compareceram.| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Bernardo Pilotto, ao rebater o artigo em que eu dizia que a Prefeitura não deveria destinar nenhum centavo ao carnaval curitibano, conseguiu me convencer. Eu estava errado. Em tempos de crise, o que realmente faz sentido é gastar mais dinheiro público em festas populares que nunca precisaram do estado para acontecer. Se não fizermos isso, seremos todos elitistas.

Por isso acho que devemos estender o financiamento de R$ 500 mil que a Prefeitura de Curitiba dá ao carnaval também aos vários bailes funk que são realizados pela cidade. Ao contrário do que acontece com a Oficina de Música, que, de acordo com Bernardo Pilotto, “conta com uma fase erudita, atrai turistas de fora e é frequentada majoritariamente por moradores do Centro da cidade e de seus arredores”, os bailões são voltados para as camadas mais desfavorecidas da população. Nesta mesma toada, sugiro mais impostos para financiar festivais de música sertaneja, axé e qualquer tipo de música que Pilotto e seus amigos considerem “não-elitistas”.

Findando a ironia por aqui, logicamente é bem difícil que a parcela de impostos retirada do carnaval pelo prefeito Rafael Greca seja utilizada de maneira eficiente em outra área, dada a conhecida ineficiência do estado em lidar com o dinheiro alheio.

Opção preferencial pelos pobres

O que Pilotto desconhece ou finge desconhecer, no entanto, é que os impostos que ele deseja ver investidos no carnaval são retirados justamente dos pobres.

Dados de um estudo produzido pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do governo, em 2004, mostrou que “famílias com renda de até dois salários-mínimos pagam 48,8% da sua renda em tributos; famílias com renda acima de 30 salários-mínimos, cerca de 26,3%.” Em 2008, uma projeção do mesmo instituto mostrou como a lógica dos impostos é especialmente cruel com a camada mais desfavorecida da população. Em apenas quatro anos, essa mesma faixa salarial passou a ver 54% de sua renda destinada a tributos, um aumento de 10%. Seguem as palavras do IPEA: “Dos cidadãos mais pobres terminou sendo exigido um esforço equivalente a 197 dias [para pagar impostos], enquanto que os cidadãos mais ricos aportariam 106 dias – três meses a menos.”

Sossego

Bernardo também palpita que “o carnaval tem muito potencial para girar a economia”. Orlando Kubo, da seção Paraná da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis afirmou, que, de fato, durante o carnaval a lotação dos hotéis aumenta. “Os turistas vêm para Curitiba porque é mais sossegado durante o Carnaval”, disse, por meio de sua assessoria de imprensa. A grande “commodity” do carnaval curitibano é justamente sua irrelevância.

Por isso mesmo não faz sentido pedir dinheiro ao estado para realizar esse desfile engessado, que tende ao profissional, quase uma emulação de desfile militar, onde não existe brincadeira, que tem, sim, origem no estado fascista de Getúlio Vargas. Embora seja óbvio que eu não esteja afirmando que o carnaval seja fascista.

O funk, o axé, o sertanejo, o samba e festas como o carnaval não precisam de nenhum financiamento. Todos esses estilos musicais possuem demanda suficiente para atrair público de todas as classes sociais. Todos os dias, em todas as cidades do Brasil, alguém está ouvindo, tocando ou dançando ao som desses ritmos. Sem que o governo precise estipular cotas ou algo que o valha. O carnaval sempre foi uma festa espontânea.

Nada traduz melhor certo tipo de elite política e cultural que a mania de falar em nome dos pobres. Geralmente quem acaba pagando a conta são justamente os mais indefesos.

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