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George Clooney em “Jogo do Dinheiro”: crônica sobre o ressentimento com a crise financeira | Atsushi Nishijima/TriStar Pictures
George Clooney em “Jogo do Dinheiro”: crônica sobre o ressentimento com a crise financeira| Foto: Atsushi Nishijima/TriStar Pictures

George Clooney faz caras e bocas, dança e parece estar se divertindo como nunca em “Jogo do Dinheiro”, no qual interpreta o apresentador de um programa sobre finanças na TV a cabo com a agressividade de Jim Cramer (apresentador de um programa do gênero na TV a cabo americana) e o autocontentamento exibicionista de um “Vendedor de Ilusões” dos dias atuais.

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Com seus maneirismos para a audiência, frases de efeito espirituosas e assistentes de palco à direita e à esquerda, o personagem de Clooney, Lee Gates, é o rosto público metido e autoimpressionado da arrogância e do egocentrismo pós-2008, um garoto propaganda para os jogadores de Wall Street que o tratam como um igual (“Nunca jantei sozinho desde os anos 90”, ele se vangloria a certa altura) mas secretamente o veem como um idiota útil.

A tomada de consciência, por parte de Gates, de que ele tem sido um peão em um jogo comprado é uma dos temas mais interessantes que compõe o pano de fundo da ação de “Jogo do Dinheiro”, na qual a diversão e os jogos se interrompem abruptamente quando um investidor ressentido – um jovem trabalhador chamado Kyle, interpretado por Jack O’Connell – invade o estúdio de Gates com uma arma e força o apresentador a vestir um colete-bomba.

Kyle não quer seu dinheiro de volta, ele insiste, só quer saber para onde o dinheiro foi. Sucedendo-se praticamente em tempo real, “Jogo do Dinheiro” relata os esforços de Gates – e sua diretora, interpretada por Julia Roberts – para apaziguar Kyle, encontrar respostas para suas perguntas e impedir que todos, plebeus e plutocratas, explodam.

“Velocidade Máxima”

Eficientemente dirigido por Jodie Foster, “Jogo do Dinheiro” abre com um começo promissor, não apenas em virtude da divertida postura jocosa de Clooney enquanto um hedonista superficial, mas também graças à sua relação fácil e brincalhona com Roberts, cuja constante voz em seu ouvido lembra a dinâmica entre Emily Mortimer e Jeff Daniels na série da HBO “Newsroom” – algo mais impressionante ainda dado o fato de que Clooney e Roberts gravaram suas cenas separadamente, de acordo com Foster. Com roteiro de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf, o filme tem uma energia tensa e nervosa que transforma o que é essencialmente uma peça de câmara com três pessoas em um thriller instantâneo, em termos de conteúdo.

Impulsionado pelo mesmo ressentimento popular de filmes como “A Grande Aposta”, do ano passado, e da campanha eleitoral mais comentada deste ano, “Jogo do Dinheiro” é tudo menos extemporâneo, o que tornam ainda mais decepcionantes as viradas cada vez mais absurdas, até mesmo ingênuas, que a trama dá. O que poderia ter se tornado um clássico contemporâneo à altura de “Um Dia de Cão” ou “Rede de Intrigas”, em vez disso se torna “Velocidade Máxima”, só que com negociações em alta frequência e algoritmos misteriosos.

“Quarto Poder”

Na verdade, o filme a que “Jogo do Dinheiro” se assemelha mais de perto é “O Quarto Poder”, uma parábola mal concebida sobre imprensa e violência que foi lançada há 20 anos e foi quase imediatamente esquecida. Nesse caso também a relevância do filme foi anulada por um enredo excessivamente elaborado e, no fim das contas, nada crível.

Vale a pena notar que Kouf é o roteirista por trás dos filmes das franquias “Hora do Rush” e “A Lenda do Tesouro Perdido”: “Jogo do Dinheiro”, que é seu melhor quando é mais agudamente realista e oportuno, sofre do tipo de reviravoltas que só acontecem em filmes de Hollywood e exageros que te fazem revirar os olhos que resultam em uma ação de filme B mais esperta que o usual, mas ainda assim de qualidade duvidosa.

Mesmo assim, pela maior parte de seu rápido tempo de projeção, “Jogo do Dinheiro” é admitidamente divertido, especialmente quando Gates bate na ideia de convencer seus fãs a investir na ação oscilante para trazer Kyle de volta ao balanço positivo: seu discurso para os telespectadores, no qual ele os chama a agirem como seres humanos e não computadores, é entregue com cada grama da mesma sinceridade que o personagem de Clooney em “Ave, César!” levou à sua preleção no momento da crucificação de Cristo.

Com todo seu papo sobre falhas de sistema e “cisnes negros”, “Jogo do Dinheiro” acaba revelando a si próprio como um pouco de cisne negro: não bem o drama sofisticado que nossa época merece, mas também não o típico exercício de gênero carcomido de adrenalina. Mesmo com os fundamentos no lugar para entregar um bom lucro, se mostra uma transação que deu apenas para amortizar o investimento.

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