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 | Osvalter Urbinati
| Foto: Osvalter Urbinati

O bom em Nick Hornby é que a veia pop não é tão tosca quanto poderia.

Quando escreveu sobre futebol (Febre de Bola), lançou mão de memórias da infância e de relacionamentos familiares. Quando escolheu boa música e losers como tema (Alta Fidelidade), invocou um método que virou tendência midiática: a criação de listas.

Depois de cinco anos afastado da literatura, o carequinha britânico retorna ao romance com Funny Girl, em que fala sobre o nascimento de uma celebridade pop com um pano de fundo interessantíssimo em que discute política, liberação sexual, a privacidade e a às vezes conflituosa relação entre ficção e realidade.

Contexto

Escritor sempre defendeu a qualidade de livros populares.

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Funny Girl se passa na Inglaterra dos anos 1960. É um interessante período de transição entre o pós-guerra e o que viria a se chamar de Swinging London, época borbulhante nas artes da terra da Rainha, com a consolidação de bandas como Beatles e Rolling Stones, a retomada do cinema inglês com a Bondmania e até a moda – foi nessa época que a estilista Mary Quant deixou o mundo de queixo caído ao apresentar a minissaia.

É esse o contexto escolhido por Hornby para contar a história de Barbara, garota de Blackpool, no noroeste da ilha, que sonha em ser uma atriz de comédia.

Ela vence um concurso de beleza em sua cidade de origem, mas renega a fama quando percebe que talvez precise posar de maiô a vida inteira e dar autógrafos para quem não quer só um autógrafo. Barbara é fã de carteirinha de Lucille Ball (1911-1989), protagonista da sitcom I Love Lucy, febre da tevê norte-americana entre 1951 e 1967.

Livro

Funny Girl

Nick Hornby. Romance. Tradução de Christian Schwartz. Companhia das Letras. 424 págs. R$ 44,90.

Com o imaginário de Lucy na cabeça, e sabendo que mulheres não têm grandes chances na tevê, Barbara se muda para Londres. Passa um tempo trabalhando em uma loja de departamentos. Recebe cantadas e propostas indecorosas – Hornby trata de machismo aqui – e numa dessas encontra um empresário que, após oferecer uns drinques, a convida para fazer um teste.

Barbara detona. Há uma nova série a caminho, e sob o pseudônimo de Sophie Straw, a garota do interior estrela Barbara (e Jim), programa que mudaria sua vida mesmo antes de se tornar nacionalmente conhecida. Num dos primeiros dias de gravação, ela opta pelo estúdio ao invés da visita ao pai, vítima de um ataque cardíaco. Tudo pela fama?

A série é produzida por Dennis, sujeito sério e desiludido por quem Barbara nutre um sentimento respeitoso. E escrita por Bill e Tony, dois rapazes que se amam e odeiam na mesma medida – na verdade, eles têm algo mal resolvido.

Tradução

A Companhia das Letras está reeditando os livros de Nick Hornby com novas traduções, feitas pelo curitibano Christian Schwartz. Ele foi responsável por verter ao português Alta Fidelidade, Febre de Bola, Uma Longa Queda e, mais recentemente, Funny Girl.

O descolado Clive, com quem Barbara vai para a cama algumas vezes, interpreta Jim. Com o sucesso improvável da série – um episódio sobre um vazamento no banheiro se torna o mais visto de todos os tempos, com direito a especial de Natal – faz com que a relação pessoal dos artistas se misture à ficção. Os conflitos da vida são levados ao palco. A tensão cresce.

Divido em temporadas, o livro torna-se, a partir da segunda metade, um interessante estudo sobre a gênese de uma popstar desbocada e corajosa.

Isso numa época em que era preciso que um homem, John Cleese, do Monty Phyton, vestisse saias para arrancar risadas dos britânicos conservadores. Era impagável, mas anacrônico.

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