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Aos 77 anos, o escritor queniano Ngugi wa Thiong’o (pronuncia-se algo como “gugui ua tiongo”) caminha a passos lentos e ritmados. Mas com cuidado extra na acidentada geografia das pedras de Paraty.

“Liguei para a minha família para contar que as ruas são feiras de pedras brutas do Oceano Atlântico e que, daqui, olhando para o mar, estou encarando a África de frente”, diz.

Ele lembra que essa proximidade foi trágica na formação da cidade. “Sei que muitas pessoas foram escravas aqui e também há uma história de sangue nessas ruas”, diz.

Convidado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), onde participaria de uma mesa com o escritor australiano Richard Flanagan na tarde desta sexta-feira (3), Ngugi foi publicado pela primeira vez no Brasil em dose dupla pela editora Alfaguara.

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O romance “Um Grão de Trigo” e o livro de memórias “Sonhos de Tempo de Guerra” apresentam definitivamente sua literatura para os brasileiros.

Até então só sabíamos de Ngugi a partir de textos sobre sua vida e livros, como o perfil escrito por John Updike em 2006 na revista “New Yorker” e sempre nas vésperas do prêmio Nobel.

O nome do queniano é sempre um dos mais cotados para receber a láurea da Academia Sueca.

Toda a sua obra, que inclui romances, poesia, ensaios políticos e peças de teatro escritas nos últimos 50 anos, era desconhecida no país.

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Os livros separados por mais de 40 anos têm em comum a ambientação: o momento no início dos anos 1960 em que grupos organizados lutavam pela independência do Quênia.

Ngugi se diz lisonjeado pela lembrança do seu nome quando se fala do Nobel, mas afirma que o prêmio, para ele, é quando alguém o procura para dizer que foi impactado por seus livros. “As pessoas me dizem que meus livros as ajudaram a imaginar um mundo um pouco diferente e melhor. Quando isso acontece, já ganhei o meu Nobel”, diz.

Em sua primeira visita ao Brasil, ele se diz “muito curioso para ver como a questão da negritude (blackness) é tratada aqui”.

Ngugi também se diz um grande fã de Jorge Amado e conta que a imagem que construiu do Brasil é a de Ilhéus, no romance “Gabriela Cravo e Canela”. “As disputas por terra são muito parecidas com as que aconteciam no Quênia e em toda a Africa”,d iz.

Ele afirma ser um artista antes de ser um ativista político. “Ideologias e questões políticas à parte, cabe ao escritor escrever bem. Na literatura cabem política, economia e sociologia, mas não é só isso. Um escritor, sobretudo, produz arte”, diz.

“Como escritor estou interessado na busca da igualdade na vida dos homens e sou impactado de como a riqueza e a organização do povo interferem nessas relações”, diz.

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