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 | Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo

Stephen King narra memórias difíceis com espírito e bom humor, costurando opiniões e explicações a respeito da arte de escrever no livro “Sobre a Escrita”.

Talvez você não seja um leitor de King, mas é improvável que tenha passado a vida sem chegar perto de uma das obras dele. Se não em livro, ao menos no cinema.

Quatro tipos de escritor

Em “Sobre a Escrita”, Stephen King tem duas teses boas. Uma, ele diz, meio obviamente, “é que a boa escrita consiste em dominar os fundamentos”

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Pense em “O Iluminado” (1980), com Jack Nicholson e direção de Stanley Kubrick (King detestou a adaptação); “Um Sonho de Liberdade” (1994), o filme de prisão em que Tim Robbins sorrateiramente liga ópera para os detentos ouvirem no sistema de som da cadeia; pense em “Carrie – A Estranha” (1976), “Christine – O Carro Assassino” (1983), “Conta Comigo” (1986), “À Espera de um Milagre” (1999) e a lista tem mais uma dezena de títulos.

Stephen King conta, em tom de brincadeira, ter sido acusado de desmatar florestas inteiras no Canadá. Não só seus livros venderam e vendem quantidades assombrosas como eles costumam ser tijolos de 500, 700, mil páginas.

Ele brinca, mas faz sentido.

“Sobre a Escrita” tem várias sacadas boas (como esta: “Ninguém é tão intelectualmente preguiçoso quanto uma pessoa realmente inteligente”), mas a maior qualidade do livro é o tom. King escreve com franqueza. Sem meias palavras. “Às vezes é preciso perseverar”, diz ele, quando uma história não parece muito boa, “mesmo quando não se tem vontade, e às vezes você está fazendo um bom trabalho mesmo quando parece estar sentado escavando merda”.

Se o livro tem um problema, é o das longas digressões. King gosta de contar histórias e nem sempre elas têm a ver com o que ele quer dizer, mas com frequência demoram dezenas e dezenas de páginas. Se você tiver tempo e souber ouvir, a experiência acaba sendo agradável.

Sobre a Escrita

Stephen King. Tradução de Michel Teixeira. Suma de Letras, 256 pp., R$ 39,90 e R$ 27,90 (e-book).

Para ter uma ideia, como disse na abertura, “Sobre a Escrita” mistura memórias e manual de escrita, mas King só vai dizer o que pretende em relação ao ofício de escritor perto da página cem. “Isso não é concurso de popularidade, nem os Jogos Olímpicos da moral, nem a Igreja. Mas é a escrita, cacete, não é lavar o carro ou passar delineador. Se você levá-la a sério, podemos conversar. Se você não puder ou não quiser, é hora de fechar o livro e ir fazer outra coisa. Lavar o carro, talvez.”

A família de King era pobre. A mãe dele teve de se virar para criar os filhos, enquanto tios, primos e avós eram distantes ou estranhos ou os dois. King conheceu a mulher, Tabitha, num curso de escrita. Os dois se casaram e tiveram o primeiro filho. Ela trabalhava numa lanchonete e ele, numa lavanderia, onde dava um jeito de passar o dia lendo e escrevendo – duas coisas de que não se pode escapar se você quiser ser um escritor. Parece óbvio, não?, mas ele se dá o trabalho de argumentar contra a televisão, que rouba tempo de leitura. “Posso ser direto? Se você não tem tempo de ler, não tem tempo (nem ferramentas) para escrever. Simples assim”, diz King. “A leitura é o centro criativo da vida de um escritor.”

Se você não tem curiosidade nenhuma sobre o funcionamento de um texto ou não se interessa por Stephen King de jeito nenhum, melhor não ler “Sobre a Escrita”. (Acho que eu deveria ter dito isso antes.)

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