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Mickey e Gus, o casal protagonista de “Love” | Netflix/Divulgação
Mickey e Gus, o casal protagonista de “Love”| Foto: Netflix/Divulgação

A série “Love”, da Netflix, é na verdade mais sobre o estágio de se gostar de alguém. A segunda temporada, que estreou em 10 de março – spoilers adiante! – ocupa o espaço entre “gosto o suficiente de você para sair com você” e “gosto o suficiente de você para sair apenas com você”.

O espaço pode parecer estreito, mas é bastante amplo. Se você é um millenial usuário do Tinder com seus 20 ou 30 anos, conhece cada canto e fenda desse espaço. Você provavelmente gastou muito tempo lá, já que a maioria dos relacionamentos iniciais não alcança a exclusividade.

“Love” é altamente consciente da fragilidade de relacionamentos iniciais, quando duas pessoas não estão comprometidas uma com a outra, mas ponderando a respeito. Mesmo nos melhores momentos, nos melhores dias, pode haver uma sensação de incômoda de que “isso pode acabar a qualquer momento”. Uma grande revelação, uma grande briga, uma longa separação e os bons sentimentos e a dinâmica que vocês construíram podem desaparecer.

Mickey (Gillian Jacobs) e Gus (Paul Rust) entram em seu relacionamento sabendo que não é uma escolha sensata. Mickey começa a temporada dizendo a Gus, depois de seu primeiro beijo, que ela é uma viciada em sexo-e-amor e uma alcoólatra, e que estava planejando passar um ano sem sair com ninguém (frequentadores dos Alcoólicos Anônimos são frequentemente aconselhados a não começar novos relacionamentos no início de sua recuperação).

Portanto, a tensão central da temporada, conforme Rust a descreveu em uma entrevista para a revista Vulture, não é “será que eles vão ou não?” mas “será que eles deveriam ou não?” Semelhantemente, Lesley Arfin, a esposa de Rust na vida real e uma das criadores da série, disse que se concentrou no que acontece depois da situação em que os futuro casal se conhece: “O que acontece quando não há mais romance e estamos no sofá de pijamas? Eu não sabia. Estava tentando entender como as pessoas se juntavam e permaneciam juntas.”

Incerteza no ar

Eles deveriam ou não permanecer juntos? A resposta saudável poderia ser: não deveriam. Mickey deveria se dedicar a si mesma e a lutar contra seu vício. Gus deveria sair com uma mulher bem ajustada que não vai se autossabotar. Mas isso daria uma série de televisão entediante.

Ao invés disso, Mickey e Gus vão adiante. Mas mesmo em seus momentos mais ensolarados – como seu encontro de um dia inteiro que os leva a vaguear de Silver Lake a Venice Beach – há incerteza no ar. Por exemplo, em uma ponte sobre os canais de Venice, Mickey diz a Gus: “Esse é o melhor dia que tive em muito tempo.”

“Sim, para mim também”, Gus responde. “É engraçado, no entanto. Quando algo como isso está indo muito bem, fico super nervoso, tipo assim: Ai, quando é que algo ruim vai acontecer e tudo vai acabar?”

“Eu também”, diz Mickey, virando a mesa ao perguntar para Gus qual a pior coisa que ele já fez. Não é tão ruim, e os espectadores são deixados imaginando que talvez esses dois deem certo no fim das contas.

Nos dois meses que se seguem, Mickey e Gus atravessam vários momentos que poderiam ter sido o fim para quaisquer outros frágeis relacionamentos iniciais. Mickey leva Gus a uma festa do trabalho, uma situação que pode ser mais embaraçosa do que conhecer os pais. No episódio seguinte, Gus de fato conhece o pai de Mickey, e de alguma forma sobrevive.

Mickey dá uma festa para celebrar uma das vitórias profissionais de Gus, e seus amigos interagem embaraçosamente. Eles têm suas primeiras brigas, que se tornam bastante brutais. Depois de apenas um mês de namoro, Gus viaja a trabalho por três semanas, e eles ponderam como esse tempo separados poderia fortalecer ou acabar com o que há entre eles. E, enquanto ele está longe, Mickey se envolve em um comportamento que, se descoberto por Gus, certamente poderia acabar com tudo.

Ele quase descobre. Confrontada com a possibilidade de perder Gus, Mickey se compromete com ele. “Quero estar em relacionamento com você”, diz a ele. “Não quero mais essa bobagem não exclusiva. Isso acaba hoje. Quero realmente tentar fazer isso funcionar e estar em relacionamento adulto de verdade.”

“Também quero isso”, diz Gus. “Estou dentro.”

O que é pré-amor?

Não é como se alguém estivesse dizendo “eu te amo”, indo morar junto ou pedindo o outro em casamento, essas marcas tradicionais de uma comédia romântica. Mas hoje, quando é muito mais fácil continuar a passar os dedos entre perfis online do que se comprometer com uma única pessoa, a determinação de ficarem juntos de Mickey e Gus é bastante romântica. Em 12 episódios, eles progridem de “gostar” para “pré-amar”. O que é pré-amor? É o que um escritor chamou de o sentimento de “quando é muito cedo para aquelas três pequenas palavras”, mas parece que você está indo nessa direção.

Pré-amor é onde Josh Chan (Vicente Rodriguez III) parece estar antes de se comprometer com Rebecca Bunch (Rachel Bloom) na segunda temporada de “Crazy Ex-Girlfriend”, porque ele diz aquelas três pequenas palavras quase imediatamente após eles voltarem juntos. Esse estágio intermediário é visto também em “Girls”, série da qual Arfin já foi roteirista, quando Shoshanna está saindo com um cara que tenta persuadi-la a não se mudar para Tóquio dizendo: “Vou me apaixonar por você em breve.” (Não funciona para ele, mas boa tentativa, cara.)

Se “Love” é insuportável por vezes, e de fato é, isso pode ser em parte porque, no mundo real, os estágios iniciais de um relacionamento podem ser tão vertiginosamente divertidos e tediosos e difíceis quanto são para Mickey e Gus. Quase-casais atravessam a emoção de conhecer alguém e a intensa probabilidade de perder um ao outro, tudo antes de se comprometerem.

Ninguém se compromete só porque gosta do outro, especialmente hoje, com tantos outros parceiros em potencial ao alcance de nossos dedos. Eles se comprometem porque podem se imaginar apaixonados um pelo outro em breve.

Tradução: Pedro de Castro
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