
Quase 500 livros do escritor curitibano Jamil Snege (1939-2003) estão à venda na livraria Arte & Letra (Al. Presidente Taunay, 130), em Curitiba. A obra de Snege está esgotada e não é editada desde o ano 2000. Os cinco títulos que voltam às prateleiras: Como Eu Se Fiz por Si Mesmo (1994), Senhor (1989), O Jardim, A Tempestade (1989), Viver É Prejudicial à Saúde (1998) e Como Tornar-se Invisível em Curitiba (2000) faziam parte do acervo familiar dos herdeiros do autor que tomaram a decisão, em parceria com a livraria, de colocá-los em circulação para que as obras possam ser lidas ou relidas.
"Snege influenciou muito os escritores que estão produzindo em Curitiba hoje. Como nós publicamos estes novos autores, faz todo o sentido, e nos dá muita alegria, poder vender estes livros aqui", afirma Thiago Tizzot, um dos sócio da Arte e Letra.
Os exemplares estavam guardados pela família e estão em bom estado, ainda que alguns volumes já exibam marcas da ação do tempo. Segundo Tizzot, foram escolhidos "preços de mercado, mas que também levaram em conta a raridade das obras".
Jamil Snege foi um escritor independente que preferia cuidar artesanalmente das edições dos próprios livros e que olhava com reservas para o mercado editorial. Assim, ainda que as maiores editoras do país tenham sondado os herdeiros dos direitos autorais, a obra segue fora de catálogo.
Desde que o inventário de seu espólio foi aberto, há dez anos, a viúva do autor, Vera Lucia Bachman, e seus dois filhos, Daniel e Jean Marcel, ainda não chegaram a um entendimento sobre como trabalhar o legado de Snege.
Neste ano surgiram informações de que haveria um projeto de reedição da obra do autor por uma grande editora nacional. Nada foi confirmado até hoje.
Os poucos livros que circulam em sebos são vendidos a preços elevados (exemplares autografados já foram comercializados por R$ 500).
Influência
Jamil Snege é um dos escritores mais influentes de Curitiba nos últimos 40 anos. Sua linguagem singular é objeto de culto de uma geração de autores locais, e de todo o país, como Joca Reiners Terron, Marcelino Freire, Marçal Aquino e Luiz Felipe Leprevost.
O "turco" também foi um dos mais importantes publicitários da cidade. Em razão da situação peculiar de sua produção literária, Snege tem sido mais comentado do que lido, como afirmou o escritor Miguel Sanches Neto em uma palestra na Biblioteca Pública do Paraná em maio do ano passado, na ocasião dos dez anos de morte do autor. "Sua escrita conserva a visão impiedosa e irônica que ele tinha sobre a condição humana", disse Sanches.



