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Quem estava lá, teve a oportunidade de presenciar um momento único, possivelmente histórico na trajetória de onze anos da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip): o encontro da cantora Maria Bethania com a professora emérita da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ) e da PUC-Rio Cleonice Berardinelli, unidas por sua paixão em comum pela obra do poeta Fernando Pessoa. Na noite de sexta-feira, em uma Tenda dos Autores superlotada, as duas recitariam e falaram de sua imensa admiração pelo escritor português.

Embora tenha iniciado com quase 30 minutos de atraso, o que chegou a causar certo desconforto entre o público que esperava ansioso pela mesa, toda a tensão se desanuviou a partir do momento em que Cleonice, de 96 anos, a mais velha convidada na história de Flip, colocou os pés no palco. O que se seguiu foi pura emoção.

Coube a "dona Cleo", como todas chamaram a estudiosa e professora, decidir quais poemas seriam lidos no palco da Flip, mas, após a primeira seleção, Bethânia resolveu incluir um longo poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos do poeta português, logo no começo da mesa. A poesia escolhidas "Dois Excertos de Odes", que abriu uma longa seleção de poemas dos três principais heterônimos de Pessoa: Alberto Caieiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.

Dona Cleo e Bethânia se alternaram na leitura de textos como como ""O Infante" e "O Guardador de Rebanhos", que provocaram reações entusiasmadas da platéia, que por várias vezes chegou a interrompê-las, tamanho o entusiasmo dos presentes. O ponto alto talvez tenha sido quando as duas leram "Todas as Cartas de Amor São Ridículas", durante o qual coube à professora ler todos os "ridículos" citados ao longo do poema. A Tenda dos Autores quase veio abaixo.

Após em torno de uma hora de leitura, as duas, sobretudo dona Cléo, responderam perguntas do público. Dona Cleo contou que Pessoa entrou em sua história quando já era formada em Letras pela Universidade de São Paulo e, de volta ao Rio de Janeiro, tornou-se assistente de um professor de Literatura Portuguesa da então Universidade do Brasil, que daria origem à Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Acabei fazendo minha tese sobre ele, e não o larguei mais." Bethânia disse que Pessoa é o "poeta de sua vida". "Ele sustenta minha respiração, segura o ritmo desassossegado do meu coração".

Sobre a possibilidade de o encontro se repetir, ou até se tornar um CD, Bethânia respondeu com entusiasmo que sim. Dona Cleo não fugiu aos desafio: "Claro que quero."

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