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A banda Sepultura | Divulgação/Eric Sanchez
A banda Sepultura| Foto: Divulgação/Eric Sanchez

Sepultura

O Sepultura é composto por Derrick Green, vocalista; Andreas Kisser, guitarrista; Paulo Jr., baixista; e Jean Dolabella, baterista

O Sepultura, desde o seu início em 1984, tem sua trajetória marcada por mudanças profundas em sua formação. Max e IgorCavalera, Paulo Jr. e Jairo Guedez foram responsáveis por fundar o grupo. Jairo foi substituído dois anos depois por Andreas Kisser, que permanece até hoje. Depois da tortuosa saída de Max em 1996, foi a vez de seu irmão, Igor, deixar o grupo dez anos depois.

A saída de Max, no entanto, foi a mais conflituosa. "Para mim, ele é um zero à esquerda. Meu compromisso é com o que está aqui hoje, com essa formação", afirmou Paulo, baixista, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo, quando questionado sobre uma afirmação de Max Cavalera.

O ex-vocalista da banda disse recentemente que "isso não é Sepultura". "Muita gente mais nova não sabe o quanto nós ralamos para construir a banda", disparou.

Para Paulo, a banda que lança nesta semana o mais recente álbum de inéditas, "A-Lex", "é o novo-velho Sepultura". O novo álbum, que chega às lojas no dia 23 de janeiro de 2009, é baseado na obra "A Laranja Mecânica", livro de Anthony Burgess que foi levado às telas em 1971.

Composto de modo livre e aleatório, o grupo fez uma série de jam sessions no estúdio, durante três meses, que resultaram na obra final "A-Lex". "Depois organizamos e lapidamos o repertório", explicou Paulo.

Este é o primeiro álbum composto com o novo line-up. "O Jean [Dolabella, baterista que entrou no lugar de Igor Cavalera] entrou com uma característica nova, uma energia nova. Ele não veio para copiar, e sim para acrescentar", disse o baixista.

Um dos destaques do resultado de "A-Lex" é a faixa "Ludwig Van", que conta com uma inserção da Nona Sinfonia de Beethoven. "Trouxemos essa ideia de misturar o clássico com o heavy metal, tentando manter a integridade de todos os lados. Foi a faixa que deu um pouco mais de trabalho."

O resultado foi uma canção que difere, e muito, do que é assinado normalmente pelo Sepultura. "Beethoven já é pesado por natureza, então a gente só contribuiu um pouquinho", brincou o baixista.

Com a maior parte de sua base de fãs no exterior, a banda nunca conseguiu no seu país de origem o mesmo reconhecimento que alcançou em outras partes do mundo. "O brasileiro ‘lambe muito o saco de gringo’. O que é bom para o brasileiro é o que vem de fora", disparou Paulo, que garante que a banda "sempre tenta" conquistar um espaço maior no Brasil. "Agora nós moramos aqui, e parece que cada vez mais as portas vêm se fechando ao invés de se abrirem para o artista nacional", explicou. "A cultura é torta", desabafou.

Confira a integra da entrevista com Paulo Jr., do Sepultura:

Esta não é a primeira vez que o Sepultura se aventura ao basear um álbum em uma obra literária. Desta vez, a opção foi pela obra "A Laranja Mecânica". Como surgiu esta ideia?

Na verdade, é uma coisa antiga. Já tínhamos cogitado isso na era do "Dante XXI", no qual acabamos optando pelo "A Divina Comédia" (de Dante Alighieri). Mas nunca nos esquecemos da "A Laranja Mecânica".

Então o grupo já estava preparado para este projeto há algum tempo, apesar do curto prazo que durou a composição e gravação?

Sim, começamos há alguns anos, mas ficou em "stand by" até chegar a hora certa.

Uma das faixas, "Ludwig Van", leva uma combinação do heavy metal com a Nona Sinfonia de Beethoven.

Essa canção faz parte do conceito da obra. Se você pegar o personagem principal, o moleque era fissurado por Beethoven. No filme, a Nona Sinfonia é bastante destacada. Para que o disco ficasse completo, nós trouxemos essa ideia de misturar o clássico com o heavy metal, tentando manter a integridade de todos os lados. Foi a faixa que deu um pouco mais de trabalho.

Esta é uma das faixas mais impactantes do álbum, por ser tão distinta do que é normalmente ouvido em uma faixa do Sepultura.

Beethoven já é pesado por natureza, então a gente só contribuiu um pouquinho.

Você acha importante esta combinação de gêneros tão distintos, para deixar um ritmo ainda mais rico?

Com certeza. Além da riqueza da obra e do conceito, o clássico influenciou vários tipos de música, principalmente o rock. Já foram feitas várias junções nesse meio como em obras do Deep Purple, do The Who, e por aí vai.

Houve muito tempo de pesquisa para começar a trabalhar e compor para este projeto?

Demos uma re-pesquisada para refrescar a memória. Mas todos nós já conhecíamos desde moleque. O filme foi lançado em 71, e o livro é da década de 60. Já passou por algumas gerações.

O álbum foi dividido em quatro partes, e cada uma diz respeito a um trecho do livro. Como foi feito este trabalho de composição?

Foi bem livre, aleatório e solto. Foi uma das fases de composições mais livres que já tivemos. Fizemos uma jam session gigante, e depois organizamos e lapidamos o repertório. A ideia de ter as divisões já existia, mas encaixamos de acordo com cada fase.

O processo de composição demorou três meses. Até o álbum ficar pronto, quanto tempo foi necessário?

O processo inteiro demorou por volta de uns seis meses. Gravamos e mixamos em cerca de seis semanas e meia, que é o que levamos normalmente. A composição desse disco foi um pouco mais rápida do que o normal.

Tanto nesta obra quanto em outras já lançadas pelo Sepultura, uma das marcas principais é a opção por não seguir o "padrão", sem refrões e riffs em lugares pré-determinados. Qual o motivo desta escolha?

É uma coisa bem solta. Fizemos do jeito que estávamos sentindo no momento, é difícil de explicar. É como escrevemos, como vem a inspiração.

O último capítulo do livro, que não é representado no na obra que foi ao cinema, ganhou espaço especial no álbum do Sepultura. Por quê?

Tivemos a ideia de colocar na Internet e pedir a participação de um fã para esta faixa. Escolhemos uma frase que mais combinasse com o contexto do álbum em si, e esta frase daria o pontapé inicial para a letra. Além do contexto da própria música e do próprio trecho, ela tem um valor especial por ter esta participação do fã.

De que modo esse álbum se diferencia dos anteriores do Sepultura? Que tipo de experimentação foi feita neste trabalho que nunca foi antes usada pelo grupo?

A grande diferença foi a orquestra, mas já tínhamos utilizado um pouco, só que indiretamente. Desta vez houve mais detalhes com relação aos arranjos.

Esse é o primeiro álbum sem nenhum dos irmãos Cavalera. Quais foram as principais mudanças que aconteceram na sonoridade do grupo por conta desta mudança no line-up?

É o novo-velho Sepultura (risos). Esse lance da leveza que tivemos para compor esse disco, que foi em feito em jam sessions, quebrou um pouco o nosso padrão. Isso contribuiu bastante, todo mundo estava inspirado, com o mesmo objetivo. Foi feito em pouco tempo, algo que não foi planejado. É uma questão de estar se sentindo bem naquele momento.

Você acredita que o Sepultura perdeu muito com a saída de Igor, ou ganhou mais com a entrada de Jean?

Eu acho que perdeu e ganhou. É difícil explicar. O Jean entrou com uma característica nova, uma energia nova. Ele veio para trazer um elemento novo ao Sepultura, e não para substituir o Igor. Ele não veio para copiar, e sim para acrescentar.

Você é o único membro que está na banda desde o início. Todas as mudanças que aconteceram ao longo do tempo trouxeram algo positivo ou negativo para o grupo?

Quem está na formação presente sabe representar essa banda com dignidade, eu acho que isso é importante. A saída é uma coisa que acontece no dia-a-dia. Ele estava insatisfeito e resolveu seguir o destino dele. Nós continuamos o nosso.

Max Cavalera disse achar "esquisito" o fato de que nenhum dos irmãos Cavalera estão na banda que eles ajudaram a construir. Você acha que o Sepultura continua sendo o mesmo sem eles?

Para mim, não influencia em nada o que o Max pensa ou deixa de pensar. Para mim ele é um zero à esquerda. Ele já fez parte da banda, mas não vai mudar nada na minha vida. Meu compromisso é com o que está aqui hoje, com essa formação. O que ele vem a falar entra em um ouvido e sai no outro (risos).

O Sepultura, apesar do reconhecimento nacional, é mais ouvido fora do país. Você acha que o gênero tem pouco espaço no Brasil?

O brasileiro "lambe muito o saco de gringo". O que é bom para o brasileiro é o que vem de fora. O Sepultura, por incrível que pareça, acabou sendo assim, a maior parte da nossa carreira é fora daqui. Se a gente precisasse fazer isso novamente, nós faríamos, sem problema nenhum.

A preocupação de vocês é com os fãs de qualquer lugar, ou há uma tentativa de aumentar a base no Brasil?

A gente sempre tenta. Agora nós moramos aqui, e parece que cada vez mais as portas vêm se fechando, ao invés de abrir para o artista nacional. Parece que todo mundo reclama, reclama, reclama, mas quando tem alguma coisa, ninguém prestigia. A cultura é torta.

A turnê deste álbum vai começar no fim deste mês, primeiramente pela Europa. Você já pode adiantar alguma coisa desse show?

O show está praticamente preparado. O que tem de novidade é que nós abrimos para os fãs no nosso site oficial uma parte do repertório. Eles vão votar e os fãs têm o direito de escolher qual fase do Sepultura ele quer escutar.

Tem alguma coisa que não pode entrar, ou vocês tocam músicas de qualquer era da carreira?

Desde o primeiro disco, até o último. Todas as fases, sem preconceito.

Com uma carreira estabilizada no ramo musical, onde a banda pretende chegar daqui para frente?

Tem muita coisa ainda. Nesse ano a cabeça está voltada para a turnê desse disco. A intenção é viajar o máximo possível. Vamos para Europa e América do Norte, mas queremos também ir para a América do Sul, Oceania e Ásia.

Já tem alguma coisa programada para o Brasil?

Estamos tentando. Vamos para a América do Norte depois da Europa, e voltamos no final de maio. Estamos estudando alguma possibilidade no final de maio. Nada confirmado, mas esperamos que desse para fazer, senão vamos empurrando e acabamos tocando aqui só no ano que vem. Vamos tentar colocar alguma coisa ainda nesse ano.

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