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Fazer com que as doídas memórias de Rosa Luxemburgo (1871-1919) se entrelaçassem com momentos políticos contemporâneos era a ideia da Companhia Sala Escura, na peça Rózà, encenada na última terça-feira no Cietep, em Curitiba. Mas a ousadia histórica – retratar somente a vida da militante marxista que viria a se tornar a fundadora do partido comunista alemão já era uma tarefa e tanto --, fez o espetáculo, fragmentado e frágil, diluir-se em si mesmo.

Rózà baseou-se inteiramente em cartas escritas pela revolucionária. As lembranças, desde os seus ideais filosóficos até seu sofrimento na prisão, são resgatadas pelas atrizes Lowri Evans, Lucia Bronstein e Martha Kiss Perrone, simultaneamente.

Em um cenário visivelmente artificial e "desnudo" que lembra a estética do filme Dogville, as três, cronologicamente, revivem momentos da vida da "Rosa Vermelha". Apesar da sincronia entre as atrizes, há pouca comunicabilidade com o público. Quem gostaria de conhecer mais sobre a história de vida da militante, por exemplo, sai frustrado – eis um estranho paradoxo, que incomoda um bocado.

A peça tem música: acompanhadas de um baterista, duas das atrizes empunham baixo e guitarra e criam um Pussy Riot momentâneo. Há intervenções em vídeo: na lateral das "arquibancadas", projeções das Marchas de Junho, no Brasil, ilustram os pequenos discursos de Rosa. A confluência de episódios e mídias, quando o tema principal não está bem estabelecido, entretanto, criou um nó difícil de desfazer.

Ponto positivo foi a atuação da atriz Lowri Evans. Ela falou em inglês a maior parte do tempo e, quando soltou o português, o fez com um delicioso – e providencial – sotaque alemão. Ao final da peça, houve certo desconforto da plateia. Lowri saiu das imediações do cenário e não se soube muito bem a hora de aplaudir a trupe. E, quando as palmas vieram, foram tão tímidas quanto a mensagem que a peça transmitiu.

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