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Cantora paulistana se apresentou no Guaíra ao lado do saxofonista Proveta, do pianista Nelson Ayres e do Quarteto Carlos Gomes. | ELIS RIBEIRETE
Cantora paulistana se apresentou no Guaíra ao lado do saxofonista Proveta, do pianista Nelson Ayres e do Quarteto Carlos Gomes.| Foto: ELIS RIBEIRETE

Definitivamente, Mônica Salmaso é uma força que avança, um universo em expansão. Desde sua estreia com “Afro-Sambas”, de 1995, a paulista comprova, a cada novo projeto, como a união entre pesquisa e precisão pode resultar num percurso único – e dos mais significantes da música popular brasileira contemporânea. Uma artista que empurra a linguagem musical com passos minuciosamente medidos.

“Corpo de Baile”, seu aclamado novo trabalho de estúdio, antes de tudo, é um abuso. Em 14 canções, o álbum mescla a genialidade intuitiva de Guinga, o maior violonista brasileiro, com as composições colossais de Paulo César Pinheiro, um dos mais produtivos e versáteis nomes da MPB dos últimos 50 anos. E ainda incorpora gente da estirpe do clarinetista e saxofonista Proveta e do pianista Nelson Ayres, além do Quarteto de Cordas Carlos Gomes.

O show é bem mais. Num domingo de Guairão quase lotado, Mônica Salmaso fez um breve tratado sobre a exatidão: tudo é controlado para atingir o belo, não há espaço para o equívoco. Com direção e projeções de Walter Carvalho – uma tela separava os músicos da plateia – o show proporcionou uma estranha e intensa experiência de encanto: as imagens formaram imensos afrescos emocionais, como se estivéssemos entre um conto de Guimarães Rosa e um poema-conceito de Haroldo de Campos.

O programa abriu com “Fim dos Tempos”, um relato da solidão entre sertões e galés: “Pelos quartéis, pelas missões/ E pelos quatro cataventos,/ Todo canto andamos sós/ E os menestreis, pelas canções/ Já profetizam como santos/ Para onde andamos sós”. De “Bolero de Satã” a “Quadrão”, o repertório foi contando de dois mundos com grande intensidade lírica – e que, infelizmente, se afastaram. A cantora sequer (e de maneira inteligente) fez menção ao fim da parceria entre Guinga e PCP. A retumbante “Sedutora”, vencedora de Melhor Canção de 2015 no 26.º Prêmio da Música Brasileira, pareceu flutuar entre os solos e as projeções. Em nenhum momento, o percurso soa como uma mera emulação ou tributo aos dois grandes músicos.

Algumas críticas aqui e ali apontam para uma certa frialdade na obra de Mônica Salmaso, como se a sua beleza matemática não abrisse espaço para o sonho e as oscilações do coração – e é evidente que ela não se interessa por irregularidades. Contudo, o bis, a trovadoresca “Senhorinha”, do álbum “Voadeira”, de 1999, demonstrou como um artista pode navegar com os olhos da razão sem soar distante. Ao seu jeito metódico, Mônica Salmaso deita o céu no fundo do mar. E emociona.

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