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Em 1966, Skidmore tornou-se professor na Universidade de Wisconsin, onde lecionou por 20 anos e editou o “Luso-Brazilian Review” | Lucas Ferraz/Folhapress
Em 1966, Skidmore tornou-se professor na Universidade de Wisconsin, onde lecionou por 20 anos e editou o “Luso-Brazilian Review”| Foto: Lucas Ferraz/Folhapress

Morreu neste sábado (11) nos Estados Unidos aos 83 anos o brasilianista Thomas Elliot Skidmore. Autor de livros sobre o Brasil, o americano foi um dos primeiros a saber do golpe de Estado que levaria à ditadura militar (1964-1985).

As causas da morte ainda são desconhecidas. Com Alzheimer e síndrome do pânico, ele se afastou da vida pública em novembro de 2009, quando deixou de andar e se mudou para um asilo em Westerley, em Rhode Island.

Doutor em História Moderna Europeia pela Universidade Harvard em 1960, Skidmore viajou ao Brasil no ano seguinte, dias após a renúncia de Jânio Quadros, para passar três anos de pesquisa com bolsa de pós-doutorado.

No período no país, aproximou-se de políticos, intelectuais e jornalistas, como Francisco de Assis Barbosa (1914-1991), San Tiago Dantas (1911-1964), Fernando Gasparian (1930-2006) e Caio Prado Júnior (1907-1990).

Também tinha uma relação próxima com Lincoln Gordon, embaixador dos EUA na época do golpe militar de 1964. Em entrevista à Folha de S.Paulo em 2012, Skidmore disse que jantou com o diplomata em 31 de março daquele ano.

“Ele foi passar um telegrama para Lyndon Johnson [presidente dos EUA] contando as novas e pedindo que o governo americano reconhecesse o novo regime. Ele disse que tinha ganhado”, afirmou à época.

A pesquisa para Harvard teve como resultado o livro “De Getúlio a Castello”, uma das primeiras publicações sobre o Brasil República, tendo grande influência na escrita da história contemporânea do país.

Publicado em 1967 em inglês e editado em português dois anos depois, a obra provocou controvérsia acadêmica. Parte dos historiadores considera que o livro reuniu informações sobre o período como nunca havia sido feito no país.

Por outro lado, outra corrente critica Skidmore por ter acesso a fontes privilegiadas e representar a visão americana sobre a história brasileira. Parte deste grupo o acusava ainda de ser agente da CIA ou próximo à ditadura.

Sobre o livro, afirmou em 2012 que não se tratava de uma interpretação dele, mas de seus amigos brasileiros. “Meu conhecimento do país vem todo deles. Não é à toa que a amizade é uma das mais fortes características do Brasil.”

Também sobre o Brasil, Skidmore escreveu “De Castello a Tancredo”, sobre a ditadura militar, e “Preto no Branco”, estudo sobre a questão racial no país.

Ditadura

Em 1966, tornou-se professor na Universidade de Wisconsin, onde lecionou por 20 anos e editou o “Luso-Brazilian Review”, uma das principais publicações acadêmicas sobre o Brasil nos Estados Unidos na época.

Depois do período em Wisconsin, foi para a Universidade Brown, em que dirigiu o Centro de Estudos Latino-Americanos antes de se aposentar, em 1999. Sete anos depois, foi premiado pela Associação de Estudos Brasileiros.

Embora fosse acusado por pesquisadores de associação com a ditadura, em pelo menos duas ocasiões manifestou sua posição contra o regime. Em 1970, assinou uma carta aberta contra a prisão do amigo Caio Prado Júnior.

Ele também condenou a repressão do regime a acadêmicos brasileiros e outros opositores. Devido a sua posição, teve seu visto negado para viajar a um seminário na Unicamp meses depois.

Quatorze anos depois, já na abertura democrática, foi obrigado a depor à Polícia Federal após um comentário sobre a situação política do Brasil e foi ameaçado de expulsão. Diversos acadêmicos saíram em sua defesa.

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