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Sting observa o próprio cérebro analisado por cientistas | Owen Egan/McGill University
Sting observa o próprio cérebro analisado por cientistas| Foto: Owen Egan/McGill University

Um livro com o título “This Is Your Brain on Music” (esse é seu cérebro sob efeito da música, sem tradução para o português) deveria, presumivelmente, ser de muito interesse para um músico como Sting. Sua massa cinzenta está sob efeito desse negócio por uma carreira que se estica por quatro décadas. O que o uma vez e futuro líder do Police não poderia ter antecipado é que, em virtude de ler o livro, escrito pelo roqueiro-neurologista da Universidade McGill Daniel Levitin (ele fazia parte de uma banda que abriu para a Bad Religion), Sting terminaria dentro de uma máquina de ressonância magnética funcional.

Como quis a coincidência, logo depois de ler o livro de Levitin, Sting estava indo para um concerto em Montreal. Também localizado na cidade está o laboratório de Levitin, que Sting decidiu visitar. Levitin entende de música – ela era produtor de discos para grupos como Santana e fornecia amplificadores para a banda Blue Öyster Cult, de acordo com sua biografia – e também sabe quando tem uma rica oportunidade científica em suas mãos. Então, como parte do tour pelo laboratório, o neurocientista lançou seu próprio convite a Sting.

“Perguntei se ele também queria ter seu cérebro examinado”, disse Levitin, de acordo com um recente comunicado à imprensa. “Ele disse que sim.”

Tango e Beatles

Os frutos da ressonância magnética funcional de Sting foram recentemente publicados em um estudo na edição de agosto da revista científica Neurocase. Levitin e o especialista em neuroimagem Scott Grafton, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, descrevem as associações que o cérebro de Sting fez enquanto ouvia uma variedade de sons – extraídos de canções pop, música de elevador, jazz, R&B, tango e rock.

“O cérebro de Sting nos direcionou para várias conexões entre peças musicais que eu conheço bem, mas nunca tinha visto como relacionadas até então”, disse Levitin. Com base nos padrões de atividade cerebral de Sting, medidas por similares formas de voxel (espécie de pixel 3D), os cientistas dizem que puderam determinar quais canções pareciam mais similares para Sting – não de acordo com sua opinião musical, mas com o que seu cérebro estava registrando.

O cérebro de Sting nos direcionou para várias conexões entre peças musicais que eu conheço bem, mas nunca tinha visto como relacionadas até então

Daniel Levitin neurologista da Universidade McGill

Na mente de Sting a música de elevador e as canções da lista das 100 mais tocadas ocupavam mais ou menos suas próprias categorias, os autores escreveram. Mas algumas associações interessantes emergiram entre outros ritmos. Por exemplo, Sting exibiu padrões similares de atividade cerebral enquanto ouvia “Moon over Bourbon Street” (do próprio Sting) e “Green Onions” (de Booker T. & the M.G.’s).

Conforme os cientistas apontaram, ambas as canções têm ritmos de swing, 132 batidas por minuto e são em Fá menor.

De maneira similar, o cérebro de Sting registrou “Girl” dos Beatles e um tango de Ástor Piazzolla como similares; ambas usam melodias em notas menores e, como argumentam os pesquisadores, riffs musicais complementares.

Cantando dentro de uma máquina de ressonância magnética

Se você quisesse entrar no pensamento de um inteligente astro do pop-rock, você poderia acabar com opções muito piores do que Sting, ganhador do Emmy 16 vezes e cuja intensidade foi uma vez comparada a uma luta contra a morte. Sting, por seu lado, não mede as palavras a respeito da estimação que faz do próprio talento musical. Como ele disse ao Boston Herald em 1993, contrastando sua performance com a de grupos de rock alternativo emergentes:

“Estou bem preparado para enfrentar qualquer uma dessas bandas no palco e acabar com elas. Somos músicos melhores”, disse. “Cantamos melhor. Escrevemos canções melhores. Então eles que se danem.”

Sting não foi o único músico a colocar sua cabeça dentro de uma máquina e mandar alguém gravar – o artista britânico Sivu lançou um videoclipe de três minutos que o traz cantando dentro de uma máquina de ressonância magnética (os movimentos de sua língua são particularmente hipnóticos).

Pesquisas sobre música e o cérebro têm uma história rica também. Cientistas determinaram que os cérebros de músicos profissionais têm formatos diferentes daqueles alojados nos crânios de amadores e não músicos. Enquanto compositores estão criando novas canções, seus neurônios tipicamente usados para visão e movimento são “recrutados”, nas palavras de um estudo de 2015, para o ato de criação musical.

Talento genético?

Pode ser tentador imaginar que mestres musicais precisam ter nascido gênios. Afinal de contas, a filha de Sting, Eliot Sumner, também é uma musicista de sucesso. A criança prodígio é um tema poderoso na história da música; um estudo genético de 2014 envolvendo gêmeos encontrou um papel significativo dos genes na proeza musical.

Mas, em sentido contrário à ideia de que os genes de Sting foram os únicos responsáveis pelo dom musical de Sumner, pesquisas neurológicas também indicam que o ato de tocar instrumentos ou criar música muda a massa cinzenta.

“As pessoas podem ter a impressão de que músicos são seres alienígenas cujos cérebros são arranjados de maneira diferente”, como Elizabeth Margulis, uma cientista cognitiva da Universidade de Columbia que estuda percepção musical, disse à revista Pacific Standard em 2008. As imagens dos cérebros de flautistas e violinistas de alto nível que ela tirou, as quais eram surpreendentemente similares, indicam “que é uma questão da experiência que você teve em sua vida.”

Não há dúvida de que o cérebro musical de Sting é impressionante – mas cada coisinha que ele faz não é mágica.

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