"Não estamos nem aí para a música", diz anão da "Dança do Quadrado"

• 0

A repercussão do vídeo da "Dança do Quadrado", liderado pelo anão Claudinho Castro, rendeu ao trio uma indicação ao prêmio de Webhit do ano no VMB 2008, que acontece nesta quinta-feira. Criado por um grupo de curitibanos que já trabalhavam com vídeos na Internet, os autores jamais imaginaram que sua versão da coreografia fosse virar sensação na Internet, com mais de 11 milhões de acessos no site YouTube.

Eles se tornaram populares, mas garantem que estão com o bolso bem mais vazio do que o da cantora original, Sharon, animadora que dá voz ao funk "Dança do Quadrado". "Não estamos nem aí para a música", contou o ator Claudinho, que garante que o fruto colhido com o vídeo até então foi apenas a popularidade.

A "Dança do Quadrado" nasceu a partir de um grupo de adolescentes do interior de São Paulo que, durante uma viagem a Porto Seguro, cantarolaram o refrão da dança próximo a animadora Sharon, que trabalhava há anos na cidade. Foi lá que ela subiu ao palco e começou a disseminar o hit, que foi registrado assim que ganhou popularidade. A partir de um pequeno sucesso, o dono do site Antonio Tabet ofereceu ao grupo curitibano, que já trabalhava na produção de vídeos do gênero, a idéia de produzir o "clipe" do funk. Idéia prontamente aceita por Claudinho, que conheceu Tabet quando foi ao Rio de Janeiro participar das gravações da minissérie "O Sistema", que contou ainda com Selton Mello e Zezé Polessa no elenco.

A partir da música e com base na coreografia distribuída em vídeos caseiros feitos em Porto Seguro, o grupo criou o cenário, figurino, e deu seu toque a coreografia que rendeu o sucesso na rede. "A gente interpretou da nossa forma, seguindo mais ou menos os passos. As cores, os quadrados e as roupas coloridas são idéias nossas. Tanto que personificou", explicou Claudinho. "A ‘Dança do Quadrado’ se tornou a dança com três pessoas, de roupas coloridas de ginástica", completou.

Com personagens extremamente estereotipados, Claudinho compôs o grupo formado por um anão, um gordinho e um muito magro. "Eu fiz uma amostra e o Antonio não gostou. Era eu, outro magro e o gordo. Ele perguntou se não tinha como arrumar um mais magro", contou ele, que prontamente atendeu ao pedido e "forneceu" o personagem ainda mais esbelto.

O vídeo entrou no ar no dia 29 de março deste ano – mesmo dia em que Sharon, a cantora, se apresentou no programa Caldeirão do Huck e expandiu ainda mais a popularidade da música. "Foi um ‘bum’ de acessos. No dia, foi o vídeo mais visto no mundo, com 88 mil visitas", disse Claudinho.

O anão em nada se preocupa em ser conhecido como o dançarino da "Dança do Quadrado". "Por mais que seja uma coisa que quase chega ao vulgar, ao mesmo tempo é legal", explicou ele, que trabalha há 14 anos com teatro. "Nosso vídeo foi produzido para ser um webhit. A Mama DJo Djo gasta em torno de R$ 100 para fazer um vídeo. Nesse, gastamos R$ 500. É a nossa superprodução", brincou.

Leia a íntegra da entrevista com Claudinho Castro:

A música "Dança do Quadrado" foi feita pela animadora Sharon Acyoli Arcoverde, que se inspirou em alguns estudantes do interior de São Paulo que cantaram o refrão durante uma viagem a Porto Seguro, onde trabalhava. Como vocês ficaram sabendo da música?

Eu tenho um grupo chamado Mama Jojo. Esse grupo faz vídeos para a Internet, coloca no YouTube e já conseguimos alguma repercussão com isso. Participamos do Festival de Curtas Neosaldina, no qual ganhamos terceiro lugar no ano passado. Ganhamos o Festival do Minuto como melhor vídeo de comédia do Brasil. Depois disso, o Antonio Tabet, que é o dono do site Kibe Loco, entrou em contato com a gente. Quando eu fui fazer a minissérie "O Sistema", fui conhecê-lo. Ele falou que achou alguns vídeos bacanas e queria fazer uma parceria "qualquer hora". Esse ano, no começo de março, ele me mandou a música do quadrado e disse para fazer um vídeo disso.

Então você nunca tinha ouvido falar da música antes?

Sim. Eu olhei e falei nossa, essa música é terrível. Eu não gosto disso. Aí ele disse para eu dar uma olhada na Internet para ver o pessoal de Porto Seguro dançando, e ele disse para eu fazer igual, só que da nossa maneira.

A coreografia foi toda baseada nestes vídeos que já estavam no ar?

Sim, só que a gente interpretou da nossa forma, seguindo mais ou menos os passos. As cores, a cor azul atrás, os quadrados e as roupas coloridas, são idéias nossas. Tanto que personificou. Depois disso, a Dança do Quadrado se tornou a dança com três pessoas, de roupas coloridas de ginástica.

Vocês utilizaram três estereótipos muito bem definidos: um gordinho, um muito magro e um anão. Como surgiu essa idéia?

Somos oito pessoas. Quando mandaram a idéia, já falaram que eu tinha que estar no vídeo. Então eu fiz uma amostra e o Antonio não gostou. Era eu, outro magro e o gordo. Ele perguntou se não tinha como arrumar um mais magro. Daí eu disse que sim, e coloquei um mais magro, o gordinho e eu. Aí mudamos algumas cores e fizemos. O Tabet disse que estava dez e ficou assim. A gente terminou de gravar no dia 28 de março, e no dia 29, que era um sábado, nós mandamos para ele. Bem no dia 29, a Sharon (cantora original da música) apareceu pela primeira vez no Caldeirão do Huck. Logo depois que ela saiu, entrou no ar o vídeo no Kibe Loco, e foi um "bum" de acessos. No dia, foi o vídeo mais visto no mundo, com 88 mil acessos em dois dias. A partir disso foi crescendo.

Vocês receberam algum tipo de retorno financeiro pelo trabalho?

Não. A parceria é que o Kibe Loco divulga a gente. Esse foi o primeiro vídeo, e promete muito. Os dançarinos vão voltar, os três, já que agora virou um personagem mesmo. A gente foi chamado para fazer um comercial em São Paulo. Não esperávamos esses 11 milhões de visitas.

É um papel visto um tanto quanto ridículo.

É ridículo, mas ao mesmo tempo é amado. A pessoa que diz que é ridículo, ela adora. Esses dias a gente fez uma festa e colocamos no cartaz que seria nossa única apresentação pública. E a festa lotou. A gente está fazendo uma participação dentro da "Casa do Terror 2", e quando a gente entra é uma loucura. Como os Menudos quando entravam (risos). É aquela gritaria, uma loucura.

E você não sente nenhum problema em ser conhecido como o anão da dança do quadrado?

Não. Por mais que seja uma coisa que quase chega no vulgar, ao mesmo tempo é uma coisa legal. Eu tento ser o mais certinho dos dois, os outros são descoordenados. Nós somos descoordenados. Tinha que ser daquele jeito. E pela primeira vez, um webhit foi criado para isso, pois todos os outros são acidentes. É uma entrevista, um flagra. O nosso foi produzido para isso. O Mama Jojo, por exemplo, gasta em torno de R$ 100 para fazer um vídeo. Nesse, nós gastamos R$ 500. É a nossa superprodução.

Como é feita a produção?

As câmeras a gente tem. São câmaras MiniDV. A gente alugou o estúdio e compramos as roupas. Foi em uma loja bem cara em um Shopping, da melhor qualidade.

Por que foi escolhida uma roupa daquele jeito?

A princípio, era para ser em uma academia. Mas aí perder em qualidade, em luz, teria que fazer locação externa, então a gente resolveu fazer em estúdio. Uma coisa focada só na gente.

Vocês são todos de Curitiba?

Sim, são todos daqui.

Você trabalha com o quê?

Sou ator de teatro, já fiz participação na Rede Globo na minissérie "O Sistema". Vou estrear na RPC na minissérie "Três Feras e uma Bela". Faço teatro há 14 anos e o grupo existe há um ano.

O fato de ser anão ajuda a ser o mais coordenado do grupo?

Ajuda por eu sempre estar fazendo coreografias e coisas relacionadas a teatro. O Amaral, por exemplo, a gente colocou até óculos nele e falamos "pira!".

A cantora da "Dança do Quadrado" registrou a música logo que começou a despontar, e está recebendo um retorno financeiro grande por conta disso. Vocês são tão populares quanto, mas não recebem esse retorno direto. Você vê algum problema nisso?

Não. Sendo bem seco, nós não estamos "nem aí" para a música.

O vídeo foi indicado na categoria Webhit do Ano no Video Music Brasil da MTV. Vocês vão participar da premiação?

Sim, vamos estar lá nessa quinta-feira.

E o que você achou da indicação?

Eu sou o mais sonhador de todos. Quando a gente gravou e começou a fazer sucesso, eu falei que a gente ia ganhar o prêmio da MTV. Mas os caras falaram que a gente não ia nem ser indicado. Quando eu soube que nós fomos, não foi tanta surpresa para mim.

Você acha que tem chance frente aos outros concorrentes?

O nosso maior concorrente são as meninas do Inri Cristo. O vídeo ganhou uma simpatia, e os jovens gostam muito. Apareceram no Pânico na TV, e estão sempre fazendo campanha para eles. Mas o legal é que para o nosso lado tem as crianças e os jovens de 13 a 16 anos, que gostam mais da gente. E a "Dança do Quadrado" é a mais conhecida. Talvez o Créu, mas o Créu já passou o momento dele.

Você disse que vão aparecer outros vídeos em parceria com o Kibe Loco. Você já está trabalhando em algum?

Nós temos dois estilos de parceria que podem acontecer. Ou nós fazemos, bolamos e compram a nossa idéia, ou trazem a idéia para a gente criar. Nossos vídeos não primam pela qualidade total, mas sim pela imagem e por ser engraçado. Não trabalhamos com coisas apelativas. Nós tiramos sarro do trash, mas sem apelar muito. Mas temos umas idéias. A de fazer uma versão de uma música do New Kids on the Block, e tem um que é do grupo mesmo que é a Dança da Varejeira. Está no forno, assim como outro projeto da Mama Jojo.

Este é o segundo ano que a MTV faz o prêmio de Webhit do ano. Por que você acha que este tipo de vídeo está fazendo tanto sucesso hoje?

Antigamente, o que tinha de diversão? Quando você entrava na Internet, você tinha que baixar o vídeo, e a tecnologia para fazer era muito caro. Hoje em dia, eu posso fazer um vídeo no celular e colocar na Internet em seguida. Com isso, tem muita variedade. As pessoas acham legal e isso vai para outro, e outro, e todo mundo começa a ver. Hoje tem mais acesso, e cada um pode ver a hora que quer.