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Você nota uma despolitização da música brasileira contemporânea?

A música reflete seu tempo. Não estamos politizados de maneira geral. Há uma indignação que se manifesta nas redes sociais, mas que não toma as ruas, com raras exceções. Aqui em São Paulo, nas últimas eleições para prefeito, alguns artistas tomaram a praça Roosevelt num "evento cor de rosa" contra a candidatura de Celso Russomano – um político abertamente reacionário. Hoje a luta é pela liberdade, pelo comportamento, pela ética e esses temas estão nas canções, sim.

O rap se tornou mais popular, mas está menos confrontador. Por quê?

Quando os gêneros se misturam saem dos guetos. O samba sai do morro quando vira bossa nova, o rap sai da periferia quando vira canção. Um compositor que quer falar pra mais gente tem que ampliar seu leque. Criolo ganhou popularidade, mas seu discurso continua o mesmo. É um compositor engajado com as questões sociais e ainda canta a periferia mesmo quando faz canção.

Que artistas brasileiros falam de política hoje em suas músicas?

Quase todos, cada um a seu modo e nenhum de maneira contundente ou como temática única. Caetano acaba de lançar um CD e colocou uma música para Marighella. Karina Buhr fala da política e de incentivo cultural em "Ciranda da Cultura". Nando Reis usa o pré-sal pra falar de amor. Tom Zé sempre coloca política em seus trabalhos.

A temática das canções atuais está menos coletiva, mais individualizada?

Sim, concordo com isso. Estamos vivendo um tempo em que o coletivo se manifesta pelo computador. Um milhão de amigos numa rede social, mas nenhum para o final de semana. Como escrever sobre o coletivo se ele mal existe?

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