A participação do cineasta Nelson Pereira dos Santos na última mesa da noite de sexta-feira da Flip foi muito mais um bate-papo descontraído e informal do que propriamente uma discussão intelectual sobre sua obra.
O cineasta, que adaptou para a tela grande Vidas Secas e Memórias do Cárcere, baseados em obras de Graciliano Ramos, o grande homenageado da festa neste ano, contou histórias dos bastidores das filmagens. A conversa, que também contou com a participação da cantora Miúcha, com quem vem trabalhando em roteiros nos últimos anos, teve mediação do jornalista e produtor cultural Claudiney Ferreira.
Ao longo do debate, houve exibição de trechos de longas de Pereira dos Santos. De Vidas Secas, um dos maiores clássicos do Cinema Novo, foi mostrada a famosa e trágica a cena da morte da cachorra Baleia.
O diretor, hoje aos 84 anos, lembrou que o cão causou furor no Festival de Cannes em 1964. "Cheguei a ser acusado de ter assassinado o bicho de verdade. Uma condessa italiana ficou furiosa com o filme, disse que só povo subdesenvolvido, para fazer o filme, mata o animal." Para provar que o animal não havia sido morto, a companhia aérea Air France ofereceu uma passagem para o cão que "vivia a Baleia voar à França.
Instigado pelo mediador, Nelson Pereira contou por que não levou a cabo seu projeto de adaptar para o cinema o romance São Bernardo em 1984 ele filmaria Memórias do Cárcere, premiado em Cannes. O cineasta contou que foi o próprio Graciliano quem o dissuadiu de fazer o longa-metragem. No roteiro que escreveu, Pereira dos Santos queria dar um novo desfecho à personagem Madalena. No livro, ela se mata. Ao receber uma carta falando da proposta de mudança, o autor alagoano respondeu que aceitava, contanto que ficasse desligado da produção. Tudo bem, podem fazer, mas tira o meu nome dessa porcaria."
O escritor explicou que o suicídio de Madalena é a razão de ser do livro, o motivo que leva o narrador Paulo Honório, a contar a sua história.
São Bernardo seria adaptado mais tarde por Leon Hirszman, em 1971,
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