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Após o "namoro" com o mundo literário ter acabado em casamento com sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, Nelson Pereira dos Santos flerta agora com a música.

O cineasta está à frente do primeiro documentário sobre o maestro Antônio Carlos Jobim, ainda em fase de pesquisa e captação de recursos para cobrir os custos calculados em R$ 4 milhões. Serão, na verdade, dois filmes realizados nos moldes do trabalho documental anterior de Nelson sobre a vida do escritor Sérgio Buarque de Hollanda (2004).

O primeiro filme é baseado no livro "Antonio Carlos Jobim, um homem iluminado", de Helena Jobim, irmã de Tom, e incluirá imagens atuais feitas em Nova York e Los Angeles, onde o maestro passou parte de sua vida.

- Será um retrato afetivo de Tom, com depoimentos de amigos e familiares, imagens de arquivo para mostrar quem ele era, o que ele falava e por onde andava - conta Nelson, convidado pelo documentarista Marco Altberg para dirigir o projeto acalentado antes mesmo da morte de Jobim, em 1994.

O segundo filme será musical com apenas um texto por famoso escritor ainda não escolhido. A cidade de Rio de Janeiro, as mulheres e a natureza servirão como cortes temáticos.

De passagem pelo 10º Festival de Cinema Brasileiro de Miami, onde foi homenageado pelo conjunto de sua obra esta semana, Nelson aproveitou para encontrar-se com produtores americanos interessados no projeto. A intenção é lançar quase simultaneamente o documentário - ainda sem título - em cinemas, TV a cabo e DVD.

O roteiro acaba de ser escrito em parceira com a cantora Miúcha. A dupla foi responsável pelo documentário "Raízes do Brasil, uma cinebiografia de Sérgio Buarque de Hollanda", lançado em 2004 e também dividido em duas partes. O curioso é que este não foi o primeiro trabalho de Nelson e da irmã de Chico Buarque. Os dois escreveram um longa-metragem de ficção nunca tirado do papel. O "não-filme" era inspirado no antológico show do Canecão em 1978 com Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Miúcha e Toquinho.

- O título era algo como "O circo que voava" e na época nem existia o Circo Voador (templo sagrado para o rock e inaugurado no início dos anos 80 no Arpoador) - conta Nelson, explicando a relação do show com um roteiro de ficção. - A idéia era usar o clima daquele show libertário e sentimental.

Enquanto não há a possibilidade de tirar o projeto inusitado da gaveta, Nelson vai garimpando imagens de arquivo do músico, catalogadas e guardadas com carinho pelos familiares através do Instituto Tom Jobim. O cineasta sabe o desafio a enfrentar pela frente na busca de meios para surpreender e emocionar o público com o que ainda pode haver de desconhecido sobre o maestro.

- Espero que papai do céu me ajude - diz ele cruzando os dedos para ter sorte. - E, depois da categoria do documentário "Vinicius" (de Miguel Faria Jr, 2005), temos um desafio enorme.

Mesmo com um arquivo riquíssimo de imagens, Nelson Pereira dos Santos lamenta ter perdido o único trabalho seu realizado com o maestro. É dele a série da TV Manchete, de 1984, chamada "A música segundo Tom Jobim". O material original desapareceu, para tristeza do diretor.

- Era Tom tocando piano na casa dele, com Danilo Caymmi na flauta e Dori (Caymmi) no violão. Eles recebiam músicos que contavam histórias e a origem de gêneros da MPB. Começava com Tom abrindo os braços enquanto um urubu voava. Tom tinha essa fixação por urubus… Um pena eu não ter feito cópias, mas não tinha como armazenar o material. Quem iria imaginar que a TV Manchete também acabasse assim.

Ainda com a capacidade de se emocionar com homenagens aos 77 anos - como a recebida no Festival de Miami na última quarta-feira, Nelson prepara o coração para tomar posse na ABL em17 de julho. A data escolhida pelo próprio cineasta não tem nenhuma relação com seu novo projeto para o cinema.

- É por causa da Copa do Mundo e pelo mês com a temperatura mais baixa para vestir aquele fardão.

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