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Visita do papa Francisco ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em julho do ano passado | Stefano Rellandini/Reuters
Visita do papa Francisco ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em julho do ano passado| Foto: Stefano Rellandini/Reuters

Livro

Aparecida: Devoção Mariana e a Imagem da Padroeira do Brasil

José Cordeiro, João Rangel e Denilson Luis. Cultor de Livros, 256 págs., R$ 48. À venda pela internet, nos sites www.cultordelivros.com.br ou www.livrarialoyola.com.br.

Nos meios religiosos, já se escreveu tanto sobre Nossa Senhora Aparecida que um leitor desavisado pode acabar colocando a obra do jornalista José Cordeiro junto de outros livros de devoção mariana. No entanto, Aparecida: Devoção Mariana e a Imagem da Padroeira do Brasil não é mais uma expressão da catolicidade popular, mas sim uma obra de investigação documental, útil para estudiosos da religião e historiadores e interessante a todo curioso pelo tema.

Cordeiro atua como repórter fotográfico das festas de Aparecida desde 1990 e, conforme conta, a ideia do livro partiu do contato que teve com fotos históricas no acervo iconográfico do Santuário. Além disso, embora já tenha se escrito muito a respeito do templo e do culto à padroeira, ele constatou que o material disponível era bastante fragmentado.

O livro não deixa de contar a clássica história do encontro da imagem no Rio Paraíba por pescadores locais. Em 1717, depois de um péssimo dia de pescaria, a rede de um deles teria encontrado o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, toda negra, e sem a cabeça, que foi achada pouco depois em outro ponto do rio. Milagrosamente, o achado trouxe consigo peixes em quantidade o bastante para que os pescadores não dessem conta de capturá-los.

A versão popular, contudo, é enriquecida por detalhes provavelmente inéditos para muitos, como o fato de que a data do achado coincide com a passagem do governador de São Paulo pela região. A exigência de um grande banquete para receber a comitiva, por parte da Câmara de Guaratinguetá, ajuda a explicar a necessidade de tantos peixes. Esse cruzamento de informações, relacionando depoimentos, cartas e registros em livros tombo, dá o tom da obra.

Os autores não tiveram receio de entrar em questões políticas delicadas. O legítimo apelo dos fiéis para tornar Nossa Senhora, sob a invocação de Aparecida, a padroeira do Brasil é misturada aos anseios do governo Vargas em promover o nacionalismo. A história das peregrinações não deixa dúvidas quanto à espontaneidade da devoção, mas a visão dos autores sobre o contexto leva o leitor a ver o oportunismo de um governo que, mesmo sendo indiferente à fé, viu na figura da padroeira nacional uma poderosa arma contra os separatismos em voga, principalmente no estado de São Paulo.

Também estão no texto fatos dramáticos, como o incidente de 1978, quando um rapaz com problemas psiquiátricos quebrou o vidro de proteção e despedaçou a escultura original, causando comoção em todo o país. O trabalho de peritos renomados permitiu a restauração, e, embora aquele tenha sido o único atentado contra a imagem verdadeira de que se tem notícia, o livro resgata outras situações em que a intolerância religiosa motivou agressões violentas à devoção mariana. É o caso do episódio de 1995, quando o pastor Sérgio Von Helde proferiu pontapés contra uma réplica da imagem em rede nacional de tevê, sendo posteriormente indiciado por incitação ao preconceito religioso e vilipêndio de objeto de culto.

Consta ainda todo o relato da construção do santuário, a influência do povoado na definição das rodovias do estado, a evolução de capela a arquidiocese, a visita dos três últimos papas e dezenas de fotos históricas.

Para a produção da obra, Cordeiro contou com a colaboração do também jornalista e mestre em Integração da América Latina João Rangel e do professor de língua portuguesa e literatura Denilson Luis.

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