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Stefan Zweig foi a inspiração para compor Gustave H (Fiannes) | Divulgação
Stefan Zweig foi a inspiração para compor Gustave H (Fiannes)| Foto: Divulgação

Cinema

Confira informações deste e de outros filmes no Guia da Gazeta do Povo.

O diretor Wes Anderson é um fabulador pretensioso e radical, o que lhe garante fãs e detratores em porções significativas. Faz barulho desde pelo menos Os Excêntricos Tenenbaums (2001) e, com Moonrise Kingdom (2012), parecia ter atingido a medida perfeita: até quem costuma não tolerar seus maneirismos se entregou àquela aventura romântica doce e improvável. O que poderia vir depois?

Premiado neste ano no Festival de Berlim (com o grande prêmio do júri) O Grande Hotel Budapeste não chega a ser um projeto maior do cineasta texano, mas prova o prestígio que ele alcançou aos 45 anos: mesmo com orçamento modesto (US$ 31 milhões), o filme reúne, em seu elenco, uma das maiores constelações vistas recentemente em Hollywood (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).

A figura central da trama é Gustave H. (Ralph Fiennes), concierge de um afamado hotel europeu do período entreguerras. Um homem do passado, polido e altivo, que Anderson compôs inspirado em Stefan Zweig (1881-1942), autor judeu de origem austríaca que, com a ascensão do nazismo, refugiou-se no Brasil. Ele cometeu suicídio em Petrópolis (RJ), manifestando em uma carta de despedida sua desilusão com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na Europa.

Gustave tem esse desajuste em sua personalidade. Fiennes, em boa atuação, escancara cada evidência de seus conflitos, ao mesmo tempo em que se permite cacos que ressaltam o caráter fabular da história. Seu tempo de reação diante dos fatos, por exemplo, é sempre demorado, como se ele estivesse comentando a ação, fundamental para estabelecer o filme no registro cômico. Para embarcar na história, é necessário simpatizar com essa opção – e tolerar os excessos que emanam dela.

Intolerância

Cuidado, também, para não se perder. A trajetória de Gustave H. é narrada por um escritor (Tom Wilkinson). Só que, antes de voltar à década de 1930, ele retorna primeiro aos anos 1980 (quando é interpretado por Jude Law), para lembrar o momento em que se hospedou no hotel e conheceu seu proprietário, Mr. Moustafa (F. Murray Abraham). É pelo depoimento de Moustafa que ele toma contato com Gustave H.

Nos anos 1930, os dois (Gustave e Moustafa), eram respectivamente mestre e aprendiz. Não à toa, o pupilo que se transforma em herdeiro do estabelecimento é um imigrante de ascendência árabe que sobe na escala social superando percalços e perseguição: a intolerância, marcante no século passado, segue um tema importante hoje.

No fundo, Anderson está falando da passagem do tempo. Se Gustave faz um tipo que ficou para trás, Moustafa é alguém forjado pelo novo ambiente social. As inúmeras figuras que cruzam seu caminho, da milionária excêntrica (Tilda Swinton) ao capanga implacável (William Dafoe), passando pelo policial influente (Edward Norton), são agentes que ajudam a formatar esse novo ambiente – daí uma das justificativas para o uso de personagens estereotipados. Aqui vale a ressalva: é preciso tolerância para curtir a trama. Mas as questões levantadas, mais do que na maior parte dos trabalhos pregressos do diretor, fazem o filme valer a pena.

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